Helena sabia muito bem que, ao dizer a verdade, não haveria mais possibilidade de convivência pacífica entre ela e Bruno.
Mas, quando a decepção de uma pessoa se acumulava até o limite, chegava um momento em que ela já não se importava mais com nada e só desejava deixar tudo para trás.
Ela ergueu a cabeça e encarou o marido que um dia amou profundamente. Com crueldade, expôs sua própria ferida, rasgando ela sem piedade diante de Bruno. Ao falar, sentiu seu coração doer tanto que quase ficou dormente.
— Bruno, você não precisa mais considerar nada. Não só o cargo no Grupo Glory, mas até o título de sua esposa... Eu também não quero mais, porque eu não posso...
A palavra "engravidar" nunca chegou a ser dita por completo.
O celular de Bruno tocou.
Ele manteve o olhar fixo no rosto de Helena enquanto atendeu a ligação. Do outro lado da linha, a voz aflita da secretária Juliana soou apressada:
— Sr. Bruno, a situação da Srta. Camila é muito grave. O senhor precisa vir agora.
— Entendido.
Bruno desligou o telefone e disse a Helena:
— Falamos disso outra hora.
Depois de dizer isso, caminhou em direção ao carro preto estacionado ao lado e se preparou para partir.
Helena continuou parada no mesmo lugar. Uma rajada de vento frio soprou, fazendo seu corpo inteiro estremecer.
Primeiro, ela sussurrou o nome dele. Depois, sua voz ficou mais alta, até que, por fim, gritou com toda a tristeza que carregava em sua alma.
— Bruno, você não pode me dar nem um minuto do seu tempo? Depois de quatro anos de casamento, eu não valho ao menos isso para você?
Bruno segurou a maçaneta do carro e respondeu com frieza:
— Falamos depois que a Camila sair de perigo.
Pisando no acelerador, partiu sem hesitar.
...
A noite era desoladora, mas ainda assim não chegava nem perto da dor que Helena sentia.
Ela permaneceu imóvel, olhando na direção por onde Bruno desapareceu. Então, murmurou, completando a frase que não conseguira terminar antes:
— Bruno, eu não posso engravidar.
O vento da noite era forte, mas mesmo assim, ela repetiu:
— Bruno, eu não posso engravidar!
...
Cada vez que dizia aquelas palavras, era como se chicoteasse cruelmente o amor que um dia sentiu por Bruno, como se zombasse impiedosamente de sua própria insistência no passado.
Ela entregou sua juventude, deu tudo de si, e, no coração de Bruno, isso não tinha o menor peso.
Sua tristeza e dor nunca tiveram nada a ver com ele.
De repente, Helena sentiu vontade de se libertar, de se livrar das correntes que o título de esposa de Bruno lhe impôs nos últimos quatro anos.
Depois desta noite, ela não seria mais a esposa de Bruno.
Ela seria apenas Helena.
E viveria apenas para si mesma.
Helena baixou a cabeça e olhou para aquele traje ridículo.
No mundo dos negócios, Bruno precisava dela vestida assim, mas, fora dele, achava ela monótona e sem graça. Agora, até ela mesma sentia que aquela roupa era uma prisão absurda. Como pôde um dia acreditar que, ao se moldar para agradar um homem, conquistaria seu amor?
Que piada patética!
...
Quando Ana chegou, Helena já havia tirado o blazer. A camisa de seda por baixo estava com dois botões abertos, revelando uma pequena porção de pele alva. Os longos cabelos negros, antes presos, agora deslizavam soltos por suas costas finas, conferindo-lhe um ar de sensualidade indescritível.
Encostada no carro, suas pernas longas e pálidas se estendiam de maneira despreocupada.
Ela virou o rosto para Ana e perguntou, em um tom suave:
— Tem um cigarro? Quero fumar um.
O peito de Ana se apertou.
Como assistente pessoal de Helena, ela trabalhou ao seu lado por quatro anos. Conhecia melhor do que ninguém o amor profundo que Helena sentia por Bruno e, mais do que isso, sabia o quão humilhada ela estava agora.
Ana não tinha cigarros consigo, mas deu um jeito de comprar um maço.
Helena nunca havia fumado antes.
A primeira tragada fez com que engasgasse, lágrimas brotavam em seus olhos.
No meio daquela fumaça sufocante, ela riu enquanto chorava, desfazendo seu amor por Bruno em mil pedaços, transformando cada fragmento em ódio, cravando-os em seus próprios ossos e coração...
...
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco
Agora me diz porque fazer propaganda de um livro e não postar sequer uma atualização…...