Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 183

Já tinha traçado um limite definitivo com Marlene.

Embora, na superfície, ela tivesse morrido em um acidente, a verdade era bem diferente.

Ela morreu ignorada por seus entes queridos.

Se ao menos uma única pessoa tivesse se levantado para me proteger, para cuidar de mim depois que Nelson fugiu do casamento, talvez eu não tivesse morrido sozinha à beira do rio naquela noite.

Para mim, já não havia mais qualquer vínculo com os parentes do passado. Eu só tinha uma mãe agora, e ela era Bianca.

Eliana me olhou, de braço dado com Bianca, com um sorriso doce nos lábios. Sua expressão congelou de repente, como se não soubesse o que pensar.

Bianca, com a voz suave, falou: "Você já está tão crescida e ainda gosta de ficar colada em mim. Sra. Barbosa, não se incomode, por favor."

Eliana me fitou diretamente, e lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.

Sua voz embargada saiu entrecortada:

"Minha filha também gostava de ficar assim comigo, mas... mas eu a perdi."

Ela levou as mãos ao rosto e começou a chorar de forma inconsolável.

Era verdade.

Antes de Mirella voltar para a família Barbosa, nosso relacionamento sempre foi muito próximo.

Ela me amava, e eu era como uma princesa que ela cuidava com todo carinho. Sempre preparava meu prato favorito quando voltava do trabalho.

Ela sabia que eu sofria com cólicas menstruais e fazia questão de preparar um caldo especial nesses dias.

Lembrava-se de tudo que eu gostava e colocava esforço em cada detalhe no meu aniversário.

Foi Mirella quem, pouco a pouco, nos distanciou.

Não sabia exatamente quando, mas ela parou de me levar para fazer tratamentos de beleza. Nas compras, só se preocupava com o que Mirella queria.

Tudo o que Mirella desejava, eu tinha que ceder sem hesitação.

Se eu demonstrasse qualquer sinal de descontentamento, era imediatamente taxada de ingrata e sem coração.

Passei por ele sem demonstrar qualquer emoção, caminhando em direção ao centro da sala de velório.

Havia uma pessoa ajoelhada diante do meu grande retrato.

Nelson estava ajoelhado sobre os frios azulejos. Mesmo vestindo um terno perfeitamente ajustado, e não conseguia esconder sua desolação.

As pessoas ao redor sussurravam: "Dizem que foi o Sr. Lopes quem fugiu do casamento, e por isso a Sra. Barbosa não suportou e se jogou no rio. Só agora conseguiram recuperar o corpo."

"Não pode ser… Já passou mais de um mês. Como será que está o corpo?"

"Eles não eram amigos de infância? Por que ele fugiria do casamento?"

"Quem sabe? Talvez ele tenha se cansado depois de tanto tempo juntos. Mas é uma pena pela Sra. Barbosa, uma beleza que se foi tão cedo."

"Ah, morrer por causa de um homem... que desperdício."

A polícia ainda estava investigando e não divulgou a verdadeira causa da morte.

Então, para todos os outros, eu não passava de alguém que sucumbiu ao amor, que se suicidou por um homem.