Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 493

Diante da súplica angustiada de Otávio, minha mãe deixou de lado o novelo de lã e a agulha de crochê e, lentamente, se levantou para pegar o enorme pote de vidro.

"Querida, o que você está fazendo...?"

A minha mãe olhou para Otávio, falando em um tom muito calmo: "Cada vez que você me decepcionava, eu colocava uma moeda no pote. Eu dizia a mim mesma que, quando o pote estivesse cheio, eu te deixaria."

Ela abriu a tampa: "Agora falta só uma moeda para encher, Otávio. Você pode garantir que não vai me decepcionar novamente, pelo resto de nossas vidas?"

Otávio parecia não ouvir suas palavras. Toda a sua atenção estava fixada nas moedas dentro do pote.

Ele sabia que havia feito Bianca sofrer, mas não havia imaginado que o sofrimento materializado pudesse ser tão chocante.

Uma pequena chama pode queimar por um instante, mas aquilo logo se transformou em um incêndio, deixando Bianca marcada por cicatrizes profundas.

"Eu..." - Otávio queria prometer que não faria mais isso, mas sabia que nem uma criança de três anos acreditaria em suas palavras.

"Otávio, sou grata pelo apoio que você ofereceu à família Coelho, isso demonstrou sua intenção de buscar a reconciliação. No entanto, entre nós, seja por desencontros ou mal-entendidos, o dano foi se aprofundando e se tornando algo difícil de apagar. Eu realmente acreditava que poderia deixar o passado para trás e ser uma boa esposa, até o dia em que soube da gravidez da Pâmela. Desde então, você passou a me provocar e pressionar, e os danos se tornaram recorrentes - como se tivesse começado a ver aquilo como algo normal."

"Mas a nossa Janaína tinha apenas vinte anos, quando ela optou pelo suicídio depois de anos de tormento. Otávio, nada disso deveria ter acontecido."

Mamãe não estava falando de mim, mas da verdadeira Janaína que havia morrido.

Enquanto ela falava, lágrimas escorriam por seu rosto pálido: "Otávio, não devemos mais nos torturar. Não importa o quanto você tente se redimir nesta vida, eu nunca mais poderei amá-lo."

Por causa da morte de Janaína, ela nunca conseguiria perdoar Otávio.

"Querida, por favor, não chore. Deve haver uma solução, se você me der mais uma chance, eu vou..."

Bianca raramente chorava na frente dele. Normalmente, suas lágrimas surgiam apenas quando ele já havia partido.

Na sua presença, ela havia se acostumado a esconder suas emoções.

Otávio estava consumido pela angústia, desejando desesperadamente segurar sua mão, pedir desculpas e implorar pelo seu perdão. No entanto, nos olhos de Bianca, não havia nenhum vestígio de afeto, apenas um vazio gelado, marcado pelo silêncio e pela dor.

"Em vez de eu colocar a última moeda e encher o pote, Otávio, faça isso por mim... por nós, por favor."

Otávio olhou para a moeda, com os olhos vermelhos e a voz rouca: "Você realmente pretende se divorciar de mim?"

"Sim, eu quero. Quanto ao nosso bebê, podemos discutir isso posteriormente. Se você se recusar a assinar, vou ter que pedir o divórcio e expor seu relacionamento com a Pâmela na internet."

"Querida, você não é uma pessoa tão cruel."

"No passado, eu não era, mas agora não tenho mais nada a perder. Otávio, vamos nos divorciar."

"É por causa do Fernando? Você quer se divorciar de mim para ficar com ele?"

Otávio sabia que não poderia mais impedi-la.

Embora ele pudesse recorrer a métodos coercitivos, agora que ela tinha Nilton ao seu lado, tudo acabaria em fracasso, e o divórcio se tornaria inevitável.

Quando isso acontecesse, ela provavelmente o odiaria ainda mais.

Por fora, Bianca permaneceu firme, mas por dentro estava incrivelmente ansiosa, sem saber se Otávio concordaria com ela.

Mas, no segundo seguinte, ela foi abruptamente abraçada com força pelo homem.

Fiquei assustada, pensando que Otávio tomaria medidas drásticas contra minha mãe.

Mas ele apenas a abraçou com força e depois disse resignadamente: "Bianca, desta vez você ganhou."

Minha mãe murmurou, incrédula com o fato de ele ter concordado tão facilmente: "Você... concordou?"

"Não quero mais decepcioná-la. Se o que você deseja é o divórcio, eu o concederei."

Depois de dizer isso, avistei aquele homem, sempre tão durão, com lágrimas escorrendo pelos olhos e caindo no pescoço de minha mãe.

"Querida, vamos nos divorciar."