Bom Dia, Jornada Linda! romance Capítulo 756

Geovana olhou rapidamente para a boca de Raul, ainda avermelhada e um pouco inchada.

“Então... o que a gente comeu não pode ser visto por ninguém.”

“Ué, mas o que era aquilo?” O menino arregalou os olhos, super curioso.

“Carne de santo.”

“Carne de santo? O que é isso?”

“É uma delícia. Quer experimentar?”

O garoto assentiu com entusiasmo, olhando para Geovana com aquele olhar pidão.

“Aqui eu não tenho mais, mas se você quiser, pede pra sua mãe.”

O menino saiu correndo, animado, gritando para baixo: “Mãe, quero carne de santo!”

“Carne de quê?”

“Carne de santo!”

A mãe ficou sem entender nada, achando que o filho estava só fazendo graça.

“Espera só, quando a gente chegar em casa a mamãe pega uma estrela do céu pra você comer. É gostosa também.”

Raul se deitou de novo e cutucou Geovana com o ombro.

“Tá dizendo que eu sou o santo?”

“O santo é monge, você é?”

“Não sou monge, mas minha carne é boa, né? Você adora.”

Geovana escondeu o rosto com a mão. Ele não era assim antes, mas desde que estavam juntos, sempre fazia piada.

O ar na serra era fresco, um pouco frio, mas com o sol batendo, ficava perfeito. Os dois ficaram lá deitados, e sem perceber, já era fim de tarde.

Ainda estavam na metade do caminho, nem tinham chegado no topo.

“Você sabe por que eu odeio tanto minha mãe?”

“Acho que ela deve ter feito algo pra te magoar muito.”

“Foi raiva.”

Geovana suspirou fundo. “Ela queria usar a minha vida pra brigar pela herança da Família Medeiros. Mas quando descobriu que o Renato Medeiros não ia me deixar nem um centavo, eu não tinha mais valor pra ela. Pra tirar até a última gota de vantagem, me arrumou um casamento com um velho de sessenta anos. Disse que, se ele morresse, eu ficaria com a herança dele. Eu neguei, claro. Mas ela me embebedou de propósito e me largou na cama do velho.”

A expressão de Raul ficou tensa. “Como ela pôde fazer isso?”

“Por sorte, acordei ainda tonta do álcool, quebrei a garrafa e ameacei o velho com um caco pra me proteger.”

Raul ficou sentido ao saber pelo que Geovana tinha passado.

“Depois voltei pra casa, contei pro meu pai, ele disse que não era problema dele. Perguntei pra minha mãe, ela disse que eu era ingrata. Perdi toda a esperança com a Família Medeiros. Aí, comecei a brigar pela herança. Como você viu, perdi tudo e fui expulsa.”

Na verdade, ela nunca teve chance de ganhar, só fez escândalo na esperança de que alguém visse sua dor.

No fim, ninguém se importou.