Sentindo o cheiro diferente, no paletó de Brendan, Deirdre se afastou e disse, com sarcasmo:
― Ahhh, eu me sinto tão mal por você. Passar um tempo de qualidade com Charlene deve tê-lo esgotado, mas o dever o obrigou a continuar fingindo ser um bom pai e voltar para casa, para me acompanhar a este insignificante pré-natal! ―
Brendan enrijeceu. Seus lábios se separaram como se ele quisesse dizer, algo antes de desistir e responder, em voz triste:
― Vamos. Vou levar você até o carro. ―
― Oh, não precisa se incomodar comigo. ― Deirdre vestiu o casaco e sua hostilidade era palpável quando caminhou até o veículo, o mais rápido que sua parca visão permitia, até ocupar o assento do passageiro.
A viagem foi silenciosa e nenhum observador acreditaria que, alguns dias atrás, aqueles dois eram um casal que se dava as mãos, sempre que paravam em um semáforo.
A dupla chegou ao hospital e foi encaminhada para o consultório médico do obstetra. Quando o monitor exibiu a imagem, em tons de cinza, do bebê, enquanto a médica realizava o ultrassom, Brendan sentiu a palma da mão suar ao ver. Era difícil imaginar o quão pequeno era o bebê deles. Não tinha nem 9 cm de comprimento.
― A saúde da mamãe andou muito frágil recentemente, não foi? Sinceramente, vocês devem tomar cuidado, isso é prejudicial para a criança ― comentou a médica, sorrindo. ― Mas o bebê está bem e estável. Todos os sinais apontam para a expectativa de um bebê saudável e vigoroso! ―
― Essa é uma boa notícia ― Brendan instintivamente moveu sua mão para a da jovem deitada na maca. ― Não é, Dee? ―
Mas, Deirdre se esquivou e evitando fazer contato visual com Brendan, perguntou:
― Já terminamos? Eu gostaria de ir ― ela disse categoricamente, sem mostrar nenhum sinal de alegria maternal. Era como se o bebê não tivesse nada a ver com ela.
O olhar de Brendan escureceu:
― Dee, esse é o seu filho também ― ele respondeu em voz baixa.
Havia algo de familiar no que ele disse e ela se lembrou de que era a mesma frase que o monstro havia dito enquanto pretendia realizar um aborto, em Surstate. Naquele dia, emoções de raiva e agonia transbordavam dele. Agora que pensava sobre isso, quase parecia que o homem planejava sempre cem passos à frente.
― Você está errado ― Deirdre retrucou, em um tom robótico. ― Ele não é nada meu. Eu sou apenas um recipiente para trazer seu filho ao mundo. Se não fosse por você usar minha liberdade como moeda de troca, eu teria abortado há muito tempo. Para mim, este não é meu filho. É apenas um amontoado de células que está se alimentando de mim. ―
A resposta foi brusca e doeu. Brendan soltou um suspiro baixo e trêmulo, com os dedos tremendo. Ele segurou os ombros da jovem e a forçou a olhar para ele.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Ciclo de Rancor
Cadê o restante?...
😣...
Terá mais capítulos?...
Gostaria de ler o restante do livro...