Brendan não soube o que dizer e apenas focou a atenção no trânsito. Percebendo que não receberia resposta, Deirdre virou o rosto e apoiou a testa na janela do veículo. Assim, o percurso foi silencioso, enquanto iam para a antiga residência. Como Brendan havia informado à criadagem da família Brighthall com antecedência, esperavam pela chegada da jovem.
Quando Deirdre saiu do carro, Brendan disse:
― Sempre houve apenas uma pessoa em meu coração, e é você, Dee. Só preciso de mais tempo. ― O magnata não parou para visitar a casa. Em vez disso, foi embora.
Deirdre ainda não havia chegado à sala quando Madame Brighthall apareceu e correu para ela enquanto uma das criadas a chamava, de dentro da mansão:
― Não faça isso, senhora! Está frio e o vento está gelado! Espere que ela já vai entrar! ―
Deirdre ficou onde estava, com os pés fincados no chão quando Madame Brighthall se aproximou e cumprimentou, cheia de energia e bom humor:
― Deirdre, querida, Bren me disse que você viria para ficar por dois dias! ―
‘Brendan mentiu até para a mãe.’ a jovem pensou, balançando a cabeça, mas apenas assentiu, ao invés de dizer a verdade, enquanto a mulher mais velha segurava suas mãos e exclamava:
― Isso é ótimo! Isso é maravilhoso. Temos tudo aqui. Tudo o que você precisa e muito mais! Eu deveria preparar uma boa sopa quente para você! Vamos, entre! Mantenha esse seu corpo confortável e aquecido. ―
Deirdre ficou na residência por dois dias. A acomodação dificilmente exigia muita aclimatação, já que Madame Brighthall se dedicava completamente a fazer Deirdre se sentir bem-vinda e feliz. A criadagem seguiu o exemplo da patroa e esteve sempre à disposição para atender às vontades da jovem. Entretanto, mesmo assim, enquanto ia para a cozinha se servir de um copo d’água, Deirdre acabou ouvindo uma conversa:
― Perdoe minha franqueza, senhora, mas seu filho realmente gosta dessa mulher? Ele a colocou aqui, enquanto está grávida e ainda não veio visitar. Ele nem mesmo ligou para ela, nem uma vez! Para ser sincera, não sei o que nosso chefe está pensando... ―
Madame Brighthall estava prestes a repreender a criada quando avistou Deirdre parada à porta.
Horror imediatamente sombreou suas feições e lançou um olhar de reprovação para a empregada, antes de explicar rapidamente:
― Oh, Dee, não é nada disso, acho que Bren está muito ocupado com seu trabalho. Faz muito tempo que ele não volta aqui, sabe? E há tantas coisas pendentes de sua decisão. ―
Deirdre deu um leve sorriso, embora essa parecesse ser a extensão de sua reação.
― Não se preocupe, madame Brighthall. Eu entendo a situação dele. Eu dificilmente levaria isso para o coração. ―
Madame Brighthall suspirou aliviada, então convidou a jovem para uma conversa. No meio do caminho, entretanto, uma das criadas as interrompeu para falar com Madame Brighthall, em particular, e, quando a mulher voltou, parecia ser uma pessoa completamente diferente e Deirdre notou que até a mão da mãe de Brendan tremia de raiva.
― Algo errado, madame Brighthall? ―
― Não foi nada, querida. Nada mesmo ― a mulher se esforçou para ficar calma e deu um sorriso. ― Apenas algumas... coisas bobas e triviais sobre a residência. ―
Deirdre percebeu que a mulher escondia informações, então decidiu não perguntar nada. Depois de um tempo, Madame Brighthall declarou que tinha um lugar onde precisava estar.
― Onde você vai? ―
― Vou visitar um velho amigo, mas estarei de volta à noite. Se você ficar entediada enquanto eu estiver fora, peça à uma das criadas para te acompanhar ao jardim. Uma pequena caminhada deve ser benéfica para o bebê. ―
Com isso, Madame Brighthall se virou e saiu apressada, quase ansiosa demais. De seu lugar no sofá, Deirdre sentiu o ataque do tédio e disse à criada para ligar a TV.
Hesitante, a serviçal respondeu:
― Uh, a TV quebrou. Ainda não encontramos a chance de chamar alguém para arrumar. Talvez eu possa deixar você assistir a alguns programas de entrevistas no meu telefone? ―
O canto dos lábios de Deirdre se contraiu. 'A TV estava funcionando esta manhã!'
― Não há necessidade. Vou subir e descansar. ―
― Vou ajudá-la, então! ―
Deirdre se sentou na cama, mas não se sentia nem um pouco sonolenta. A julgar pelas reações de Madame Brighthall e da empregada, Deirdre tinha certeza de que algo deveria ter acontecido. Aquela incerteza e desconforto começaram a se transformar em um pavor silencioso, então decidiu aproveitar a brisa da varanda, de onde pode ouvir a conversa de uma das criadas com o jardineiro:
― O que você acha que Brighthall está tentando fazer? Essa moça está grávida, pelo amor de Deus! Ele está realmente pensando em enganar as duas? ―
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