Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 427

Com o tempo, Nilton e eu passamos por algumas transformações. Eu parei de esconder meus sentimentos por ele, e ele, por sua vez, passou a expressar suas emoções com mais liberdade.

Aprendi que o amor não era como a relação que eu tinha com Nelson, onde um lado se entregava por completo enquanto o outro simplesmente recebia.

O amor verdadeiro era sobre estar junto, cuidar um do outro, aprender juntos e crescer juntos.

Ele me amava tanto que a presença de Nelson na minha vida parecia um espinho em seu coração, e eu podia compreender o quanto isso o machucava.

Envolvi seus ombros com os braços e disse: "É impossível evitarmos nos encontrar sob o mesmo teto. Que tal nos mudarmos? Para nossa própria casa."

A ideia de nossa própria casa rapidamente o acalmou.

Seus olhos brilharam com intensidade, e com a voz rouca, ele concordou: "Ok. Vamos para a nossa casa."

Quando voltei àquela casa alguns dias depois, notei diversas mudanças.

O jardim estava renovado, e a atmosfera de Ano Novo já se fazia presente, o que aumentava minha ansiedade pela chegada do novo ano.

Olhando para os enfeites pendurados nas árvores, pensei em minha avó.

"O que está pensando? Está tão frio, por que não entra?"

Dei de ombros, resignada: "O Ano Novo está chegando, e eu queria passá-lo com a vovó, mas tenho medo de chamar a atenção dos inimigos."

"Realmente, não é o momento certo. Levar sua avó do hospital chamaria muita atenção, e seria facilmente notado. Talvez possamos reunir a família no próximo ano, quando tudo estiver resolvido."

Ele me deu uma esperança para o futuro, como se tudo se resolvesse em um ano.

Mas Mirella ainda era uma sombra imensa no meu coração.

As pessoas por trás dela haviam dedicado anos planejando contra nós. Será que nos deixariam vencer assim, tão facilmente?

Eu temia, pois sabia que a vitória viria com um preço!

Já tinha sentido a dor de perder entes queridos, amores, e até mesmo a possibilidade de perder minha própria vida. Não queria perder mais nada.

Nilton fechou todas as cortinas e se levantou.

Com a tempestade caindo do lado de fora, nossa casa parecia um pequeno refúgio só nosso.

Nilton se ofereceu para cozinhar, e eu aceitei, me acomodando no sofá com Katy, procurando um filme antigo para assistir.

Antes, a correria da vida me impedia de acompanhar séries, mas agora, com tempo de sobra, parecia que eu estava me desconectando do mundo.

Ainda me sentia como uma trabalhadora exausta e ocupada, presa no corpo de uma jovem.

O que as garotas da minha idade faziam normalmente? O que gostavam de assistir?

Certamente, elas não seriam como eu, uma pessoa antiquada incapaz de se adaptar às novidades, ficando na frente da TV e escolhendo filmes antigos.

Talvez fosse isso: eu só queria viver de maneira confortável dentro do que me era familiar.

Mas, pensando bem, talvez não houvesse nada de errado nisso, com a Katy ronronando em meu colo.