Ciclo de Rancor romance Capítulo 214

O tombo tinha machucado bastante. Doeu tanto que somado à chuva e ao frio, fazia todo o corpo de Deirdre tremer. Mas, a jovem não queria ceder e desanimar, por isso, conteve a vontade de chorar. Quando estava na prisão havia aprendido que suas lágrimas eram inúteis.

A chuva parou de cair sobre Deirdre e uma voz gentil de mulher disse:

― Você está bem? Você está sozinha na chuva. O que está acontecendo? ―

Deirdre se virou na direção da voz e a mulher ficou atordoada, perguntando, surpresa:

― Você não pode ver? ―

Os olhos de Deirdre eram desfocados e vazios, o que era um sinal óbvio de uma pessoa cega. A mulher não pôde deixar de suspirar. O que uma pessoa cega fazia sozinha na chuva e à noite?

― É quase inverno e o tempo hoje não está muito bom. Está muito frio. O que a trouxe aqui nas montanhas? ―

Antes que Deirdre pudesse responder, alguém chamou a mulher e ela atendeu. Então, enfiou um guarda-chuva nas mãos de Deirdre.

― Sinto muito, eu preciso ir. Acredito que você esteja tentando sair da montanha, certo? A plataforma fica à direita e o último ônibus chegará em meia hora. Você está em uma montanha, então terá que andar mais rápido, se perder esse ônibus, só conseguirá ir embora amanhã. Preciso voltar para o hotel, então não posso mais te fazer companhia. Tome cuidado. ―

A mulher se despediu de Deirdre e caminhou rapidamente até a figura alta e enorme parada na porta do mesmo hotel de que a jovem tinha sido expulsa.

Deirdre segurou o guarda-chuva e sentiu o calor remanescente dos dedos da mulher no cabo. Seus olhos arderam de lágrimas e ela achou a voz familiar, mas não conseguia se lembrar de quem era. A única coisa de que se lembrava da conversa era de que a mulher lhe dissera que a plataforma ficava à sua direita.

Então, se ergueu, estendeu a mão e, cuidadosamente, avançou passo a passo até sentir o corrimão gelado. Então, seguiu o lado esquerdo do corrimão para chegar aos assentos na plataforma.

A mulher tinha dito a ela que o último ônibus chegaria em meia hora para levá-la montanha abaixo. Com um suspiro, Deirdre levantou a cabeça para o céu distraidamente e ouviu a chuva tamborilando.

Talvez, aquele fosse, realmente, o melhor momento para deixar Brendan. O empresário não tinha influência sobre um lugar como Southyarn, então não seria capaz de alcançá-la por meio de suas conexões se ela estivesse disposta a se esconder.

O peito de Deirdre fervia de raiva, ao pensar que tinha sido expulsa do quarto e submetida à chuva e ao frio em um lugar desconhecido, porque, por um capricho de Brendan, ele queria transar com outra mulher. Mas, a imagem de Ophelia enchia sua mente descontroladamente e a fez se acalmar.

'Se eu for embora... não vou nunca mais ver minha mãe, não é?' Enquanto pensava consigo mesma, um raio caiu e um trovão rosnou no céu acima dela. A chuva estava ficando mais forte.

No salão de banquetes, Brendan ouviu a comoção do lado de fora. Ele não conseguia se acalmar enquanto ouvia o trovão lá fora e imaginava Deirdre sozinha no quarto, cega em um ambiente completamente estranho. Então, afrouxou a gravata e pousou o copo.

― Ainda tenho alguns assuntos urgentes para resolver. Preciso ir. Discutiremos isso mais durante a inspeção de amanhã. Me desculpe. ―

Antes que essas pessoas pudessem responder, ele havia saído do salão de banquetes e tomado o elevador até o décimo andar.

Lembrava-se de que a jovem nunca gostara de trovões. O motivo era algo relacionado ao pai ter morrido durante uma tempestade.

No passado, ela costumava se encostar na porta do escritório, com cara de choro, toda vez que uma tempestade caía e Brendan imaginou que Deirdre teria problemas para se acostumar, agora que estava cega e em um novo ambiente.

A porta do elevador se abriu, Brendan caminhou apressado para seu quarto e destrancou a porta, com o cartão de acesso. Entretanto, assim que entrou na sala, sentiu um cheiro doce e feminino.

Uma mulher estava deitada de lado na cama, revelando suas costas lindamente contornadas.

Brendan estreitou os olhos. Ele então desabotoou o colarinho, sentindo-se embriagado.

‘Por que Deirdre se tornou tão sensata? Ela é realmente capaz de usar essa tática para me apaziguar...'

Quando pensou que a mulher na cama talvez fosse tímida e não tivesse ideia do que fazer, seu corpo queimou de desejo instantaneamente.

― Quem te ensinou a fazer isso? Quem te deu essas roupas? ― Brendan deu um passo à frente e tirou a gravata.

A mulher virou o rosto corado:

― Senhor Brighthall... ―

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