Virgindade Leiloada romance Capítulo 28

Virgínia

Eu não conseguia descrever o que estava sentindo naquele momento, nem que isso dependesse a minha própria vida.

Eram tantas emoções dentro do meu peito, que eu não sabia definir o que estava predominando, pois nem mesmo conseguia reconhecer a maioria delas.

Como os meus pais poderiam ter simplesmente me deixado para trás, justamente quando eu mais precisava do apoio das pessoas que eu mais amava nesse mundo?

Nem mesmo quando decidi que iria vender a minha virgindade para conseguir o dinheiro necessário para oferecer uma vida melhor aos meus pais, nem mesmo naquele dia, eu senti meu coração bater descompassado como estava acontecendo agora.

Ainda hoje, antes de sair de casa, a minha mãe estava ao meu lado, me apoiando. Fez chá de camomila com algumas bolachas de água e sal, na tentativa de que eu pudesse me sentir melhor!

Eu sabia que o meu pai estava me tratando com indiferença e que ele não parecia nenhum pouco disposto a mudar de ideia sobre a minha gravidez "independente".

Mas eu pensei sinceramente que as coisas iriam mudar, pois estávamos em pleno século vinte e um. Não era o fim do mundo que uma mulher, maior de idade e dona do próprio nariz engravidasse e optasse por ser mãe solo.

Olhei para o Murilo, que estava ao meu lado naquele momento, tentando a todo custo fazer com que eu me sentisse melhor.

Ele sempre teve uma atitude protetora, desde o primeiro momento em que esteve comigo, naquele quarto da boate Season Hot e ele se ofereceu para me dar o dinheiro do leilão, sem que eu precisasse me entregar para ele.

Pensei na ironia de ter a minha família me renegando quando eu mais necessitava do carinho deles, enquanto para aquele homem, eu precisei apenas dizer que estava grávida e ele me apoiou de maneira incondicional, sem julgamentos ou acusações.

O que seria totalmente compreensível, tendo em vista a forma como nos conhecemos e o motivo que nos levou a ficarmos um com o outro.

Mas era tão difícil confiar em um homem que ia à boates, apenas com a intenção de arrematar virgens em leilões clandestinos, que eu não poderia ser julgada por temer uma aproximação maior com ele.

Quem me garantia que ele não tinha feito aquilo antes, ou até mesmo que não continuava a frequentar o clube, esperando encontrar outra garota de seu interesse e arrematar novamente?

Dinheiro para fazer isso, eu sabia que ele possuía, e em grande escala. Era um empresário poderoso, sócio de uma empresa milionária, sem falar em sua fortuna pessoal, herança de família.

Em que confusão eu fui me meter, pensei com desgosto.

— Sente-se melhor? — Ele perguntou, após vários minutos em que eu chorei de maneira descontrolada.

— Sim. — Foi tudo o que consegui falar.

— Entendo que esteja se sentindo abandonada, Virgínia. Mas, eu quero deixar muito claro que você não está sozinha.

Murilo falava me encarando diretamente em meus olhos e passando uma mensagem ainda mais importante que suas próprias palavras: ele estava falando a verdade.

Eu sentia realmente que as suas palavras não eram ditas apenas como uma forma de me consolar e que ele realmente estava sendo sincero ao proferi-las.

Mas, a lembrança dele com a Lavínia na boate e novamente hoje, na minha loja, machucava muito.

Não adiantava mentir para mim mesma, quando a verdade estava estampada em meu coração. Eu gostei do Murilo desde o primeiro minuto em que o vi levantar o braço e entrar em uma disputa para dar o maior lance por mim, na boate.

Olhei com atenção para aquele homem lindo e gentil, atencioso e tantas outras coisas positivas e me senti uma bruxa malvada.

Mas eu não acreditava em príncipes e ele já mostrou que não era nenhum santo, quando agiu daquela forma na casa noturna e transou com a Lavínia de maneira tão pública, digamos assim.

— O que você estava fazendo com a Lavínia Moura na minha loja, hoje à tarde? — Perguntei diretamente.

Era necessário esclarecer as coisas e, se ele realmente queria estar ao meu lado, ele precisava me deixar segura o suficiente para isso.

— Eu não fui ao shopping com a Lavínia, como deve ter parecido. Eu fui me encontrar com a minha irmã, Ártemis, e a Lavínia estava com ela, mas eu não sabia desse detalhe. — Ele explicou.

— Mas a sua irmã não estava com vocês na loja.

— Pelo que pude entender, você e o Aquiles fazem aniversário no mesmo dia. — Ele disse, me deixando confusa.

— Quem é Aquiles?

— Desculpa, esqueci que você não o conhece… ainda. — Entendi a sua intenção ao falar que eu "ainda" não conhecia. — Ele é meu primo, irmão de Ártemis e namorado da Lavínia.

A explicação do Murilo ficava mais confusa a cada palavra que ele dizia e cheguei a pensar que ele estava inventando aquela história toda.

— Você falou que Ártemis é sua irmã e Aquiles é o seu primo, mas também é irmão da Ártemis. Isso não faz o menor sentido!

Ele levou a mão à testa, esfregando como se estivesse sentindo alguma dor naquela área.

— Eu realmente falei bobagem. — Ele confirmou. — Mas tudo o que eu estou falando, é bem fácil de confirmar. É só você aceitar conhecer a minha família e tudo ficará bem claro.

Eu não tinha o menor desejo de conhecer uma família de milionários e provavelmente esnobes. O fato de a irmã, ou seja lá o que a tal Ártemis seja do Murilo, ser amiga da Lavínia, diz muito sobre ela e eu não pretendia me colocar em uma situação de desvantagem, onde eu pudesse sofrer alguma espécie de discriminação.

— O fato é que a Lavínia pediu a minha ajuda para escolher um presente para o meu primo e disse que conhecia uma loja que tinha muitas opções interessantes. Esse foi o motivo que me levou a sua loja em companhia da Lavínia.

Eu arqueei a sobrancelha, decidindo ainda se devia, ou não, acreditar naquilo que ele estava me contando, mas era tão difícil confiar em um estranho, pois era aquilo que nós éramos um para o outro, dois estranhos.

— Você não acredita em mim, não é?

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