Você É o Meu Paraíso romance Capítulo 90

Elsa estremeceu na ponta dos dedos e, de repente, puxou a mão de volta.

Félix percebeu o calor sumir da palma num instante, e um vazio inexplicável tomou conta de seu peito.

Seu olhar profundo pousou inevitavelmente sobre a mão suspensa no ar.

A temperatura fresca e o toque suave de antes desapareceram.

Com os longos cílios tremendo brevemente, Félix escondeu o lampejo de escuridão que passou por seus olhos.

Mas aquele toque, há tanto tempo ausente, fez com que o coração adormecido voltasse a pulsar.

Ele deixou a mão cair ao lado da perna, mas os dedos se fecharam e esfregaram levemente, como se tentassem capturar algo.

A temperatura do hotel parecia aumentar.

Elsa sentia todo o calor subir para cima do pescoço, deixando sua cabeça zonza e leve.

Mas, ao deslizar o olhar para Alice, tudo se dissipou em clareza imediata.

O silêncio voltou entre eles, e apenas os sons suaves dos dois cuidando de Alice — limpando o corpo da menina e trocando sua fralda — preenchiam o quarto.

Instaurou-se uma paz estranha.

Aos poucos, o rosto de Alice ganhou cor, sinalizando que a diarreia parecia ter dado uma trégua.

Depois de trocar mais uma vez a fralda de Alice, Elsa finalmente sentiu o alívio, e, exausta, desabou sentada no tapete.

Félix, com os lábios cerrados, não pôde evitar de olhar para a mãe e filha ao lado.

De onde estava, via apenas o perfil inclinado de Elsa, com alguns fios de cabelo caindo desordenados pela testa.

Mesmo sob o véu dos cabelos, ele enxergava claramente aqueles olhos repletos de ternura.

Um ano se passara, e, ainda assim, ela parecia um pouco diferente.

Ela sempre fora gentil, mas, antes, seu jeito submisso beirava a monotonia. Agora, sua delicadeza era como uma mão de jade: capaz de suportar com firmeza e acariciar com amor.

Alice já estava com os olhos abertos. Embora ainda fraca, conseguiu lançar a Elsa um olhar doce e curvado.

Ao ver o jeito compreensivo da filha, Elsa não pôde evitar o temor ao lembrar do que acabara de acontecer. Aproximou-se mais de Alice, embalando-a com palavras suaves.

A voz da mulher era terna, com um toque mágico de tranquilidade.

O coração solitário de Félix pareceu vibrar, o olhar atraído involuntariamente pela figura à sua frente.

Eles ainda eram legalmente casados, mas ela, diante dele, embalava uma criança talvez sem nenhum laço com ele.

Deveria sentir-se insatisfeito, até irritado, mas, vendo aquela cena, uma estranha satisfação o preenchia por inteiro.

Por um instante, achou que continuar assim talvez não fosse tão ruim.

Félix assustou-se com esse pensamento.

"Cavalinho..."

A criança balbuciou, recuperando o movimento das mãos, que agitava no ar.

Talvez pela presença do homem desconhecido, seus olhos negros, inocentes e brilhantes, fixaram-se em Félix com curiosidade.

Quão límpidos eram aqueles olhos?

Nem a melhor obsidiana que já vira poderia se comparar.

O coração de Félix pulou, sentiu como se o tempo tivesse parado naquele instante.

Por quê? Todos diziam que aquela criança não era dele, ele mesmo sabia que não era possível, mas... por que ela se parecia tanto com ele?

"Obrigada por hoje, mas já está ficando tarde."

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