Caminhar Contra A Luz romance Capítulo 21

A avó já tinha setenta e dois anos, mas ainda era muito ágil; antes que Alma pudesse impedi-la, ela já havia discado o número.

No entanto, a ligação não foi completada.

O visor mostrava que o número não existia.

Mas o número certamente existia.

Acontece que, cinco anos antes, Oliver já tinha colocado a avó na lista de bloqueados.

No primeiro ano do casamento de Alma e Oliver, a avó ligava para Oliver a cada dois ou três dias. Naquela época, por educação, Oliver ainda atendia, mesmo sem muita vontade.

Sempre que atendia, a avó desabafava com a voz trêmula: "Oliver, você tem que me apoiar, tem que esmagar meus inimigos, não é mesmo? Quero que eles vejam que eu também tenho quem me defenda."

Depois disso, Oliver acabou bloqueando a avó.

Alma sempre enganava a avó, dizendo que não havia sinal na serra, que Oliver estava viajando a trabalho e fora de área, inventando mil desculpas.

E a avó acreditava.

Até hoje, ela ainda ligava com frequência para o genro em quem acreditava poder confiar.

"Não consegui de novo, Alma. Estou com saudades da Alina… A Alina é bisneta da bisa dela, mas também é minha bisneta de coração!" disse a velhinha, cheia de mágoa.

Julieta, sempre provocadora, retrucou: "Vó, Alina pode até ser bisneta da bisa dela, mas não é sua bisneta de verdade, né? Você e a Alma nem têm laço de sangue!"

A avó ficou sem palavras.

"Julieta! Você passou dos limites!" Alma quis dar um soco naquela tagarela.

Olhando para os olhos turvos da avó, Alma não sabia como consolar aquela senhora.

Quando tinha dezesseis anos, após ter sido expulsa de casa pelos pais e avós, Alma continuou rondando a porta, sem querer ir embora.

Ela ainda tinha esperança de que a família se arrependesse.

Mas, ao invés disso, quem apareceu foi uma velhinha carregando um saco de feira, parecendo uma pedinte.

"Vem comigo, minha filha. Se você continuar deitada na porta deles, eles vão acabar soltando os cachorros pra cima de você." A velhinha pegou Alma, que não comia fazia dois dias, levou-a para casa e preparou um frango caipira criado por ela mesma.

Embora o frango estivesse duro e sem muito sabor, Alma sentiu-se aquecida por dentro.

Poucos dias depois, ela ouviu dos vizinhos que a velhinha era a primeira esposa do avô, que nunca teve filhos.

O avô, anos atrás, tinha ido trabalhar em obras na cidade, se envolvido com uma mulher de lá e teve filhos. Só então voltou para casa para pedir divórcio da primeira esposa.

Ele ficou na cidade com a nova família.

E assim já se passaram dez anos.

Julieta também chamava a velhinha de avó.

Só que as duas, Julieta e a avó, eram como pólvora e fogo.

Duas mulheres bonitas juntas só sabiam brigar.

Depois das discussões, a avó ainda dava as melhores guloseimas que guardava para Julieta.

Julieta lavava e penteava os cabelos da avó e ainda comprava flores para ela usar no cabelo.

Antes, Alma achava curiosa a convivência das duas. Depois percebeu que a avó e Julieta tinham um inimigo em comum.

E as duas depositavam as esperanças em Alma e Oliver para que um dia pudessem se sentir vitoriosas.

Infelizmente!

O casamento de Alma já não tinha volta.

Se era para dar orgulho à avó e Julieta, não seria mais por meio de Oliver.