Ciclo de Rancor romance Capítulo 118

‘Deirdre não será capaz de me ofuscar quando eu me mudar para a mansão.’ Um toque de crueldade passou por seus belos olhos e, logo depois, Charlene assentiu, com uma expressão gentil:

― Eu não tenho nenhum pedido, exceto que Deirdre não me machuque mais. ―

Três dias se passaram sem que Brendan visitasse a mansão. Nesse tempo, a jovem aproveitou para desfrutar de um pouco de paz. Naquele momento, ela se sentava sozinha na espaçosa sala de estar, exatamente como fazia dois anos atrás e a única mudança tinha sido seu estado de espírito. Ela tinha deixado de ser um jasmim branco, esperando o sol nascente, para se tornar uma rosa murcha exalando podridão e fedor.

― Senhora Deirdre ― Sam estivera guardando a porta, todo esse tempo, e observara Deirdre sentada no sofá, atordoada, do nascer ao pôr do sol. Ele sentia muita pena dela e não pôde deixar de puxar conversa com ela ― as flores no quintal floresceram e cheiram muito bem. Gostaria de sair para dar um passeio? Talvez a senhora possa sentir o cheiro do perfume floral, enquanto faz isso... ―

Deirdre permaneceu na mesma posição, por um longo tempo, antes de se mover:

― As flores desabrocharam? ―

― Sim. São de muitos tipos e de longe, parece um enorme mar de flores. Mas, o cheiro não é muito forte. ―

― Sério? ― Deirdre abaixou a cabeça e riu. Tinha sido ela quem tinha plantado as flores do jardim.

― Leve-me para lá, por favor. ―

Sam ficou atordoado ao ver o sorriso no rosto da mulher. Por um breve momento, ele viu um rosto lindo e jovial, por detrás de um mar de cicatrizes e só se recuperou da surpresa quando sentiu o rosto queimar de vergonha. Ele conduziu Deirdre, segurando seu braço.

O perfume floral no quintal não era avassalador e despertava emoções na jovem. Deirdre tocou as flores e percebeu que não eram tão diferentes de como ela se lembrava. Então, ela disse:

― Sam, por favor, traga-me uma pá. ―

― Claro. ― Embora Sam não tivesse ideia de qual seria o propósito da pá, era a primeira vez que Deirdre pronunciava uma palavra, em três dias e isso o animou. Ele rapidamente pegou a ferramenta e voltou.

― Aqui, Senhora Deirdre ― ele passou a pá e perguntou ― a ferramenta é para que? ―

Antes que ele pudesse terminar sua frase, ele observou como Deirdre tateou a raiz de uma flor e levantou a flor inteira junto com seu solo.

As flores caíram e atordoaram Sam. Ele respondeu à situação dizendo:

― O que você está fazendo? ―

Deirdre enxugou o suor do rosto e pensou em como estava fraca. Ela não disse uma palavra, mas arrancou outra flor. Uma pequena área do belo arbusto de flores caiu em um curto período.

― Fui eu quem plantou essas flores ― ela prendeu a respiração, arrancou outra flor e disse ― no entanto, este lugar não as merece mais. Sam, você pode replantá-las no jardim de sua casa, se quiser. Se não, enterre-as em outro lugar, para que não fiquem presas neste chão maldito, pelo resto de suas vidas, sem ninguém para apreciar sua beleza. ―

Ela estava muito calma. Tão calma que entristeceu Sam. Então, ele pegou a pá e abriu um sorriso:

― Por que não me disse isso antes? Eu supunha que você estava entediada por ficar em casa e tinha muita energia para usar. Mas, se o objetivo é esse, há muitos arbustos de flores aqui que você não pode ver. Deixe essa tarefa para mim. Não se preocupe, vou desenterrá-los até que o solo esteja limpo, sem deixar nenhum talo para trás. ―

Deirdre estava atordoada. Logo depois, ela abriu um sorriso e disse, com sinceridade:

― Obrigada. ―

Deirdre empacotou as flores, amarrando-as com movimentos ágeis, para que Sam pudesse pegá-las. De noite, Sam voltou e colocou uma caixa, na mesinha de centro.

― O que é isso? ―

Antes que Sam pudesse falar, o som do ganido de um cachorrinho pode ser ouvido vindo da caixa.

Os olhos vazios de Deirdre brilharam. Sam puxou o cachorrinho e riu de maneira envergonhada:

― Você me deu aquelas flores, então pensei que deveria devolver seu presente também. Este é o cachorrinho nascido da cadela idosa do meu vizinho. Ele acabou de abrir os olhos, então acredito que você vai gostar de segurá-lo. ―

Ela gostou, claro. No entanto, o brilho em seus olhos se transformou em pavor, um segundo depois.

― Por favor, Sam... leve-o embora. ―

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