Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 188

A noite estava silenciosa e densa.

Era a primeira noite após meu casamento com Nilton.

Tínhamos acabado de assistir a um espetáculo memorável.

Os membros da família Barbosa estavam mergulhados em profunda dor, enquanto Nelson e Mirella haviam sido levados pela polícia para interrogatório.

Isso aliviou um pouco o peso que carregava no coração.

Embora não fosse o suficiente para compensar todo o sofrimento que enfrentei antes da morte, acalmou parte do ódio que ainda ardia em mim.

Eu deveria conseguir dormir tranquilamente agora.

Apesar de estar em um ambiente que não me era familiar, meu subconsciente dizia que Nilton não me faria mal. Essa certeza me trouxe um inesperado sentimento de segurança.

Antes mesmo de minha chegada, ele já havia preparado uma cama de casal para mim, cuidadosamente escolhendo roupas de cama cor-de-rosa, como se soubesse que cores delicadas eram do agrado das mulheres.

Até mesmo as bordas dos travesseiros eram adornadas com renda branca, transmitindo uma sensação acolhedora e reconfortante.

Para uma jovem de apenas vinte anos, não era verdade que eram atraídas por esses toques suaves e femininos?

Pensando nos anos que ficaram para trás, percebi como passei a maior parte do tempo usando roupas formais. Até meu cabelo vivia preso de maneira impecável, compondo a imagem de uma mulher rigorosa, quase como uma diretora severa.

Embora eu tivesse apenas 28 anos ao morrer, minha mentalidade era tão envelhecida quanto a de alguém com o dobro da idade.

Apática e desgastada, não era surpresa que Nelson frequentemente me achasse entediante. Embora minha falta de interesse fosse majoritariamente por causa dele.

Agora, livre dessas correntes, podia finalmente viver meus dias como queria.

Escolhi um pijama de manga longa em um tom suave de rosa, simples, mas adequado, mesmo diante de Nilton.

O único inconveniente era que ele e eu compartilhávamos o mesmo banheiro.

O espaço era amplo, com áreas seca e molhada separadas e até uma banheira grande. Havia também duas pias, lado a lado.

A dele era um pouco mais baixa, provavelmente para se ajustar melhor às suas necessidades.

Seu lado era minimalista, com apenas sabonete líquido, enxaguante bucal e um aparelho de barbear à vista.

Já o meu lado era repleto de produtos de cuidados pessoais, desde limpadores faciais até itens de maquiagem, todos de marcas internacionais renomadas, ainda intocados.

Adentrando um pouco mais, notei que toalhas, shampoos e géis de banho também estavam impecavelmente organizados.

Ele me olhou seriamente, buscando minha concordância.

Sorri. Na verdade, nunca esperei por uma cerimônia de casamento, pois a última só me trouxe tragédia.

Dizer aquilo diante de todos foi apenas para provocar Nelson, eu ainda tinha meus traumas.

"Compreendo. Por mim, tudo bem."

Ele me olhou por um instante mais, sem dizer mais nada: "Vá dormir."

"Está bem."

Talvez o corpo que agora habitava estivesse esgotado, pois o sono veio rapidamente. Acordei no meio da noite, com sede.

Ao abrir os olhos, notei alguém parado ao pé da cama.

Era Nilton. Ele me observava intensamente, com seu olhar carregando um misto de constrangimento por ter sido pego.

Nossos olhares se encontraram, e eu pigarreei levemente: "Sr. Lopes, precisa de algo?"