Melinda de Sá
Minhas costas me lembrava a todo momento que eu tinha uma dívida gigante com a seguradora, que meu carro estava destruído, que minhas memórias estavam me deixando doida e que eu não devia mexer no celular enquanto dirigia.
Já era quinta feira e eu tinha que ficar de repouso. Joice veio me visitar no dia anterior e contei para ela sobre as minhas alucinações, que ela tentou a todo custo me convencer de que eram memórias. O pior era que ela usava argumentos bons em relação a isso, o que me deixava cada vez mais confusa.
Essa história de acidente deve ter me atendido uns 3kg, ficar em casa sem fazer nada me fazia atacar a geladeira, e todos que iam me visitar levavam alguma coisa.
Minha mãe e meu irmão resolveram me visitar, e levaram uma linda torta de morango que ataquei sem medo de engordar. Joice preparou um bolo de prestígio que acabou em dois dias. Maria me deu uma caixa de bombons que não preciso dizer que ninguém nem viu a cara.
Além de gorda acabaria diabética ao final dessa gravidez, e foi isso que a doutora Marilia me alertou em uma visita, que deveria tomar cuidado com o que eu comia, porque se desenvolvesse pressão alta teria sérios problemas. E lá iria eu tentar conter minhas vontades.
Diogo tinha assumido meu lugar durante essa semana que tinha ficado fora, ele havia ido me visitar no meu apartamento e ainda levou flores. Vincenzo, que parecia não gostar nem um pouco nele, já eu estava adorando o jeito dele.
Falando em Vincenzo, esse garoto está a estranheza em pessoa, está cuidadoso como sempre, porém parece estar fazendo as coisas
minuciosamente, como se tivesse pisando em ovos quando está comigo. Ontem veio assistir ao jogo na minha casa, ainda estava de terno pois tinha vindo direto do tribunal, e parecia que estava incorporando uma pessoa séria.
Devia estar doente. Porém na sexta feira recebi a visita que eu nunca imaginaria receber. A campainha tocou, eu me enrolei no cobertor que usava e fui abrir a porta. Dei de cara com uma jovem senhora de cabelos pretos com alguns fios brancos, olhos azuis brilhantes e duas
covinhas em cada bochecha, trazendo assim uma semelhança enorme com seu filho.
- Dona Jaqueline? - apertei os olhos tentando entender a presença dela ali.
- Posso entrar?-pediu com uma voz doce.
Assenti e dei passagem para ela, que caminhou até o sofá e se sentou, colocando sua bolsa e uma sacola no seu colo. Fechei a porta já esperando ser morta, caminhei devagar até onde ela estava, e me sentei um pouco distante.
-Então..- falei tentando puxar assunto.
-Olha - ela suspirou. - Eu vim aqui porque sinto que não posso cometer o mesmo erro novamente.
— Como assim?
— Com minha primeira nora eu não agi nada certo, não estive presente durante a gravidez dela, e cometi inúmeros erros com ela. Hoje vejo o relacionamento que minha neta tem com a Elisa, a outra vó dela, e confesso que sinto falta daquilo, então estou aqui porque não quero falhar com meu outro filho, com meu outro neto.
- Dona Jaqueline…
— Calma, querida. Deixe-me terminar!- ela se aproximou e colocou a mão no meu braço.
— Sei que nada disso vai apagar algumas coisas que eu fiz no passado, que magoaram demais meus filhos, porém eu estou aqui me redimindo primeiramente com você, porque quero participar da sua gravidez.
- Olha..
- Não precisa dizer nada, querida.- me interrompendo mais uma vez. - Então já foi ao médico?
— Fui na semana passada.
- Fiquei sabendo do acidente, já se sente melhor?
- Sim, só algumas dores nas costas. Dona Jaqueline, eu não sou assim sua nora sabe. tentei explicar da melhor forma possível.
- Ah você sabe, isso é detalhe. Sempre que via você e meu filho junto nas festinhas, na escola e em todo canto, sabia que no final vocês ficariam juntos.
-A gente não está junto.- fiquei vermelha.
- Não seja boba Melinda, você vai acabar sendo. Posso não ser a melhor mãe do mundo, mas ainda tenho instintos de mãe.
- Nós somos apenas amigos.
Que história era essa de instintos de mãe? Colocando eu e Vincenzo como um casal? Meu coração estava acelerado, e minha cabeça já começava a latejar com as coisas que ela estava falando.
- Bom, deixe isso para o futuro. Olha o que eu comprei! - me estendeu a sacola.
Dentro tinha um sapatinho branco de tricô, bem pequenino, mesmo tendo minha casa repleta de roupinhas, eu ainda babava nessas coisas fofas.
Coloquei entre os dedos e brinquei fingindo andar no ar.
- Obrigada, é lindo.
- Imagina. Promete que vai me deixar informada sobre tudo? - a dona Jaqueline sempre foi muito séria, e sempre colocou o seu trabalho na frente de todos.
- Pode deixar, eu vou avisar tudo.
- Agora tenho que ir, meu trabalho me espera.
A levei até a porta e ela me abraçou passando a mão na minha barriga.
— A vovó tem que trabalhar viu mas seja bonzinho com a mamãe - ela falou, com carinho.
Foi embora me deixando totalmente confusa. Mandei uma mensagem de voz para o Vincenzo contando da visita ilustre.
Ainda pensativa fui preparar uma sopa de legumes para jantar, fiz a receita que minha mãe tinha me ensinado. Fui tomar um banho quentinho enquanto a panela pegava pressão.
Vesti um pijama fofinho e fui ver minha sopa.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Engravidei a minha melhor amiga
Cadê os próximos capítulos......
Um livro maravilhoso até agora, não vejo a hora de liberarem mais capítulos...