Atravessando: Da Coadjuvante à Protagonista romance Capítulo 6

Era a lancheira que Zélia havia enchido de comida para Afonso, mas ele mal tinha apetite e comeu apenas um pouco, deixando mais da metade no recipiente.

Ele agiu tão rápido que as outras três pessoas no quarto não tiveram tempo de impedi-lo.

O recipiente de plástico atingiu a cabeça de Débora, fazendo com que a comida caísse do topo de sua cabeça até seus pés.

"Débora!" Patrícia exclamou, correndo para ajudar.

Se a antiga Débora tivesse se deparado com uma coisa dessas, ela teria discutido e feito um escândalo.

Mas hoje em dia Débora apenas sofria em silêncio, sem dizer uma palavra.

"Estou bem." Débora limpou a sujeira de seu rosto com o dorso da mão.

Sem reclamações, sem ressentimentos, sem sentir-se injustiçada.

Apenas suportou em silêncio.

"O que foi? Sentiu-se ofendida assim tão facilmente? Eu mal toquei em vocês e já não podem aguentar?"

A voz de Afonso soou sarcástica, vendo a preocupação de sua mãe, ele se sentiu ainda pior.

As mãos de Patrícia congelaram.

Ficou entre os dois filhos feridos, sem saber o que fazer.

A atmosfera no quarto do hospital ficou pesada e tensa.

Débora disse: "Vou...ao...banheiro."

Ela então saiu do quarto, evitando causar mais constrangimento aos seus pais.

O coração de Patrícia se encheu de tristeza ao ver as costas da infeliz Débora, mas ela sabia que tinha de endurecer o coração.

Após uma limpeza rápida no banheiro, Débora voltou sozinha à porta do quarto do hospital.

No caminho de volta, Gabriel sentou no banco do passageiro, enquanto Débora e seu pai, Eduardo, estavam no banco de trás.

"Vou pedir uma semana de folga para você na escola, use esse tempo para refletir."

Foi Gabriel quem falou, mostrando uma hostilidade evidente para com Débora.

Eduardo percebeu que Gabriel estava sendo tão duro com Débora: "Gabriel, Débora apenas começou o ensino médio, pedir uma semana de folga talvez não seja o melhor."

"Em vez de estudar, ela precisa aprender a ser uma pessoa melhor agora! Pai, não esqueça o que você e mamãe prometeram a mim." Gabriel lembrou.

Eduardo havia acabado de prometer a Gabriel, na frente de Afonso, que seria mais duro com a filha quando voltasse, e não esperava que, antes mesmo de chegarem em casa, já estivesse naturalmente tentando protegê-la.

Eduardo sentiu-se impotente, tendo mimado sua filha como uma preciosidade por quinze anos, de repente mudar de atitude era algo difícil para ele.

Mas quando pensou em Afonso, que estava no hospital, Eduardo forçou-se a endurecer o rosto novamente.