Virgindade Leiloada romance Capítulo 27

Murilo

Após abrir a porta de sua casa, a Virgínia entrou, indicando então o interior da residência com visível contragosto, algo com o qual eu não me importei nenhum pouco, pois, ela gostando ou não, agora eu era parte da sua vida e iria lutar por meu espaço.

Olhei em volta, observando com atenção o interior da casa, que apesar de ser pequena, parecia ser bastante acolhedora e concluí que o ambiente era simples, mas bem confortável e organizado, indicando que tudo era bem cuidado por seus moradores.

— Mamãe! — Virgínia gritou, caminhando até o início de um corredor. — Mamãe!

Ela não me convidou a sentar ou qualquer outra coisa que a boa educação mandava, mas eu o fiz assim mesmo e aguardei, enquanto ela seguia pelo corredor, após não receber nenhum retorno aos seus chamados.

Continuei olhando em torno com atenção e notei um envelope ao lado do sofá, em uma mesinha de apoio e vi que o nome da Virgínia estava escrito de caneta, indicando que ela era o destinatário da mensagem.

— Meus pais realmente não estão em casa, o que é bem estranho, porque a mamãe não falou nada sobre sair hoje com o meu pai.

— Há um envelope para você aqui. — Indiquei o lugar em que a mensagem estava com um gesto.

Ela andou apressada para buscar o envelope e o abriu parecendo estar muito ansiosa e, após abrir o envelope e retirar de dentro uma folha pautada, logo ela estava lendo as primeiras palavras do que estava escrito.

Apenas alguns segundos depois, eu já notei que os seus olhos ficaram marejados pelo que deveriam ser lágrimas não derramadas e decidi intervir.

— Aconteceu algo grave? — Perguntei, levantando do sofá e caminhando até onde ela estava, de pé.

Ela não respondeu, apenas amassou o papel em sua mão, jogando-o no chão e, para minha total consternação, desatando a chorar logo em seguida.

— O que aconteceu, Virgínia? Conta! — Perguntei mais uma vez, me sentindo muito preocupado.

Como ela não parava de chorar e já estava até mesmo tremendo, temi que acabasse por ter mais uma queda de pressão e acabasse por ser necessário voltar ao hospital, então a abracei forte.

Com ela em meus braços, resolvi então que o melhor era aguardar pelo momento em que ela conseguisse parar de chorar e fiquei tentando a consolar, mesmo sem ter a mínima ideia do que tinha acontecido.

— Não fica assim, meu amor. — Eu disse, tentando acalmá-la e acariciando as suas costas com cuidado. — Seja o que for que estiver escrito aí nesse papel, eu vou te ajudar. Ficarei sempre do seu lado, Virgínia.

Ela não respondeu e somente após se passarem alguns minutos, foi que o seu choro começou a cessar, restando apenas os soluços copiosos.

— Eu não consigo acreditar, Murilo. — Ela começou a repetir, de modo incompreensível. — Eles não podem ter feito isso comigo!

— Antes de qualquer coisa, você deve se acalmar, Virgínia. — Falei, me afastando um pouco dela e a encarando de modo que ela prestasse bastante atenção em minhas palavras. — Ficar nesse estado não fará bem a você.

Ela me olhou com irritação, se desvencilhando dos meus braços e se afastando alguns passos de mim.

— Enquanto eu estou vivendo o pior momento da minha vida, você só está preocupado com o seu filho! — Ela disse aquilo com raiva e o dedo em riste apontando para mim. — Seu… seu… idiota!

Ela pareceu procurar a palavra para usar contra mim e eu fiquei aliviado que ela não tenha chegado tão longe na sua escolha para me ofender, pois eu não tinha certeza se receberia seu rompante de forma tão tranquila, como ainda estava me sentindo.

— Estou preocupado com o nosso filho sim e não vou negar isso. — Eu confessei. — Mas também estou preocupado com você, Virgínia. E eu não estou querendo te agradar ao dizer isso. Estou falando a mais pura verdade.

Ela caminhou até o sofá e sentou, tremendo, notavelmente nervosa e decidi que aquele não era o momento para bater de frente com a mãe do meu filho e suspirei, tentando manter o controle, que estava por um fio.

