André também já tinha chegado na idade de aposentadoria, mas ele andava ganhando bastante visibilidade graças ao destaque que Sandro conquistou na área.
— Eu fui injusta com o professor Davi... — Disse Isabela, desviando o olhar para a janela, a voz baixa e cheia de remorso.
Ela pensou em como o professor Davi sempre estimou a ela e investiu nela. Ele preparou ela com todo o cuidado, talvez até mais do que a própria neta, Viviane. E, no final das contas, como foi que ela retribuiu? Deixou ele terminar a carreira de forma humilhante e injusta. E tudo por causa do seu "amor cego". Esse erro foi o que acabou manchando a honra do professor Davi.
Lágrimas começaram a surgir, silenciosas e inevitáveis, preenchendo seus olhos.
— Ah, Isa, não fique assim! — Disse Viviane ao perceber as lágrimas da amiga, claramente preocupada. — Meu avô e o professor André se enfrentaram a vida toda! Os dois nasceram para serem rivais. Já faz tanto tempo, não se cobre assim, tá?
Para aliviar a tensão, Viviane tentou mudar de assunto e até deu um sorriso leve.
— Quer saber? Não foi nada perto do que eu fiz para deixar ele bravo. O sonho do meu avô era me transformar na sucessora dele. O que eu fiz? Fui para área financeira! Ele ficou tão decepcionado que passou três dias sem comer.
Viviane, desde criança, foi moldada por Davi para seguir uma carreira brilhante no Direito, mas simplesmente não tinha aptidão para coisa. Mesmo sendo pressionada até passar na faculdade de Direito, no fundo ela sabia que seu coração não estava ali. No fim, acabou cursando finanças e mergulhou de cabeça no mundo das finanças, deixando o avô com desgosto. Quando se tratava de seguir uma vocação, talento e afinidade falavam mais alto.
— O professor Davi... Ele está bem? — Perguntou Isabela, a voz embargada e cheia de preocupação.
— Ele está ótimo, curtindo a aposentadoria! Vive plantando flores, criando passarinhos... Tá numa paz só. Lá no condomínio tem um grupo de idosos que dança no fim da tarde, eu vivo chamando a ele para aprender, mas ele só me olha como se eu fosse maluca. Ele é todo antiquado, sabe como é, bem teimoso. — Depois de uma pausa, Viviane olhou para Isabela e ofereceu. — Amanhã vou visitar ele. Quer vir comigo?
Isabela abaixou o olhar, sentindo o peso do passado. Sabia que a desistência dela prejudicou as chances do professor Davi de conseguir a promoção. Ele nunca disse nada diretamente, mas ela sabia.
— Vou esperar arrumar um emprego antes. — Respondeu ela, olhando para as mãos. — Quero mostrar que valeu a pena ele ter me ajudado tanto.
Viviane entendeu e não insistiu. Ela sabia que a amiga precisava de tempo para se reconciliar com o passado. Observando as mãos de Isabela, comentou:
— Lembra como suas mãos eram lindas?
Viviane sempre admirou as mãos da amiga. Delicadas, os dedos finos e a pele clara e macia. Isabela era de uma beleza rara e suas mãos eram uma parte disso.
Isabela sorriu, mas o sorriso era amargo. Por causa das manias de Sandro com limpeza, ela sempre mantinha a casa impecável, cuidando de tudo sozinha. Quando ele chegava cansado do trabalho, ela ainda fazia massagem para aliviar a tensão dele. Toda essa dedicação deixou suas mãos mais ásperas e as fez perder um pouco da elegância de antes.
— Canalha, aquele infeliz não sabia o que tinha! Você, com mestrado e doutorado em Direito, se desdobrou para agradar um traíra?! E o cara ainda trai você? Esse sujeito merecia ser atropelado! — Xingou Viviane, furiosa.
Isabela deu um sorriso suave, mas não disse nada.
— Ah, lembrei! — Disse Viviane, enquanto parava no semáforo e revirava a bolsa, de onde tirou um cartão e o estendeu para Isabela.
— O que é isso? — Perguntou Isabela, curiosa.
— Você não está procurando emprego? — Viviane sorriu. — Esse cartão é de um escritório que eu quero te apresentar.
Isabela pegou o cartão e, o virando para a luz, leu o nome "Jorge Neves".
— Jorge Neves? — Repetiu Isabela, incrédula.
— Isso mesmo. — Viviane apenas sorriu, satisfeita com a reação da amiga.
Embora Isabela tivesse ficado fora da área, Jorge era uma lenda no mundo do Direito, praticamente uma figura mítica. Ele era conhecido como o "Demônio do Tribunal". Seu histórico de reviravoltas em tribunais era famoso. Não havia causa que ele não pudesse vencer, e sua habilidade em manipular os argumentos era tão afiada que muitos juízes evitavam suas audiências.
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