Christopher
Já se passou uma semana desde que a minha tortura começou: a Charlotte não está indo pra escola, o Pedro não fala comigo e eu não estou conseguindo dar tudo de mim em campo. Luto entre a vontade de ir atrás dela pra saber se ela está bem, conversar com o Pedro e dizer que ele tem razão e entre continuar na minha me mantendo firme e fingindo não me importar... mas eu me importo! Caralho! Sou a merda de um Zé ruela, só pode. E tudo o que eu sei fazer é ficar aqui esperando e esperando alguma coisa acontecer, vou pra escola na esperança de haver alguma novidade e nada.
— Filhote, você está muito pra baixo, eu já te falei mil vezes que não tem nada de errado em ir atrás e pedir perdão... quem ama de verdade perdoa, vai lá atrás dela e resolva isso! Ligue para o Pedrinho também, não seja orgulhosa como a sua mãe... isso pode te custar caro.
Levanto os meus olhos do meu jantar e encaro a minha mãe que ficou totalmente sem jeito depois do que ela mesma disse.
— Do que você está falando, mãe?
— Não quero que você fique perdido, filho, entre o orgulho e o arrependimento.
Desabafei tudo pra ela, desde o início de tudo, criei coragem e contei. Eu me senti melhor no início, mas agora eu sinto uma necessidade de contar tudo de novo. Estranho demais. Só não consigo entender o que quer dizer com isso...
— Mas por que eu não devo ser orgulhoso igual você, mãe?
— Eu... Não perdoei o seu pai por puro orgulho, quando dentro de mim eu já havia perdoado... E agora...
— Agora ele já está casado com outra mulher — concluo.
— Só acho que você não precisa se fingir de machão, filho.
— Como assim? Eu não me finjo de machão, eu sou machão! E sou macho alfa ainda!
— Cris! Você me entendeu perfeitamente! Você pensa que fazendo piadas e pregando peças você vai continuar sendo o bonitão do pedaço, né? Pode até ser, na escola, mas você precisa focar à longo prazo, criar laços e os manter, o Pedro, por exemplo, ele é uma pessoa que você deve levar pra vida toda! E a Charlotte? Filho, isso que você me contou não foi pouca coisa! Eu tinha as minhas dúvidas sobre o que havia acontecido entre vocês, eu sempre quis entender o porquê de vocês nunca terem se dado bem, é óbvio que eu conseguia sentir que ali havia muito mais, acho que todo mundo conseguia ver, na verdade...
— Você acha?
— Sim, acho que ninguém se preocupa tanto em perturbar alguém assim por anos e anos incansavelmente se não sentir alguma coisa por essa pessoa.
— Sim, não sei o que eu sentia ou sinto, só sei que sinto muito a falta que ela está fazendo na escola, eu queria ela por perto mesmo que fosse só pra gente brigar.
— Então diga isso pra ela.
— Não sei como ela poderia reagir, não sei se ela me receberia, mãe, ela é a garota mais rancorosa que eu já conheci em toda a minha vida.
— Você já experimentou pedir perdão?
— Como?
— Como você quer que ela aja diferente de você sendo que foi você quem começou?
— Vai mesmo ficar do lado dela?
— Você não vai ficar do lado dela?
— Sei lá, eu acho que sim.
Estiquei o meu pescoço para todo quanto é lado na tentativa de descobrir alguma pista da Charlotte.
— E-eu, eu gostaria de conversar com a Charlotte, temos que organizar o baile dos pais juntos e... por isso preciso falar com ela, ela não tem ido ao colégio e estou preocupado... com... com o baile.
— A minha irmã foi embora — o irmãozinho da Charlotte responde com uma carinha triste, como se ele entendesse o que está acontecendo dentro de mim.
— Entendo a sua confusão, ela nos pegou de surpresa também, mas eu e a mãe dela resolvemos apoiar a decisão dela.
— M-mas, o s-senhor está falando sério? A Charlotte foi embora? — levanto-me do sofá sentindo um desespero no meu peito que começou a tomar conta de mim...
— Calma, meu rapaz...
Perdi a noção de tempo e espaço e quando eu percebi já estava correndo pela casa da Charlotte em direção ao quarto dela, estive poucas vezes aqui e foi o suficiente para eu mapear o lugar.
— Charlotte, me perdoe por ter sido tão burro e infantil com... — cheguei tentando abrir o meu peito e confessar tudo o que eu sinto, mas o golpe que eu levei quando vi a porta do guarda-roupa cheio de cabides vazios me arrancou o pulmão.
— Christopher? Tudo bem?
— Não... — digo respirando fundo, — acabei de descobrir que eu tenho asma.
Não sei direito o que aconteceu durante o trajeto que fizemos do quarto da Charlotte até a cozinha da casa dela, só sei que agora o pai dela está ligando por chamada de vídeo pra Charlotte e tudo o que eu gostaria nesse momento era de ser invisível.
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