Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 299

Embora nos tenhamos encontrado apenas duas vezes, todos os anos eu recebia um cartão de felicitações no Ano Novo.

Lembrava-me bem da primeira vez que o vi. Ele era magro, moreno, e quase não conseguia sustentar o olhar quando falava comigo.

Com o passar do tempo, ele cresceu. Seu rosto ficou mais claro, e aquele olhar tímido deu lugar a algo mais confiante e firme.

Nunca imaginei que o pequeno garotinho, que se escondia atrás das pernas da avó, seria a mesmo que, agora, se levantaria para me proteger.

Henrique começou a dizer: "A Sra. Marlene Barbosa também fez doações com o próprio dinheiro para algumas famílias carentes daquela vila além de doar o prêmio para a fundação. Devido à distância, poucas pessoas puderam vir hoje, mas este menino, Nicolas Oliveira, é um das beneficiadas. Nicolas, diga-nos, a pessoa que te ajudou está aqui no palco?"

Nicolas, que agora devia ter em torno de sete anos, já mostrava sinais de maturidade.

Seu olhar buscou entre as pessoas no palco, atravessando Mirella sem parar, até que seus olhos pousaram em mim. Por um breve instante, eles brilharam com alegria, mas logo a luz se apagou.

Ele apontou para mim: "A Srta. Barbosa não está aqui, mas esta senhorita se parece muito com ela. Só tem uma diferença: a Srta. Barbosa não tinha uma pinta vermelha na testa."

Com essas palavras, todo o plano de Mirella começou a desmoronar.

Henrique olhou então para os outros: "Sr. Carvalho, quem realmente fez as doações todos esses anos? A Sra. Marlene Barbosa pode ter partido, mas está olhando por nós de algum lugar e, com certeza, deseja que a verdade venha à tona."

Pedro Carvalho subiu ao palco, visivelmente emocionado, os olhos avermelhados.

Sua voz carregava tristeza: "Só agora fiquei sabendo da morte da Sra. Barbosa. Ela era uma pessoa tão boa, tão generosa. Não merecia um destino tão cruel."

Ele então apresentou uma pasta: "Aqui estão todos os registros das doações feitas pela Sra. Marlene Barbosa ao longo dos anos. Muitas provenientes de leilões de arte, todos devidamente autenticados por instituições profissionais. Quem tiver dúvidas pode confirmar com o departamento fiscal."

Seus gestos, pequenos como estrelas no início, convergiam naquele palco em uma luz intensa, iluminando minha história.

Enquanto isso, os representantes da família Barbosa no palco pareciam cada vez mais ridículos!

O diretor, um homem adulto, também estava com os olhos cheios de lágrimas: "Marlene... ela..."

Ele tentava falar, mas sua voz tremia. No fim, foi vencido pela emoção e começou a chorar baixinho.

Após algumas palavras de consolo de Dandara, ele conseguiu se recompor o suficiente para continuar:

"Marlene sempre apoiou nosso orfanato, sempre foi altruísta. Nunca quis reconhecimento pelas boas ações que fazia! É uma injustiça divina! Uma pessoa tão boa desapareceu de forma tão inexplicável! E, ainda por cima, alguém teve a coragem de roubar seus méritos e manchar sua honra depois de sua morte. Aqueles que a insultaram hoje, olhem para si mesmos! Ela nunca pediu nada de vocês. Nunca lhes devia nada. Quem são vocês para insultá-la? Vocês têm esse direito?"