Num dia claro e com brisa suave, Carter foi até o litoral levando a urna com as cinzas de Eleanor.
Não fui com ele me despedir de vez. No fim das contas, nem cheguei a passar tanto tempo com ela.
Para ser sincera, das poucas vezes em que nos encontramos, ela provavelmente estava tentando bolar um plano maquiavélico para se livrar de mim.
Em comparação, eu gostava muito mais da Amber, que acordava às cinco da manhã só pra preparar o café da manhã pra mim.
Observei tudo de longe, à beira-mar. Amber chorava sem parar, e Dominic fazia o possível para consolá-la.
Empurrando o carrinho de bebê, fiquei com as crianças olhando para o imenso oceano.
A brisa do mar passava por nós, e os pequenos esticavam os bracinhos, tentando alcançar as gaivotas que voavam no céu.
Toquei o narizinho de Everett.
“Você precisa crescer logo. Quando for maior, a mamãe vai te levar para pegar marisco. A praia é super divertida, tem camarãozinho, peixinho e até algas marinhas.”
Eles não entendiam muito bem o que eu dizia, mas, pela seriedade no meu tom, me ouviam com atenção.
Everett e Everly já estavam com quase sete meses. Já conseguiam sentar sozinhos.
Na verdade, Everly até tinha começado a engatinhar nesses últimos dias.
Bem diante dos meus olhos, os dois cresciam, pouco a pouco.
Olhei para o mar azul e profundo, mas nem o vento conseguiu levar embora o peso que eu sentia no coração.
Irmã, será que você está bem, aí do outro lado?
Todo mundo já tinha desistido de procurar Alice. Já se passou mais de um ano, se ela tivesse morrido, o corpo já teria sido encontrado.
E se ela estivesse viva, por que nunca deu sinal?
Nem Amber recebeu qualquer notícia de que Taylor estivesse vivo.
Por todos os lados, a conclusão era a mesma: Alice provavelmente estava morta. Mas, mesmo assim, algo dentro de mim se recusava a aceitar. Ainda havia um resquício de esperança, esperando por um milagre.
Um dia, Alice voltaria.
E ela levaria um baita susto, quando nos vimos pela última vez, eu estava recém-grávida. Agora, meus bebês já estavam grandinhos.
...
Depois de um tempo em Snowville, mais um inverno chegou. Carter finalmente resolveu os assuntos pendentes com a família Bolton, e voltamos pra Jaford.
Viajamos de jato particular. Apesar da viagem longa, com a família por perto, tudo ficava mais leve.
Assim que o avião atingiu altitude, coloquei Everett e Everly sobre o tapete.
Everly brincava com um chocalho sentada, enquanto Everett se arrastava, tentando engatinhar.
Nessa idade, ele até tinha a intenção, mas faltava força. A barriguinha amassada no chão, os bracinhos e perninhas mexendo como uma tartaruguinha, era uma fofura sem tamanho.
Lucian, sempre arteiro, se jogou em cima do Everett, gritando: “Cavalinho! Cavalinho!”
Bill logo pegou ele pela gola e o tirou dali.
“Garoto, não é assim que se brinca!”
O pestinha só arregalou os olhos grandes, inocentes, como se dissesse: Mas você me deixa subir nas suas costas.
“Papai, cavalinho!”
Bill deu um tapinha leve na bundinha dele.
“Pode brincar de cavalinho em casa, mas no avião, não. É perigoso. Agora vai sentar direitinho.”
Philippa apareceu, ainda espreguiçando após o cochilo.
“O que tá acontecendo agora?”
Quando Lucian viu sua defensora, o teatro começou. Seu rostinho se contorceu de tristeza.
“O papai foi malvado”
Foi aí que entendi de vez aquela frase: Se a atuação for boa, você sempre estará certo.
Philippa não hesitou e deu um tapa nas costas de Bill.
“O que você fez com meu filho?”
Bill nem se abalou. Já devia estar acostumado. Sem dizer nada, só descascou uma laranja e entregou pra ela.
“Você acabou de acordar, coma uma frutinha.”
O jeito como ele agia, todo submisso e atencioso, me fez pensar: Será que o Bill foi possuído?
Desviei o olhar rapidinho. Não precisava ver esse teatrinho de romance parental.
Carter, coitado, andava exausto, então aproveitou o voo pra tirar um cochilo.
Mas não teve sossego. Na cabine ao lado, Harlan batia na porta com cara de cão abandonado.
“Zoey, meu amor, deixa eu dormir com você. Juro que não vou roncar nem soltar pum.”
A porta dela não se abriu. Mas a de Carter, sim.
Ele apareceu com a cara fechada. Antes que Harlan dissesse qualquer coisa, já o agarrou e puxou pra dentro.
Ah, então Carter fica bem mal-humorado quando acordam ele.
Ao lembrar do olhar assassino dele, fiz uma prece silenciosa por Harlan.
Boa sorte, irmão.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Casamento de Arrependimentos e Revelações
Meu Deus quando eles vão ser feliz...
Não terá mais atualização??...