— Olá, eu sou uma aluna do professor Davi. — Isabela respondeu rapidamente.
Do outro lado, houve uma breve pausa antes da resposta seca:
— Agora estou ocupado.
Isabela hesitou um pouco, mas tentou se manter educada e prestativa:
— Posso me adequar ao seu horário. Quando seria conveniente para o senhor?
— Depois das seis. Onde você pode se encontrar comigo?
— Onde for melhor para o senhor, eu posso ir. — Respondeu ela, tentando esconder a ansiedade.
— Certo, venha ao escritório da Advocacia Nova Justiça às seis.
— Combinado.
A ligação foi finalizada de repente. Isabela piscou, um pouco surpresa com a frieza dele.
Era ainda de manhã e como só iria encontrá-lo à noite, às seis, teria o dia inteiro para se organizar. Decidiu ligar para Viviane para combinar de transferir o dinheiro que queria investir com ela. No entanto, Viviane estava atarefada e não poderia encontrá-la, então Isabela marcou para uma próxima oportunidade.
Refletindo sobre sua situação, ela percebeu que ficar no hotel não era uma solução viável, especialmente sabendo que sua nova casa levaria cerca de três meses para ser reformada. Assim, começou a procurar por apartamentos pequenos e temporários para alugar. Passou o dia todo olhando imóveis, mas nada parecia atender suas expectativas.
Quando eram cinco e meia, ela chegou à Advocacia Nova Justiça.
Localizada na área mais movimentada de Solaris, a sede da Advocacia Nova Justiça era impressionante. O edifício, majestoso e imponente, se destacava entre os demais. Do hall de entrada, amplo e iluminado, era possível perceber a grandiosidade e o prestígio do lugar. Sentiu um leve frio na barriga enquanto se aproximava da recepção.
— Boa tarde, eu vim falar com o Dr. Jorge. Tenho um horário marcado com ele. — Disse Isabela, tentando soar confiante.
— Ah, sim. Por favor, me acompanhe. — A recepcionista confirmou.
A funcionária conduziu ela até o elevador, a levando para um andar acima e passando por diversas mesas de trabalho até pararem em frente a uma porta. A recepcionista deu duas batidas suaves.
De dentro, ouviu-se uma voz firme e abafada:
— Entre.
A recepcionista abriu a porta.
— Dr. Jorge, a senhorita que marcou com o senhor já chegou.
Isabela olhou para dentro e notou o ambiente moderno e bem organizado. A iluminação realçava o estilo minimalista da ampla sala, com uma grande mesa de escritório coberta de documentos. Atrás da pilha de papéis, um homem trabalhava focado, parcialmente escondido pela quantidade de arquivos.
Quando ele ergueu o rosto, Isabela pôde finalmente ver o seu semblante. O rosto de Jorge era marcado por traços firmes e profundos, com uma beleza fria que quase a assustava. Seu olhar, penetrante e cheio de seriedade, transmitia uma aura de contenção absoluta, algo quase intimidante. Havia algo em seu semblante que impedia qualquer aproximação, despertando uma sensação de respeito e receio em quem estivesse à sua volta.
Sem querer, Isabela se sentiu um pouco desconfortável. O homem exalava uma imponência silenciosa que pressionava ela.
Já havia sentido uma tensão semelhante com Sandro, que com um simples olhar conseguia controlar ela. Mas Jorge era diferente, seu olhar transmitia um poder construído através de anos de batalhas jurídicas, algo gravado em sua postura e em seu olhar.
Jorge lançou a ela um olhar rápido, a avaliando com uma indiferença quase cortante. Ele se levantou da mesa e ajustou a camisa preta, que, perfeitamente alinhada na calça social, destacava sua figura alta e esbelta.
— Maia, traga duas águas, por favor. — Ele pediu, com um tom autoritário, enquanto caminhava em direção ao sofá de recepção. — Pode se sentar.
Ele indicou o assento em frente.
Isabela seguiu o gesto e se sentou, um pouco tensa. Sentia os olhos dele sobre si enquanto ela se acomodava.
