Ciclo de Rancor romance Capítulo 86

Ou seja, todos os problemas de Deirdre sempre chegavam no mesmo vetor: Brendan. Sempre que algo atrapalhava sua vida, seus objetivos e, até mesmo, suas menores decisões, o monstro era seu obstáculo.

Se ela não podia escolher se queria ou não engravidar, o que ela era para ele. Uma ferramenta?

Depois de um tempo, Brendan acordou. Sua cabeça estava pesada e dolorida e a febre não havia diminuído. Pelo contrário, havia piorado.

A primeira coisa que ele fez quando abriu os olhos foi procurar Deirdre, que deveria estar deitada ao lado dele. Quando não a viu, seu coração disparou e ele se levantou às pressas, olhando ao redor até encontrar a jovem encolhida no sofá, com o rosto voltado para a janela, embora não pudesse ver nada.

A luz do sol poente envolvia a pequena e magra Deirdre, fazendo-a parecer um retrato de pura melancolia.

Brendan se sentiu culpado. Agora que seus pensamentos estavam tranquilos, percebia que tinha abusado de Deirdre, de maneira inadmissível. Por isso, sentindo um aperto no coração, pegou o casaco e, caminhando até a jovem, o vestiu em Deirdre, perguntando:

― Você não está com frio? Mesmo que não esteja disposta a dormir comigo na cama, por que não pegou um cobertor para você? ― Como esperado, Brendan sentiu o frio nas mãos de Deirdre ao tocá-las. Ele franziu a testa e sua dor de cabeça piorou.

Para a surpresa de Brendan, Deirdre agarrou sua mão, quando Brendan estava prestes a soltá-la. O coração do homem deu um pequeno salto de alegria e expectativa, esperando que receberia uma palavra de carinho. Entretanto, Deirdre disse:

― Posso pedir a Sam que me compre um contraceptivo? ―

O pouco calor e alegria no coração de Brendan se dissipou em um instante, substituído por um calafrio. Era como se ele tivesse subido nas nuvens apenas para ser jogado de volta à terra.

Reprimindo sua raiva, Brendan perguntou:

― Você estava sentada no sofá só para esperar que eu acordasse e me fizesse essa pergunta? ―

Deirdre não respondeu. Mas, levantou a cabeça e apertando a mão de Brendan, implorou:

― Por favor, faça o que te peço. Não será eficaz se eu tomar mais tarde. ―

― É melhor se for ineficaz! ― Brendan, se livrou da mão de Deirdre. Enquanto metade de seu rosto estava envolto no escuro, ele curvou os lábios em um sorriso de escárnio ― Essas coisas podem prejudicar sua saúde. Esqueça isso. Se não engravidar, tudo bem. Caso contrário, apenas carregue a criança. ―

Deirdre sentiu o peito apertar quando ouviu Brendan dizer 'carregue a criança'. Ela não podia acreditar que Brendan diria isso. No entanto, sua incapacidade de ver a expressão facial de Brendan a deixou ainda mais desesperada. Afinal, ela não podia distinguir se ele estava ou não falando sério.

― Você está brincando? ―

Brendan reagiu segurando o queixo de Deirdre. Por causa da febre, as pontas de seus dedos estavam bastante quentes. Entretanto, foram aquelas mesmas pontas quentes que enviaram um arrepio gelado por todo o corpo de Deirdre.

― O que você acha? ― Brendan perguntou, em resposta ― Você acha que eu mentiria para você? Nunca se esqueça de que você me deve um filho. Você abortou nosso primeiro filho, sem minha permissão. Portanto, você deve carregar outro para mim. ―

Pensar no rosto rechonchudo de uma criança fez com que um sorriso gentil aparecesse no rosto de Brendan. No entanto, Deirdre sentiu um arrepio na espinha ao pensar que Brendan estava falando sobre o filho deles e culpando-a por ter feito um aborto, sem sua permissão. Ele também disse que, inclusive, ela deveria carregar outro bebê!

Como uma espada, as palavras de Brendan esfaquearam o coração de Deirdre e o torceram. Ela começou a chorar, pensando na monstruosidade da morte daquela criança e pela dor que ela sofria todos os dias na prisão.

Ela esperava conceber a criança. Mesmo quando foi espancada ou empurrada escada abaixo, fez o possível para protegê-la, esperando começar uma nova vida com ela quando saísse da prisão. Mas, as pesadas medicações, que foi obrigada a tomar, cortaram todas as suas esperanças, ao lhe causar um aborto mais do que traumático.

Deirdre sacudiu a cabeça. Ela queria esquecer o passado. Entretanto, de alguma forma, Brendan a culpava pelo aborto e agora exigia que desse à luz a outro filho.

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