Ciclo de Rancor romance Capítulo 141

Deirdre voltou para seu quarto na mansão e sentou-se na beira da cama em um transe dissociativo. A confissão de Charlene sobre seu papel na morte de Bliss tinha causado um ferimento profundo em sua alma. Minutos rastejaram, possivelmente horas. A jovem não tinha ideia de quanto tempo levou até que finalmente sentisse o sono a alcançando. Ela se deitou.

Então, de repente, a porta se abriu com um chute e Brendan cambaleou como uma besta louca, prendendo os pulsos dela contra a cama. O ar esfriou, mas Deirdre quase podia sentir o gelo vindo dos olhos do homem examinando furiosamente seu rosto.

― Nem perde mais o sono por causa das merdas que faz, não é? ― Brendan berrou. O aperto nos punhos de Deirdre era tão forte que quase esmigalhava os ossos finos da jovem.

― Aquela porra de lesão no pescoço de Lena! Nada pôde fazer aquilo desaparecer, e todos viram! Eles falavam sobre isso pelas costas dela e entre si, durante toda a festa. Tudo por causa da merda estúpida que você fez! Ela sequer voltou para casa após a comemoração! Esse é o tamanho da humilhação que você a fez passar, sua vadia sem coração! Você nunca vai ficar satisfeita? Nunca vai parar!? ―

A dor queimou como fogo os punhos da jovem e o rosto de Deirdre ficou branco com a provação. Brendan parecia tão furioso que era como se fosse erguê-la da cama e atirá-la da sacada.

Que piada. Deirdre tinha deixado de amar Brendan, desde que fora injustiçada na prisão, mas Charlene não percebia isso e continuava tentando prejudicá-la. Entretanto, o monstro acusava Deirdre de não ficar satisfeita, de não saber parar, quando, na verdade, sua adorável noiva é quem não conseguia. Não poupando, nem mesmo, a vida de um filhote de cachorro indefeso.

― Por que você não pede para sua ‘Lena’ parar? Veja se ela concorda com isso... ― Deirdre atirou de volta. ― Sinceramente, como uma pessoa cega, franzina, debilitada e desajeitada como eu, conseguiria atacá-la e enforcá-la se ela não tivesse provocado e permitido que isso acontecesse? Chego a duvidar de que eu seja a única pessoa cega aqui... ―

― Como você ousa!? ― Os olhos de Brendan estavam vermelhos de fúria. Ele a puxou pelo colarinho, a erguendo da cama e a pressionando contra a parede, enquanto rangia os dentes. ― Você vai culpar a vítima de novo, não é? A única razão pela qual Lena não revidou foi por ela ser gentil e ingênua. Ela não consegue nem machucar uma mosca, muito menos outro humano. Mas, isso não significa que você pode tirar vantagem de sua gentileza! ―

― Gentileza? ― Deirdre ecoou com os olhos baixos. Ela se lembrou dos lamentos e ganidos de Bliss, em seus últimos momentos de vida e como Charlene gravou cruelmente, apenas para que Deirdre pudesse ouvi-lo em outro golpe.

‘Gentileza! Ah, ela e sua maldita bondade!’

― Brendan... Seu julgamento das pessoas... é péssimo. ―

― Você está cem porcento certa ― ele rosnou e a empurrou para o chão. Parado e olhando para o rosto desfigurado e contorcido de dor, o monstro continuou falando: ― Tão péssimo que continuei me iludindo em dar a uma sociopata como você mais chances do que merece! Você é uma idiota vil, baixa e miserável. Você nunca saberá como se comportar sem que receba castigos e mais castigos! ―

Ele agarrou o pulso de Deirdre e começou a arrastá-la para fora do quarto, em direção às escadas:

― Levante-se! Vamos! ―

Deirdre cambaleou pelo chão, seus pés descalços registrando os ladrilhos duros e frios sob ela. Ela estremeceu.

Então, a porta da frente se abriu. Vendavais cortantes uivaram quando a corrente de vento invadiu a sala de estar. Deirdre ficou alarmada:

― O-O que você está fazendo, Brendan?! ―

Observando-a recuar, Brendan lançou um sorriso cruel:

― Agora é tarde demais para ter medo! ―

Ele a arrastou para fora de casa e para o quintal, onde ficava um depósito lotado de entulho. Era um prédio frequentemente ignorado que não via nenhuma manutenção, há anos.

Brendan arremessou Deirdre no interior da construção e ela caiu, ralando as mãos no chão sujo e irregular. A dor mal tinha se dissipado quando ouviu um rosnado gutural próximo. Era um cão de caça.

― Acorrente-a aí dentro! ― Ele ordenou.

O rosto de Deirdre empalideceu. A respiração do cão tinha um cheiro odioso. O animal estava claramente irritado e talvez, até mesmo, raivoso. E Brendan... ele estava planejando prender Deirdre com aquele cão louco dentro de um velho barraco cheio de entulho.

― Qual é o problema? Achei que você fosse uma amante de cães! Você amava tanto seu vira-lata estúpido que machucou uma pessoa por causa dele, então pensei em recompensá-la com outro cachorro! Por que você está com medo agora? ― Ele zombou.

― Deixe-me te dar um conselho, Deirdre... ― O monstro prosseguiu. ― Você precisa ficar tranquila e aceitar a sua situação, o mais rápido possível. Este cachorro não é exatamente são e não vai melhorar quando seu treinador for embora. Você pode ser mordida se não for cuidadosa... E deveria ser... porque não será a primeira vez que esse cachorro mata um humano. ―

‘O quê!?’

Os olhos de Deirdre ficaram vermelhos. Este cachorro... já havia matado pessoas antes? Foi por isso que ele decidiu trancá-la com ele? Porque se ela morresse... ele poderia apenas acenar com a mão e dizer:

― ‘Mas que acidente triste. Como uma coisa dessas foi acontecer?’ ―

Deirdre tremia. Mesmo na escuridão de sua visão perdida, ela podia sentir o cachorro olhando para ela de seu canto, esperando e ansioso para atacar.

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