Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 525

"Sim."

"Bum!"

Com a partida de futebol em andamento, alguém iniciou a queima de fogos de artifício.

Olhei para aquele espetáculo deslumbrante no céu e falei baixinho: "Nelson, eu queria me vingar de você e da Mirella no dia em que você fugiu do casamento. Você fez mal ao meu filho, e eu sofri e lutei todos os dias. Mas quando fui esfaqueada perto do rio, segurando meu telefone celular, a última ligação que fiz não foi para a polícia, mas para você. Mesmo à beira da morte, eu ainda tinha esperança em você..."

"Sabia que você estava com a Mirella, sabia que deveria ligar para o 190, mas também sabia que não sobreviveria. Se aquela fosse a minha última ligação, eu queria que fosse para você."

"Marlene..." - A voz de Nelson estava envergonhada.

Com calma, contei como me senti naquele momento: "Se ao menos você tivesse demonstrado um mínimo de cuidado e preocupação comigo ao telefone, talvez eu não tivesse partido tão insatisfeita. Antes de fechar os olhos, vi os fogos de artifício no céu. Por muito tempo, após renascer, o som dos fogos me aterrorizou."

"O que realmente me aterrorizou: a dor de morrer ou a dor da sua traição? Claro, eu estava morta, mas minha alma ainda se via obrigada a segui-lo, porque eu não conseguia aceitar aquilo! Eu o odiava, mas também o amava. Fomos amantes e família por tantos anos. Mesmo na morte, eu só sabia segui-lo."

"Naquele momento, eu estava em sofrimento. Não conseguia me afastar de você e só podia observar sua frieza, sua indiferença, e sua traição. Percebi que não foi no instante da minha morte que desisti de você, mas quando me tornei um espírito. Aos poucos, fui despertando da obsessão que ainda sentia por você."

"Quando soube da gravidez de Mirella e optou por acreditar nela, ao invés de vir até mim, naquele terraço, vendo-os abraçados, tudo se esclareceu. Foi ali que consegui me afastar de você. Talvez, naquele instante, tenha deixado para trás não apenas os vinte anos que compartilhamos, mas todo o passado, o ódio e, até, o amor que ainda sentia por você - tudo para poder me entregar de corpo e alma ao papel de Janaína, sem mais hesitações."

"Nelson, eu não te amo mais."

Quanto mais eu mantinha a calma, mais eu demonstrava ter deixado para trás aquele ressentimento, e isso parecia intensificar ainda mais o sofrimento de Nelson.

Ele deveria ter esperado por muito tempo, pois havia uma camada de poça chuva sob seus pés.

Quando vi o rosto do Nilton, meu coração se aqueceu.

Antes de abrir a porta, deixei uma frase: "Não tenho mais medo de fogos de artifício."

Virei-me para Nelson, com os olhos vermelhos de lágrimas: "Porque eu sei que o Nilton nunca vai me trair."

Dito isso, abri a porta do carro e caminhei rapidamente em direção ao Nilton.

Ele estendeu a mão para mim, com uma voz carinhosa e indulgente: "Venha devagar. Cuidado para não cair."