Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 139

Com a voz trêmula, chamei, estendendo as mãos igualmente trêmulas para remover o lençol branco.

Meus dedos deslizaram pelo pano, sem me permitir vê-la uma última vez.

"Glória, me perdoe, desculpe."

Com as mãos apoiadas ao lado do corpo de Glória, fiz minha confissão.

"Marlene, está tudo bem."

De repente, uma voz suave e feminina soou ao meu lado, e por um momento pensei estar alucinando.

Quando levantei o olhar, Glória estava ao meu lado.

Ela estava exatamente como eu me lembrava, ainda tão vívida e gentil.

Eu não conseguia acreditar no que via. Era o primeiro espírito como o meu que encontrava desde que morri.

"Glória?" - Tentei chamar seu nome, incerta.

"Marlene, finalmente te encontrei. Só lamento que precise partir agora."

"Partir? Para onde você vai?"

Apressei-me a segurar sua mão, que, embora fria, parecia sólida como mármore.

Eu realmente toquei sua mão!

Ela lançou um olhar amoroso para os pais ao lado, que exigiam justiça por ela: "Meu único arrependimento é não poder envelhecer com eles... e aquele homem…"

A imagem daquele jovem de feições delicadas, que buscava Glória no aeroporto, veio à minha mente.

"Na verdade, fui violada no Recanto Azul. Eu sabia que não era digna dele... alguém tão maravilhoso merece alguém melhor. Eu queria estar ao lado dele, vê-lo casar-se, ter filhos, e, entregar-lhe um buquê de íris para dizer o quanto o amava no dia do seu casamento. Mas eu não posso mais ficar ao seu lado."

O corpo de Glória foi se tornando cada vez mais translúcido... como isso era possível?

Ela havia acabado de morrer pouco antes.

"Marlene, meu tempo está se esgotando. Tenha cuidado com quem te matou, eu vi aquele homem na oficina."

Algo parecia errado.

Tentei abraçá-la, mas ao apertar, seu corpo se desfez em pedaços, desaparecendo no mesmo instante.

O suspeito estava na oficina, mas com centenas delas na cidade, onde essa pessoa poderia estar escondida?

Qual era sua ligação com Mirella?

Por que Glória desapareceu, enquanto eu continuava presa entre a vida e a morte!

O que deveria fazer para me vingar?

O hospital forneceu provas de que o corpo de Glória já estava fraco e debilitado. A família Machado não teve escolha senão levá-la de volta para o funeral.

Mas havia um olhar confuso entre as sobrancelhas de Ricardo. Ele sugeriu que visitasse nosso quarto de núpcias.

Nelson concordou imediatamente.

Talvez ele também achasse tudo muito coincidência e esperasse, junto com Ricardo, esclarecer a verdade.

Quando chegamos ao nosso quarto de casamento, Ricardo logo notou a estátua no jardim.

Meu coração disparou. Ali estava escondido meu sangue e minha carne. Ele finalmente descobriria?