‘Vai me levar para onde?’ Deirdre pensou.
Não que ela fosse receber uma resposta, mesmo que perguntasse. Ela se levantou e se trocou. Então, quando chegaram à porta da frente, Brendan tirou o cachecol e enrolou no pescoço dela.
Deirdre ficou um pouco incomodada com o gesto. Eles, saíram e entraram no carro. Então, a jovem esperou mais um pouco, antes de tirar o lenço e segurá-lo na mão.
Depois de um tempo dirigindo, o carro encostou e o empresário anunciou:
― Chegamos. ―
O homem tirou o cinto de segurança e Deirdre. Ela desceu do veículo e a seguiu.
Eles estavam em algum lugar movimentado. Ela podia ouvir o tráfego e a multidão ao seu redor, então eles deviam estar no meio de uma rua movimentada. Brendan pegou a mão dela e disse:
― Eu guio você. ―
O homem demonstrava uma paciência sem precedentes. Com ela a reboque, ele teceu através do mar de pessoas, e a confusão da jovem crescia. Então, finalmente, ela ouviu alguém dizer:
― Sejam bem-vindos! ―
Eles haviam entrado em algum tipo de loja.
― Onde estamos? ― ela perguntou, sentindo-se confusa. Brendan agia de maneira estranha, muito diferente do habitual.
― Você saberá daqui a pouco. ―
A parada não demorou muito. Deirdre ficou parada na porta, por alguns segundos, antes de ser cercada por uma ninhada de filhotes que começaram a farejar e ofegar em volta de suas pernas. Era um café para cães.
A vendedora sorriu para ela:
― Aqui costumava ser um abrigo de animais antes que o senhor Brighthall nos fornecesse dinheiro e recursos para transformá-lo em um café! Ainda estamos recebendo animais de rua, mas, não precisamos mais nos preocupar com financiamento! O senhor Brighthall é um bom homem, não é? ― ela terminou.
A mente de Deirdre estava em branco. O ar estava frio quando entrou em seus pulmões, mas não fez nada para dissipar a nuvem de confusão sobre sua cabeça. Por que Brendan doaria dinheiro para um abrigo de animais? Ele sempre odiou animais! Mas, antes que ela pudesse se recuperar do choque, ouviu a voz fria de Brendan:
― Me dê sua mão. ―
Ela obedeceu e um cachorrinho apoiou o peso em seu cotovelo. O toque era suave enquanto o animal ofegava.
Brendan o examinou.
― Você disse ‘não’, quando eu tentei dar a você, então o deixei ficar aqui ― ele explicou. ― Se você pudesse recuperar a visão, por um minuto, perceberia o quanto se parece com Bliss. Eu sei que não poderemos nunca substituir Bliss, não importa o quanto eles se pareçam, mas... o filhote realmente gosta de você. Então, você pode vir aqui e vê-lo, sempre que sentir falta de Bliss, você sabe. ―
O cachorrinho parecia concordar com o que Brendan dizia. Ele grunhia junto, antes de colocar as patas no peito dela, dócil e doce. Os olhos de Deirdre ficaram vermelhos:
― Mas, por quê? ― Ela lutou contra as lágrimas. ― Por que você me trouxe aqui? Por que você está fazendo isso? ―
Ele poderia ter fingido que nada aconteceu. Era isso o que Brendan Brighthall normalmente fazia, seguir em frente como se nada tivesse acontecido.
Quando o homem roçou o canto do olho dela, uma única lágrima molhou a ponta do dedo.
― Porque eu sinto muito. ― Ele parecia calmo. ― Você estava muito angustiada quando perdeu Bliss, mas o que eu fiz? Eu zombei de sua miséria. Eu errei por não ter protegido Bliss tão bem quanto deveria. Mas, não há nada que eu possa fazer para recuperar o que foi perdido. A única opção que me resta é compensar você agora, no presente... com todo o meu esforço. ―
Ele falava sobre a morte de Bliss, mas parecia que ele se referia a algo completamente diferente.
Deirdre sentiu a vida em seus braços e sentiu o batimento cardíaco acelerado do filhote, a criaturinha era tão cheia de vida que a jovem não podia mais lutar contra as lágrimas. Ela apertou o cachorro com mais força e soluçou. Ela só queria uma válvula de escape para lamentar e lembrar de uma vida perdida. Ela só queria uma chance de dizer que sentia muito.
Brendan tirou o casaco e cobriu a cabeça dela com ele. O empresário sabia que ela tinha vergonha de expressar emoções, especialmente chorar e, assim, Deirdre passou um bom tempo com o sósia de Bliss e a névoa em seu coração parecia ter se dissipado, como se um forte vendaval finalmente tivesse varrido tudo.
― Se você gosta tanto assim, pode levar para casa. ―
Deirdre pensou por um momento e decidiu contra isso, balançando a cabeça. O cachorrinho tinha amigos ali. Era ali que ele pertencia. Mas, se sentiu em paz quando saiu do café. Pelo lado positivo, sua mãe estava viva o tempo todo e iriam se reencontrar em breve.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Ciclo de Rancor