Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 377

Esse pai poderia ser dispensado, mas a empresa, não.

Naquela noite, mencionei o assunto durante o jantar, e Otávio me observou de cima a baixo com um olhar crítico: "Você quer estagiar na empresa?"

Eu sabia que, para ele, eu nunca seria comparável a Renata.

"Sim. Não vou te colocar em uma posição desconfortável. Pode me colocar em vendas ou em uma função básica. Vou mostrar meu valor pelos meus próprios resultados. Você não quer focar mais no mercado interno? Posso te ajudar com isso."

"Acha que tem capacidade?"

"Por que não tentamos para descobrir?"

Pela primeira vez, Otávio não me desprezou.

Ele apenas assentiu e disse com calma: "Certo. No próximo ano, enviarei seu currículo para o RH. Se você passar na entrevista e qual posição conseguir, dependerá exclusivamente das suas competências."

"Combinado."

"E mais uma coisa, não apareça no jantar vestida de maneira inadequada novamente. Você é uma filha da família Rocha. Deve manter uma imagem condizente."

"Entendido."

Embora seu tom ainda fosse autoritário, o significado por trás de suas palavras havia mudado.

Ele já não se mostrava mais indulgente com aquela outra mulher e sua filha. Apesar de ainda desconfiar de mim, finalmente começou a reconhecer minha posição e status.

Mas o que ele não sabia era que diante dele não estava a frágil Janaína de antes, e sim alguém que lutou e sobreviveu no mercado de trabalho por anos.

A família Barbosa sempre acreditou que eu acabaria casando com alguém da família Lopes, então nunca me deixaram participar dos negócios da família.

Dentro da família Lopes, minha posição era delicada e incômoda. Dario esperava que eu fosse uma esposa virtuosa, não uma mulher de negócios influente.

Por isso, minha posição no Grupo Lopes era embaraçosa. Eu ajudei Nelson em inúmeras ocasiões, mas, no final, todos os méritos foram atribuídos a ele.

Prontas, de braços dados com minha mãe, partimos para o jantar no luxuoso restaurante cinco estrelas da família Rocha.

No momento em que aparecemos no salão do jantar, usando saltos altos, pude perceber claramente que a respiração de todos parou por um instante.

A beleza de Janaína já era mais deslumbrante do que a de Marlena, mas sua juventude, somada à marca delicada de nascença em sua testa, conferia-lhe uma aura quase etérea.

Entre tantos olhares, captei admiração, inveja... e até culpa no fundo dos olhos de Nelson.

Quando nossos olhares se cruzaram, desviei o meu imediatamente, finalmente pousando em Nilton.

Virei-me para minha mãe e sussurrei algo antes de segurar a barra do meu vestido e caminhar apressada até ele.

"Querido..."

Antes que ele pudesse responder, Nelson, de pé ao lado, exclamou com surpresa e uma ponta de indignação: "Do que você o chamou?"