Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 174

Se a atitude de Nelson já parecia estranha há pouco, e o desmoronamento da estátua na frente de todos deixou os presentes completamente atônitos.

Mesmo os policiais mais experientes jamais haviam presenciado algo assim. Por um longo momento, ninguém se moveu. O silêncio era quase tangível, quebrado apenas pelo som do vento cortando a chuva.

O policial que havia feito o primeiro furo na escultura falou, com o rosto marcado pelo temor: "Capitão, eu juro que segui todos os protocolos. Não foi culpa minha."

Ricardo manteve o semblante sério. Lembrando-se do comportamento estranho de Nelson momentos antes, ele parecia ponderar se, de fato, algo além do natural havia ocorrido.

Histórias de fantasmas percorrem o mundo há milênios, e, embora ele nunca tivesse presenciado nada do tipo pessoalmente, não podia negar que algumas dessas lendas deixavam rastros nas tradições populares.

Ele ergueu a mão, pedindo silêncio ao policial.

Minha mãe e Nelson, incapazes de aceitar a realidade, se lançaram sobre os pedaços da escultura, expressando uma dor que parecia impossível de descrever: "Minha filha, minha pobre filha! Você teve uma morte tão trágica!"

"Mamãe está arrependida, minha filha... Volte! Mamãe promete que nunca mais vai brigar com você."

"Você está brincando com a mamãe, não é? Por favor, volte para casa. Está bem?"

Nelson, por sua vez, ajoelhado na poça, recolhia freneticamente os pedaços da escultura, tentando segurá-los como se fossem partes de mim. Um policial ao lado rapidamente tentou detê-lo.

"Sr. Lopes, mantenha a calma, por favor. Estes fragmentos são provas importantes. Peço que se afaste imediatamente desta área."

Mas os olhos de Nelson, vermelhos como brasas, lançavam olhares furiosos para todos ao redor.

Ele parecia um louco emergido das profundezas do inferno, tomado por uma raiva insana: "Afastem-se! Saiam daqui! Tirem suas mãos imundas! Não toquem na minha Marlene!"

"Sr. Lopes, se continuar agindo assim, seremos obrigados a tomar medidas severas."

No entanto, Nelson parecia alheio a qualquer palavra. Apenas um pensamento dominava sua mente:

"Marlene, não tenha medo. Estou aqui. Eu vim te levar para casa."

Dario, que até então observava à distância, decidiu intervir. Sua figura imponente atravessou o caos, mesmo que o cansaço fosse evidente em seus passos. Apesar da idade e das dificuldades para caminhar, ele avançava com a firmeza de um comandante veterano.

Erguendo sua bengala, ele golpeou Nelson nas costas com força suficiente para fazê-lo estremecer: "Seu ingrato! Você não soube valorizá-la enquanto estava viva, e agora que Marlene se foi, você ainda perturba o descanso dela!"

Nelson, mesmo atingido, não emitiu som algum. Apenas continuou chorando, abraçando os pedaços como se fossem tudo o que lhe restava no mundo. Ele soluçava como uma criança desamparada: