Ciclo de Rancor romance Capítulo 201

Deirdre finalmente conseguiu soltar a respiração dolorida que segurava desde a morte de Bliss. A jovem sentia o cachorrinho empurrando seu rosto perto do dela, choramingando com ela enquanto ela soluçava e esse conforto era indescritível, era como se o animal a estivesse consolando e Deirdre imaginou que Bliss teria feito a mesma coisa.

Deirdre baixou os olhos para o chão. As nuvens de tempestade que pareciam permanentes em seu semblante desapareceram, e Brendan foi a única testemunha de sua transformação sutil.

Embora conseguisse observar a mudança de Deirdre, estava cego para a sua própria. A marca registrada da severidade em seu semblante havia se suavizado em uma alegria mansa e melancólica.

Eles caminharam por um tempo até que, de repente, Deirdre parou. Brendan quase seguiu, sem perceber, mas fez uma pausa e se virou, com uma expressão curiosa no rosto:

― O que está errado? ―

Com uma carranca, Deirdre tombava a cabeça de um lado para o outro, tentando focar sua audição, enquanto comentava:

― Uma criança está chorando. ―

― Uma criança? ― Brendan ficou um pouco surpreso.

Eles estavam na bifurcação de uma rua movimentada inundada por casais e funcionários de escritório resolvendo suas questões do dia a dia. Não havia uma única criança à vista.

― Poderia ser algum tipo de alucinação? ―

― Não, tenho certeza! ― Deirdre mordeu o lábio. ― Definitivamente é o som de uma criança chorando! ―

Seus sentidos se adaptaram à desvantagem de sua visão por meio de uma acuidade auditiva evoluída.

― Parece abafado, mas definitivamente está próximo! ―

Brendan examinou os arredores até que, finalmente, olhou para o carro ao lado deles e inalou profundamente. Um bebê, com cerca de um ano no máximo, estava trancado, esquecido na cadeirinha do banco traseiro. Ela estava banhada em suor enquanto berrava, sua pele com um tom antinatural de rosa avermelhado.

― Aqui! Um bebê está trancado em um carro! ― Ele descreveu a situação para ela.

A ansiedade de Deirdre se transformou em pânico. Ela se inclinou para perto da janela e ouviu o choro do bebê aumentar. Ela percebeu que a criança estava ficando sem forças e seu rosto empalideceu.

― Acho que o bebê não vai aguentar muito mais tempo, Brendan! Você vê os pais por aí? ―

― Não. ― Brendan falou, severo, enquanto tirava o cardigã e o enrolou no cotovelo. Ele fez um gesto para Deirdre, dizendo para se afastar, e com uma pancada firme, atingiu a janela.

Deirdre podia dizer o quão dura era a janela com base no som resultante. Seu coração pulou uma batida.

― N-Não podemos encontrar um tijolo ou algo assim? Você vai machucar o braço! ―

― Não há tempo. ―

Tudo o que Brendan viu foi o bebê e como a criança era pequena e frágil. Seu filho que morreu antes do nascimento teria mais ou menos a mesma idade que ela. Deus. Sua fraqueza havia causado a morte de uma vida jovem antes. Ele não se perdoaria se deixasse a mesma coisa acontecer novamente em sua vida.

Ele cerrou os dentes, apontou para o centro de uma rachadura que tinha se formado e bateu o cotovelo contra a janela mais algumas vezes. O vidro finalmente cedeu sob a pressão, e os gritos abafados do bebê ressoaram para eles como um estridente pedido de ajuda.

Brendan pegou o bebê e o passou para Deirdre:

― O ar dentro deste carro deve estar muito quente ― comentou. ― A criança começava a ter dificuldade para respirar, por isso chorava. Veja se consegue acalmá-la.

Deirdre trouxe a criança para perto de seu peito cautelosamente e um pouco assustada com a situação, mas, estranhamente, o bebê parou de chorar, assim que encostou a cabeça no peito e começou a babar, em fadiga grogue.

Brendan tentava cobrir o braço que sangrava quando viu Deirdre e a bebê. A cor em seus olhos morreu um pouco enquanto sua mente disparava, com todos os tipos de emoções. Ele se esforçou para superar seu furor mental e comentou:

― Parece que a bebê gosta de você. Ela está prestes a adormecer. ―

― É ‘ela’? ― Deirdre ecoou, seus ombros caindo um pouco, assim como seu espírito. ―M-Mas d-deve ser uma coincidência. Ela deve estar cansada depois de tanto chorar. ― Ela riu uma risada triste. ― Ela é uma bebê corajosa, não é? Nem começou a chorar, mesmo depois de ver meu rosto. ―

Brendan franziu as sobrancelhas:

― O que há de errado com o seu rosto? Ainda é lindo. ―

Ambos ficaram se sentindo esquisitos com o comentário. Mas, depois de alguns segundos, o canto dos lábios de Deirdre subiu ligeiramente:

― Qual o problema com você? Você não tem agido normalmente, hoje. ―

Ou melhor, ele não agia nem um pouco como Brendan Brighthall.

O homem teria dificuldade em mencionar seu pesadelo e também não teria coragem de confessar o turbilhão de emoções conflitantes que guerreavam em sua mente. Como se para compensar sua atitude mais branda, ele disse friamente:

― Eu só estava dizendo a verdade. ―

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