Falando até aqui, Marta começou a chorar.
- Sim, a sua irmã me odeia. Odeia que eu não tenha deixado ela estudar, mas o que eu posso fazer? Eu queria apenas que ela se casasse com uma boa pessoa. Queria que ela não fosse como eu, tendo dois filhos e nem tinha dinheiro de sobra para comprar uma roupa decente. No dia do casamento dela, a roupa que eu usei foi dada de presente pela Gina, justamente para eu não ser uma vergonha na frente dos outros. Mas e a Chloé? Ela ainda tem essa família no coração dela?
O choro de Marta fazia Chloé se sentir mal.
Antes apenas achava Marta odiável, mas esse discurso todo a fez sentir um pouco de tristeza.
Ela sabia que a sua mãe não teve muitos estudos, e nunca teve boas condições, portanto, a visão dela era limitada. Ela não conseguia enxergar os frutos que estudar podia trazer, e muito menos conseguia aceitar que uma menina tivesse muitos estudos. Para ela, isso era desperdício de recursos.
Ela sentiu dó pela sua mãe.
Marta era um pouco maior do que Enrico, mas ao comparar os dois, eram completamente diferentes. Ninguém poderia imaginar que eles seriam da mesma época.
Um vivia no topo, aproveitando a vida.
O outro vivia no poço, se esforçando para sobreviver.
Chloé se virou e analisou o rosto de sua mãe. Ela já estava cheia de rugas, eram todas marcas que a vida deixou nela.
- Eu já paguei os gastos do hospital. Tenho dois mil aqui, tome. Eu sei que você e o pai viveram muito apertados para que eu e Adam pudéssemos estudar. Não é muito, mas espero que você possa cuidar melhor de si. - disse Chloé enfiando o dinheiro em suas mãos.
Marta achou que Chloé ia retrucar e discutir com ela como antes, mas não imaginava que ela fosse lhe dar dinheiro.
Mas, ela apenas fechou a cara e disse:
- Só dois mil? Você acha que eu sou uma mendiga?
Chloé apenas sorriu, dizendo:
- Eu não tenho outro jeito. A sua filha tem capacidades limitadas, e esse dinheiro eu ganhei com muito esforço. Se você achar muito pouco, eu também não posso fazer nada. Eu vou indo.
Chloé olhou para Adam antes de sair pela porta.
Assim que chegou no corredor, deu de cara com Gabriel. Vendo-o, Chloé ficou surpresa.
- O que você está fazendo aqui?
- O Sr. Enrico estava preocupado com você, então me mandou vir para ver como estava a situação. O Sr. Adam está bem? - disse Gabriel com um olhar indecifrável.
Senhor realmente... era bem atencioso com ela.
- Não tem com que se preocupar, tem a nossa mãe cuidando dele.
Se fosse ela, ainda teria motivos para se preocupar. Mas era Adam, e ele era precioso para Marta, então ela cuidaria muito bem dele.
Gabriel acenou, seguindo atrás de Chloé ao saírem do hospital. Vendo Chloé em silêncio, ele sentiu nela uma maturidade que não deveria existir numa garota dessa idade.
Lembrando-se do que ouvira na porta do quarto do hospital, ele perguntou um pouco surpreso:
- Eu achei que a Sra. Chloé nunca mais iria falar com a sua mãe! Ela foi tão má com você na época...
- Ah... - disse Chloé, rindo. Sem saber o porquê, seus olhos se umedeceram. - Você sabe de uma coisa? Minha mãe também já foi muito boa comigo. Eu me lembro de quando eu tinha uns oito ou nove anos, ela sempre estava trabalhando duro nas áreas de construções, movendo tijolos. Tijolos do primeiro até o sexto andar, pra cima e pra baixo. Um tijolo apenas valia alguns centavos, e ela ganhava no máximo uns vinte reais trabalhando por um dia inteiro. E ela pegava esse dinheiro para comprar guloseimas para mim e Adam. Desde aqueles tempos, eu dizia para mim mesma que, um dia, eu vou ganhar muito dinheiro e usar para cuidar muito bem dela. Eu não sabia como ganhar dinheiro, então o que eu podia fazer naquela época era apenas estudar mais e mais, e minhas notas sempre foram boas na escola por causa disso.
- Agora a pouco enquanto escutava as suas reclamações, eu apenas lembrei que ela também... Não era nada fácil. - Chloé suspirou, terminando de dizer.
- Já que é assim, então por que não exigiu dote à família Camargos? - perguntou Gabriel, o que fez Chloé abrir um leve sorriso.
- Ela é minha mãe, e a família Camargos não deve nada a ela. Mesmo que ela não teve uma vida fácil, mas é uma pessoa ambiciosa, e não usa a cabeça. Se deixar ela abusar deles uma vez, então ela abusará muitas outras vezes.
Cuidar da própria mãe era o seu dever, e de mais ninguém. Não era o dever da família Camargos.
Chloé chegou em casa e Bruna a viu, cumprimentando:
- Chloé, boa noite.
- Boa noite, Bruna. - Chloé respondeu dando um grande bocejo. Ela estava morrendo de sono.
- O que quer de café da manhã? - perguntou Bruna.
- Macarrão.
- Ok, então você espere um pouco.
- Beleza, eu vou lavar um rosto.
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