O rosto dela era bem pequeno, e depois que cortou o cabelo de forma curta, suas feições se tornaram ainda mais nítidas. Um dos lados do cabelo estava preso atrás da orelha, revelando suas orelhinhas brancas e delicadas, que mais pareciam pequenos bolinhos. Seu nariz era bem definido e arrebitado e os lábios, em um tom de rosa vibrante, conferiam a ela uma beleza suave, mas também traziam um toque de determinação e intensidade.
Com um sorriso discreto, Maia entrou e lhe entregou um copo de água.
— Obrigada. — Disse Isabela, educadamente, pegando o copo com ambas as mãos.
— Disponha. — Respondeu Maia, também servindo Jorge, antes de sair e fechar a porta.
Com um olhar clínico, Jorge começou a folhear o currículo que Isabela lhe havia entregado.
— Mestrado e doutorado em faculdade de Direito, excelente formação. Experiência prática, nenhuma? — Disse ele, em tom despretensioso, mas com certa frieza. Ele se recostou no sofá, avaliando a reação de Isabela. — Por que não arranjou emprego após a formação?
Isabela hesitou um instante antes de responder, respirando fundo:
A voz era inconfundível, ressoando com uma familiaridade profunda. Isabela ergueu o rosto e, contra a luz do poste, viu Sandro ali, parado, a observando com a expressão fechada.
Naquele ângulo, a linha do maxilar dele parecia ainda mais marcada e imponente.
— Só estou aqui por acaso. — Ela se justificou.
Sandro olhou para ela de cima a baixo, com o semblante sombrio e descrente.
— Por acaso? Por acaso resolveu se maquiar, vestir uma roupa bonita, dar uma passada perto do meu escritório e, por acaso, me encontrou? Claro que não, Isabela. Tudo isso só pode ser uma desculpa para tentar reatar, não é? Isabela, se for mentir, pelo menos arrume uma desculpa que eu possa acreditar! Menos "por acaso", ok?
Isabela usava um sobretudo bege com cinto amarrado, realçando a cintura fina, e botas de salto alto cor de areia que deixavam parte das pernas à mostra. Com o traje e o batom delicado, exalava uma elegância sutil, sua postura mais ereta, parecendo ainda mais alta e confiante. No entanto, se vestia assim para causar uma boa impressão, não para Sandro.
Ela soltou um riso seco e sarcástico.
Antes, girava toda sua vida em torno de Sandro. Planejava seus dias em função dos dele: qual terno ele usaria, qual gravata combinaria, até mesmo o sabonete que ele preferia. Tudo. Nesse ritmo, nunca sobrava tempo para si mesma. Agora, o vendo ali, parecia um tanto irônico que ele estivesse tão convencido de que ela procurava por ele.
Isabela se levantou, deu uma olhada rápida em volta e notou, de fato, que o lugar em que estava não era muito longe do escritório dele. Bom, talvez a situação desse a entender isso mesmo.
Respirou fundo e respondeu:
— Olha, você está realmente enganado. Divórcio é divórcio, Sandro. Eu não vou pedir para voltar.
O rosto de Sandro se contorceu e ele parecia ainda mais irritado.
Ela estava mantendo essa decisão por dias e isso estava mexendo com ele. Na noite anterior, tentou se ajeitar na cama, só para perceber que o outro lado estava vazio. Não conseguiu dormir mais, esperou alguma mensagem dela... Que não chegou. Desde sempre, ela mandava várias mensagens diárias. Perguntava o que ele queria comer, que horas voltaria, se o trabalho estava corrido. Até mesmo nos dias de briga, ela nunca passava mais de vinte e quatro horas sem mandar algo.
Ela o amava, ponto.
Mas dessa vez, ela havia ido longe demais. Voltava para casa e não encontrava ela. Nem o café da manhã estava mais pronto. Essa ausência estava bagunçando o ritmo de sua rotina, a ponto de deixar ele mal, com o estômago irritado de tanto pular refeições.
— Isabela, você não acha que já fez o suficiente? — Rosnou ele, os dentes cerrados. — Parece que você se esforça ao máximo para me provocar, como se fizesse questão de me irritar. Sabia que eu preferia você de cabelo comprido e ainda assim... Você decidiu cortar, só para me atingir! É demais, Isabela, isso já virou provocação.
Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa com as palavras dele.
— Ah, claro. Só pode estar delirando, Sandro. Melhor dar uma passada no hospital, quem sabe até no psiquiatra.

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