O fato é que a Virgínia lutava contra mim em todos os momentos e estava se tornando muito difícil manter a paciência e simplesmente esperar que ela entendesse que, para tudo o que ela precisasse, eu estava ao seu lado e não contra ela.

— O que aconteceu? — Perguntei mais uma vez, em um tom delicado.

Eu sabia que as mulheres quando estavam grávidas ficavam mais sensíveis e que as coisas tendiam a tomar uma proporção bem maior, quando se estava nesse estado.

— Meus pais me abandonaram. Foi isso que aconteceu! — Ela disse, já perdendo o controle novamente.

— Você tem quantos anos, Virgínia? — Perguntei.

— Vou completar vinte e dois anos no domingo. — Ela falou, com visível contragosto, fazendo um gesto de pouco caso. — Eu sei o que você quer dizer, não precisa jogar na minha cara isso.

— Então, se sabe que já tem idade suficiente para viver por conta própria, me explica melhor a situação. — Falei, sentando ao seu lado. — Você tem todo o meu apoio, mas eu preciso saber o que está se passando.

Queria que ela conversasse comigo e eu iria tentar entender o motivo de todo o seu desespero, por que era exatamente essa a palavra que descreve melhor o sentimento que a Virgínia parecia estar sentindo desde que leu a carta que, pelo que estava conseguindo entender, os seus pais haviam deixado para ela.

Ela então me contou que, ao descobrir a sua gravidez, contou logo para os seus pais e que a mãe a apoiou, mas o pai, esse não tinha gostado nada de saber que a filha estava grávida, sem estar casada, ou no mínimo namorando.

— Ele estava te ignorando, desde que você contou sobre a gravidez? — Eu perguntei, com espanto.

— Eu fingia que estava tudo bem, como sempre foi, mas ele realmente estava fazendo isso, me ignorando. — Ela disse, parecendo constrangida com a situação.

— E a sua mãe, o que dizia?

— Tanto eu, quanto a minha mãe, tínhamos esperança de que logo ele iria mudar seu comportamento e esquecer essa raiva. — Ela falou, parecendo muito triste e me deixando chateado com o seu pai por deixar a filha daquele jeito.

— E hoje você tem essa surpresa. — Apontei o óbvio. — Não desconfiava que isso poderia acontecer?

— Jamais passou pela minha cabeça que os meus pais pudessem simplesmente ir embora, morar no interior, apenas para ficar longe de mim.

— Você tem o seu trabalho e tem a sua casa, Virgínia. — Eu falei, tentando animá-la. — Tem a Mariana, que parece ser uma amiga de verdade e eu acredito que você pode contar com ela, para todos os momentos.

— Eu não trabalho naquela loja, Murilo. Ela é minha e da Mariana, nós somos sócias.

— Isso é ainda melhor. Você tem seu próprio negócio, Virgínia. É uma empreendedora.

Fiquei realmente feliz em saber que ela havia investido em algo sólido e que, pelo que pude observar, na minha rápida passagem pela loja, era algo que tinha bastante potencial.

— Sobre a loja, sim. — Ela concordou. — Mas sobre a casa, você também está errado. A casa não é minha, e sim dos meus pais. Eles irão vender, para poder comprar uma em Atibaia.

— Você disse que eles estão com sua tia. Pensei então que…

— A minha mãe falou que tentou fazer meu pai mudar de ideia sobre isso, pois poderiam simplesmente morar com a tia Carmem, visto que ela mora sozinha e não tem filhos. Mas o meu pai disse que a casa é dele e que eu não mereço ficar com o fruto de anos do seu trabalho suado.

Ela voltou a chorar, provavelmente pela dureza de tais palavras vindas das pessoas mais importantes da sua vida e eu a abracei novamente, pois, naquele momento, tudo o que ela estava precisando era de apoio.

Mas, quando ela conseguisse se acalmar de fato, seria absolutamente necessário falarmos sobre outros assuntos, como decisões importantes, pois era chegado o momento em que ela precisaria aceitar aquilo que eu tinha para oferecer.

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