Dizendo isso, Sandro se virou e caminhou para dentro do escritório de advocacia sem olhar para trás.
— Ótimo, então vou me encarregar disso. — Murmurou Martia, sorrindo satisfeita.
Afinal, a herdeira da família Neves, tão cobiçada e ainda solteira, talvez estivesse esperando o seu filho esse tempo todo.
...
Lara, sem coragem de dizer uma palavra, seguiu os passos de Isabela em silêncio. A filha puxava ela para longe, sem destino certo, caminhando rápido pelas calçadas e atravessando ruas como se o movimento pudesse diminuir a dor que ainda parecia sufocar ela. Em determinado momento, Lara sentiu necessidade de interromper aquele silêncio e puxou suavemente a manga da blusa de Isabela.
— Isa. — Chamou com cautela.
— O que foi, mãe?! — A voz de Isabela veio carregada de mágoa e exaustão.
Lara se assustou com a reação da filha, mas, ao mesmo tempo, parecia finalmente entender. A situação da filha naquela casa rica e arrogante não era fácil. Agora ela via com clareza a quantidade de humilhações e desaforos que Isabela havia enfrentado durante todos aqueles anos.
Ela suspirou profundamente.
— É... Talvez esse seja nosso destino, minha filha. Vivemos uma vida modesta e o que se há de fazer? Se é para ser assim, que seja. Já não vou mais insistir para que você lute por esse casamento, não quero mais que sofra por isso.
Ao ouvir aquelas palavras, Isabela parou de andar abruptamente e se voltou para a mãe, surpresa.
Lara suspirou e, com o olhar perdido, disse em voz baixa:
— É culpa minha, Isa... Eu que me deixei deslumbrar por uma vida que não era nossa. Não pensei nas consequências...
— Mãe. — Murmurou Isabela, abraçando a mãe com força, como se esse gesto pudesse dissipar todos os anos de sacrifício e desilusão.
Finalmente, sua resistência emocional cedeu, e lágrimas silenciosas começaram a rolar por seu rosto.
— Minha filha, que sofrimento você passou. — Disse Lara, acariciando as costas da filha em um consolo silencioso. — Mas não precisa se preocupar conosco. Eu e seu pai somos fortes. Daremos um jeito. Podemos nos sustentar.
Isabela enxugou as lágrimas e olhou a mãe com firmeza.
— Mãe, você e o pai não precisam mais se preocupar em trabalhar para se sustentar. Eu tenho dinheiro suficiente para garantir o futuro de vocês. O que eu mais quero é que aproveitem a vida e que tenham saúde, só isso.
— Tá bom, minha filha... — Lara assentiu, emocionada.
Isabela respirou fundo antes de continuar:
— E, por favor, seja mais gentil com o pai. Ele também já passou por muito, sempre escutando a avó me criticar por ser mulher, sempre resistindo à pressão para se separar de você por não ter um filho homem. Mas ele nunca te julgou por isso e nunca me desprezou. Ele ama a nossa família. Só que quando você fica jogando na cara dele que ele não é bom o suficiente, isso o machuca.
Lara abaixou a cabeça, como se sentisse o peso de todas as palavras que ouviu.
Jorge estava prestes a sair do escritório quando a viu, ainda com o rosto corado pelo esforço e os olhos visivelmente vermelhos.
— Caiu areia nos olhos de novo, foi? — Comentou ele, arqueando uma sobrancelha.
Desta vez, Isabela não escondeu o que sentia, se limitando a acenar com a cabeça.
— E com essa capacidade de suportar pressão, como espera se tornar uma grande advogada, daquelas que enfrentam tudo sozinhas? — Provocou Jorge, em um tom que, apesar das palavras, soava mais acolhedor do que severo.
Isabela respirou fundo e respondeu:
— Vou me esforçar para ser mais forte.
Ele encarou ela e perguntou:
— Tem certeza disso?
Ela assentiu com determinação, os olhos firmes e seguros.
— Tenho.
Um leve sorriso se formou nos lábios de Jorge antes de ele sair, mas logo ele voltou ao semblante sério, escondendo qualquer sinal de afeto.

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