Despedida de um amor silencioso romance Capítulo 1966

Denise o encarou, completamente perplexa.

“Por que tá aí fora desse jeito? Não tá morrendo de frio?”

Ao ouvir a voz dela, Matheus levantou a cabeça devagar. O rosto pálido, o corpo enrijecido pelo frio e os olhos cheios de sofrimento.

“Até que enfim você voltou.”

Se ela tivesse demorado mais um pouco, ele podia ter congelado bem ali.

Sem dizer nada, Denise correu para destrancar a porta.

Matheus entrou logo atrás e desabou na cama, se enrolando no cobertor enquanto tremia e espirrava sem parar.

“Você podia ter me avisado que a porta tranca sozinha”, reclamou entre um espirro e outro. “Só fui dar uma voltinha, e quando voltei, já estava trancada.”

“A maioria das portas não são assim?”, Denise perguntou, sinceramente confusa. “Como é que você não sabe disso?”

Matheus fez uma careta. “Claro que não!”

Suspirando diante do estado deplorável dele, Denise tirou a comida que tinha trazido do trabalho.

“Você deve estar morrendo de fome. Vou esquentar isso e a gente já come.”

O estômago de Matheus roncou alto em resposta. Assim que ouviu que teria comida, seu rosto se iluminou de alegria.

Carregando as sobras, Denise foi até a varanda onde ficava o fogareiro por indução e parou na mesma hora. Sobre o fogão, havia uma panela cheia de uma massa grudenta, toda empapada. Ao lado, pilhas de pratos sujos, e no lixo, mais macarrão encharcado e jogado fora.

“Matheus!”, ela gritou, com a voz cortante de raiva.

“O quê?”, ele respondeu lá de dentro, sem entender.

“Vem aqui agora!”, ela berrou.

Ainda enrolado no cobertor, Matheus se arrastou até lá com uma expressão de impaciência.

“O que foi agora?”

“Você fez isso aqui tudo?”

Matheus assentiu com naturalidade, sem nem tentar se justificar.

“Fui eu. Não sei por quê, mas o macarrão que eu faço não tem o mesmo gosto do seu, então... não comi.”

“Você cozinhou o pacote inteiro?”

“Sim. Parecia pouco seco, mas depois que cozinhou, virou um monte”, explicou, como se fosse a coisa mais lógica do mundo.

Denise estava prestes a explodir. Como é que esse homem sobreviveu até agora?

Enquanto observava, Denise franziu a testa.

“Essas roupas não parecem muito limpas... Você usou sabão, né?”

Matheus piscou, confuso.

“O que é isso?”

Denise ficou alguns segundos em silêncio, completamente chocada, antes de suspirar. E assim começou mais uma aula, dessa vez, sobre como lavar roupa direito.

Quando finalmente terminaram tudo, já era quase uma da manhã. Por fim, puderam comer. Sentaram-se à mesa, devorando a comida com entusiasmo.

Enquanto comia, Denise murmurou:

“Me arrependo de ter aceitado cinquenta. A partir de amanhã, quando começar a ganhar dinheiro, vai me pagar setenta por dia.”

Setenta ainda era uma quantia ridícula pra alguém como Matheus.

“Tá bom, tá bom”, ele disse, acenando com a mão, como se nem fosse grande coisa.

Depois de uma refeição satisfatória, Denise estava exausta demais pra lidar com algo mais. Deixou a louça com Matheus e foi se lavar.

“Só lembra de uma coisa”, avisou, apontando o dedo pra ele. “Nunca entre no banheiro enquanto eu estiver lá. Nem pense em espiar. Entendeu?”