Depois de um tempo, o homem grita do outro lado:
— Capitão Nicholas Marsh, departamento de polícia. E vocês, quem são? Se identifiquem!
— Sou Hassan Hajid Addull Ala e estou acompanhado por Karina Michael. Somos reféns.
— Se são reféns, abram a porta!
— Não! Quero que me passe sua identificação debaixo da porta. Como saberemos se o que diz é verdade?
Pouco tempo depois, por baixo da porta surge a identificação do policial. Eu me agacho e puxo com dificuldade, por causa do armário. Conferimos, e eu passo novamente a identificação por baixo da porta.
— Vou abrir a porta — Hassan avisa, com um grito.
Hassan se posiciona para empurrar o armário, e eu o ajudo.
— Allah!
Ele fica pálido com a dor no ombro. Fica de costas, então, e empurra o armário nessa posição. O armário se move aos poucos, e com muita dificuldade deixamos a porta livre.
Logo que a porta é liberada, o policial surge com a arma em punho.
— Mãos para o alto!
Nós assim o fizemos. Hassan não consegue erguer o braço machucado.
— Erga a sua mão!
— Ele não consegue, levou um tiro no ombro — digo, angustiada.
O policial se aproxima de Hassan e o revista, checando seu ombro. Pega a carteira dele e vê sua identificação.
— São os reféns que estavam desaparecidos — ele comunica aos outros. — Encontramos eles. E tragam uma maca, o refém está ferido.
Saímos para o salão, que agora está vazio. O corpo daquele homem ainda está estirando no chão. Hassan está pálido, mal se aguenta em pé. Eu o seguro pela cintura. Logo que a maca chega, Hassan é deitado nela.
Conforme a maca é empurrada pelos socorristas, eu caminho ao lado dele até a parte externa. Muitos fotógrafos, repórteres surgem, mas são barrados pelos policiais. Há muitas pessoas em volta, então vejo meus pais do outro lado do cordão de isolamento.
— Hassan, preciso falar com meus pais — digo para ele e lhe dou um beijo na testa.
— É claro, vai lá, habibi.
Eu encaro o enfermeiro:
— Só vou tranquilizar meus familiares e já volto. Eu quero acompanhá-lo até o hospital.
— Então rápido. Se não voltar a tempo de darmos os primeiros socorros, partiremos — o enfermeiro me avisa.
— Está certo.
Corro até o cordão de isolamento e passo por baixo dele. Abraço mamãe e depois meu pai. Vitor também está lá. Quando ele me vê, me abraça com força, como se nunca mais fosse me soltar, e depois me beija por todo o rosto.
— Karina, você me deixou louco de preocupação. Vimos tudo pela televisão — posso sentir seu rosto molhado pelas lágrimas.
Eu me afasto dele, os beijos pareciam não ter fim. Mas tudo bem, é desculpável, por sua preocupação comigo.
— Eu estou bem. Hassan levou um tiro. Só vim dizer isso, eu vou acompanhá-lo na ambulância.
— Filha, e você? Está bem?
— Sim — digo, louca para ir até Hassan.
— E esse sangue em você? — ela pergunta, aflita.
— Audrey, ela está bem — meu pai fala. — Não torne pior as coisas do que estão.
— É de Hassan — explico. — Bem, como viram, eu estou bem, vou até a ambulância. Vou ficar com Hassan.
— Ficar com esse homem a essa hora? — mamãe me questiona.
Vitor me olha, enfurecido.
— Esse idiota teve o que mereceu. Deve ser tão sovina, que não investiu em segurança.
Eu fuzilo Vitor com os olhos.
— Você não irá. Está tarde — meu pai diz. — Liga para Raissa e avisa ela.
— Pai, eu irei com ele e não vou discutir com você — digo, aflita. — Preciso ir. Eu devo isso a ele, se não fosse por ele eu não sei o que teria me acontecido.
— Você não vai, já disse que não.
Eu encaro meu pai por um momento e depois olho para a ambulância com a intenção de ir, mas o enfermeiro fecha as portas dela e logo eles partem.
— Droga, pai!
— Ele ficará bem — papai coloca um casaco sobre meus ombros e um de seus braços à minha volta. — Você está emotiva por tudo que aconteceu. Vamos para casa. Faremos um chocolate quente para você. Depois toma um banho e descansa. Amanhã você vai vê-lo.
Um policial se aproxima de mim.
— Preciso de seu depoimento, quero que me conte tudo que aconteceu.
— Tem que ser agora? — meu pai pergunta.
— Sim.
— Pai, eu estou bem. Vou falar com ele. Melhor é acabar logo com isso!
Solto o ar e me abaixo, passo pelo cordão de isolamento e sigo o policial até um banco em frente a um jardim. Ele então anota minha identidade, endereço e telefone. E pede para eu descrever com detalhes tudo que aconteceu. Eu faço isso, conto tudo que vi, como as ações se desenrolaram até a hora em que Hassan e eu saímos do salão para a sala. Conto então como nos protegemos dos bandidos.
Ele faz mais algumas perguntas, do tipo se eu percebi algo de estranho antes de tudo acontecer, e outras perguntas tentando solucionar o caso, mas eu digo que não reparei em nada, e infelizmente não pude ajudar muito.
O policial anota tudo e se levanta.
— Está certo, qualquer dúvida ligamos.
Eu assinto e caminho até minha família, que me olham impacientes, loucos para irem embora. Vejo então o chefe de polícia vindo em nossa direção.
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