O Egípcio romance Capítulo 31

Meu nome pronunciado com um forte sotaque soa para mim de forma muito agradável… Hassan então sorri e toma minha boca com paixão. Eu o beijo sem ressalvas e me entrego toda no beijo.

Sem medos, sem pudores, sem receios, sem temores.

Hassan

Eu não disse nada da minha vida e nem expliquei por que sempre me mantive distante de relacionamentos. E nem o porquê eu nunca levei muito a sério as mulheres que não fossem da minha cultura. Simplesmente porque não gosto de revisitar meu passado. Dizer que caí em depressão profunda e fiquei trancado em uma sala escura vivendo de poeira e água da chuva.

Trágico, não?

Pois é!

Puxo Karina em um abraço e a beijo como se nunca mais fosse soltá-la.

O importante dessa relação é ela saber que eu a levarei a sério. Que ela não será esquecida, pois ela já tem um lugar na minha alma como uma estrela tem seu lugar no céu.

Nos afastamos, e eu passo os olhos pelo seu rosto.

Minha linda Karina, ela é uma flor no meu deserto, linda e delicada, e tem a capacidade de esvanecer a amargura da minha alma, a qual sempre carreguei dentro de mim…

Outra vez sinto aquela falta de ar e aquele sentimento além do desejo… uma posse louca. Agora compreendo o ciúme clássico do homem árabe e essa vontade insana de escondê-la de todos os olhares masculinos.

No começo, me perturbou ter minhas emoções lidas com tamanha felicidade quando pela primeira vez nossos olhos se encontraram. Mas fora a primeira vez na vida que tal coisa me acontecera. E não foi nada semelhante ao que vivi com as mulheres ao longo dos meus anos, nem mesmo as paixões de jovem. Foi como se o rosto de Karina fosse tatuado no meu cérebro, e eu soube que esse rosto me perseguiria a memória todos os dias de minha vida se eu não a possuísse… Tudo o mais se tornou tão sem importância…

Allah! Não posso perder Karina por causa dessa vingança sórdida.

Não é só luxúria que eu sinto por essa mulher. É algo novo, frenético, um sentimento que vem do fundo do meu peito, tão sentido, iluminado.

Sei que ela banirá minhas trevas. Que cada lugar feio e solitário dentro de mim será preenchido por ela.

A humilhação, a dor e noites insones em que chorei desejando me vingar de Helena foram se tornando secundárias na minha vida e aos poucos a vingança foi perdendo o sentido.

Hoje a promessa de nunca me ligar a alguém caiu por terra, como se evaporasse diante desse novo sentimento criado dentro de mim e que ainda estou engatinhando para entender. As horas de raiva em que maquinei minha vingança são como se nunca houvessem existido.

Quando nos afastamos, estremeço de frio, mas não me importo. Estou me sentindo tão leve… tão feliz. Respiro o ar que sai da boca de Karina quando as nossas testas se encostam, e sorrimos.

Karina

A pele de Hassan está pegando fogo. Ele está febril.

— Hassan, acho que você está com febre. Coloque seu casaco.

Eu o retiro do meu corpo e passo para Hassan. Ele o veste com minha ajuda, e assim mesmo encontra dificuldade por causa do ombro ferido, e só do movimento de vestir o casaco sua pele sangra. Hassan pega a camisa, que está em um canto do sofá, e pressiona novamente no ombro.

Geme de dor.

— Deite-se agora. E descanse.

Hassan assente e se deita, coloca a cabeça no meu colo.

Deus! Ele está tão quente…

— Por que está com essa carinha brava? — ele me pergunta, com sotaque carregado.

— Não é braveza. Eu estou preocupada.

— Não se preocupe, eles estão ocupados com a polícia agora, não vão nem se lembrar de nós.

— Não é isso que me preocupa. Estou preocupada com sua febre.

Hassan me olha com os olhos cheios de amor.

— Ah, é isso… Não se preocupe, tudo ficará bem.

Eu assinto. Mas Hassan não fecha os olhos como eu achei que ele faria, ele fica com o olhar parado, pensativo, parece preocupado.

— O que foi?

Seus olhos negros piscam e procuram os meus.

— Agora que resolvemos tudo entre nós, comecei a pensar no que ocorreu… — Hassan diz, ainda pensativo.

— E? — pergunto, pois ele parece olhar através de mim e se demora em completar seu raciocínio.

Os olhos dele ficam vivos nos meus novamente.

— Eu reforcei o número de seguranças, tivemos o cuidado de colocar detector de metais, fora os convites personalizados, e mesmo assim esses hamagi, hayawaan — “incivilizados”, “animais” — conseguiram entrar. Alguém do hotel armou tudo com eles. Não tem outra explicação.

— Cabe a polícia investigar agora. Isso não é tarefa para você.

Hassan solta um suspiro.

— Allah! — Hassan se senta com dificuldade e coloca as duas mãos no rosto. — E essas pessoas estão ali, sofrendo nas mãos desses nassaab — “vigaristas” —, fora as mortes, e eu aqui!

Eu solto o ar com angústia.

— Hassan, pare com isso. Sei que estamos aqui porque você quis me proteger; você fez isso por mim. Sua preocupação o tempo todo foi comigo, não foi? Tenho certeza de que você não os teria deixado se eu não estivesse com você.

Hassan assente.

— Sim, é verdade…

— Se as pessoas te julgarem, paciência — eu digo, passando a mão no seu rosto com carinho.

Hassan segura a minha mão.

— Não me preocupo com isso. Se me julgarem, que se dane!

— Você está arrependido de estar aqui?

— Allah! Não! Você segura é o que importa.

— Quer que eu me sinta culpada, então?

Hassan fecha a cara.

— Não, é claro que não!

— Então pare de pensar nisso.

Hassan sorri e a severidade de seu rosto se esvai, e isso quase me faz sorrir.

— Você sempre tem uma resposta afiada para tudo.

— Não quero que se sinta culpado de nada, só isso. Deita, descansa agora.

Hassan parece não me ouvir.

— Allah! Dificilmente alguém se sentirá seguro em outro evento como esse — ele diz, pensativo, a tristeza está presente em seu rosto novamente. — Talvez se acharmos os culpados e eles forem presos, tudo volte a ser como antes.

— Verdade, as pessoas sempre se consolam quando veem tudo solucionado, elas querem que os culpados sejam presos e que eles paguem. Mas, Hassan, não pense em nada agora. Deite-se. Você está tão quente…

Ele me olha então, e seus olhos se tornam intensos.

— O que me consola é tudo ter colaborado para me unir a você.

Meu coração se agita, e eu sorrio para ele. Os barulhos se intensificam no salão, e eu me levanto do sofá. Coloco meu ouvido na parede. Hassan se levanta e se coloca ao meu lado.

— Nico, tem uma porta aqui, ela foi alvejada de balas — então a fechadura mexe e eles abrem um pouco, tentando abri-la. Hassan e eu a seguramos. — Ela está emperrada.

— Chamem os arrombadores.

— Hassan, acho que é a polícia.

Hassan grita:

— Hei. Quem está aí?

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio