Amor Descartável: Quando Eu Parti, Você Chorou romance Capítulo 1

Gato gosta de peixe, homem gosta de trair.

No carro, Hadassa Barbosa avistou, caído na fenda do banco, um invólucro rasgado de preservativo. Imediatamente, esse ditado ecoou em sua mente.

Dizem que a câmera de bordo do carro é infalível para flagrar uma traição.

Movida por um impulso inexplicável, ela ligou o aparelho.

E lá estava: assistiu a uma cena de adultos, totalmente inadequada para menores.

Corpos entrelaçados, olhares turvos, gemidos abafados de prazer...

Era demais para olhar.

Difícil de encarar.

Os olhos de Hadassa Barbosa ardiam, enquanto seus dedos empalideciam de tanto apertar.

Kauan Serra, seu noivo, era o homem por quem ela nutria sentimentos desde os tempos de uniforme escolar.

Na infância, ele a protegia, enfrentando quem se atrevesse a intimidá-la.

Foi também o homem que prometeu realizar um grande casamento no final do ano.

Mas ele a traiu!

Homem traidor é como dinheiro manchado de sujeira: útil, porém repulsivo.

O estômago de Hadassa Barbosa se revoltou. Depois de um tempo tentando se recompor, finalmente ligou o carro para buscar Kauan Serra no clube.

No reservado escuro, homens e mulheres brincavam de verdade ou desafio.

O riso solto atravessava a porta, chegando aos ouvidos de Hadassa Barbosa.

Na penumbra sugestiva, Kauan Serra, sentado no sofá, segurava pela nuca uma garota, trocando com ela um beijo apaixonado.

Depois de um tempo, a mulher se levantou com as faces coradas e foi ao banheiro.

Hadassa Barbosa reconheceu de imediato: era a amante de Kauan Serra!

A mão que segurava a maçaneta se fechou com força, e seus olhos marejaram novamente.

Alguém ofereceu uma bebida a Kauan Serra.

— Kauan, ouvi dizer que seu pai quer que você se case com a família Rocha. E a Hadassa Barbosa, como fica?

O olhar de Kauan Serra ainda trazia vestígios de desejo.

E ela, tola, acreditando nas promessas, sonhando com o vestido de noiva e com o dia em que seria a mulher mais feliz ao lado dele!

— Kauan, quando vai contar a verdade para a Hadassa Barbosa? — alguém insistiu.

Kauan Serra soltou a fumaça devagar, despreocupado.

— Pra quê a pressa? Hadassa Barbosa me ama tanto que jamais me deixaria. Dizer ou não dizer, qual a diferença?

— Verdade! Além disso, ela tem uma família inteira de sanguessugas para sustentar. Se largar você, aonde vai encontrar outro benfeitor tão generoso?

O homem sentado na posição de destaque exibia o mesmo rosto bonito de sempre, mas, para Hadassa Barbosa, ele parecia agora um completo estranho.

A família Serra era uma das mais influentes de Cidade S.

Kauan Serra era o filho ilegítimo do patriarca, tendo crescido com ela no interior.

Somente após o falecimento da esposa legítima do pai, Kauan foi levado da vila para morar com a família Serra, já no ensino médio.

Hadassa, por sua vez, era uma criança abandonada. Seus pais adotivos a acolheram, mas, três anos depois, tiveram um filho biológico.

O casal, que até então a tratava bem, passou a vê-la como um peso.

Quando terminou o ensino fundamental, já não queriam mais pagar seus estudos e planejavam mandá-la trabalhar numa fábrica.