Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 687

César me olhou profundamente: "Marlene, sabe por que gosto tanto de você? Neste mundo, não há ninguém mais puro e bondoso do que você. Pegue isso, eu vou voltar para comprar mais."

Ele colocou algo na minha mão e, com um gesto carinhoso, apertou meu rosto.

Eu sabia que Nilton não estava longe; ele observava a cena de perto.

Todos achavam que ele era incapacitado, então ninguém associaria aquele homem alto a qualquer coisa suspeita.

Eu o vi cerrar os punhos lentamente, talvez lutando com todas as forças para não ceder à vontade de me levar dali.

Percebi que a maior distância do mundo não era entre a vida e a morte, mas sim entre duas pessoas que se amavam, estando tão próximas e, ainda assim, tão distantes.

Murmurei suavemente: "Nilton, não faça nada impensado."

Os nós dos seus dedos estavam quase brancos.

Ao final, ele abriu a mão e me observou em silêncio, mexendo os lábios levemente: "Cuide-se."

Acenei com a cabeça, virei-me, tentando não deixar transparecer mais emoções.

César correu em minha direção, desta vez trazendo um feixe inteiro de cana de açúcar.

"Comprei o suficiente, agora você e Cátia terão bastante para comer."

Fiquei surpresa.

Ele sorriu com tanta inocência que, se eu não tivesse experimentado a sensação de morte, poderia acreditar que ele era apenas um jovem ingênuo.

"Você está com fome. Vou levá-la para comer algo gostoso."

No caminho, Nilton nos seguiu de uma distância segura.

Isso me trouxe inexplicável conforto.

Não importava o que eu fizesse, sempre que me virava, ele estava lá, nas sombras das luzes.

Houve diversos momentos em que eu quis desesperadamente correr para ele, voltar para os braços que me pertenciam.

Consolar o homem que estava prestes a se despedaçar.

Até mesmo considerei deixar tudo para trás e viver reclusa com ele, ignorando o que o destino reservava ou os laços familiares.

Mas minha impulsividade foi rapidamente contida pela razão.

Como César disse, às vezes desprezava minha própria bondade.

"Clang!"

Meu coração tremeu.

Talvez ele já tivesse usado aquela faca para cortar ossos humanos no passado.

Quando ele terminou e olhou para mim, encontrou meu olhar assustado.

"Marlene, você é tão obediente, eu nunca te machucaria. Entre no carro."

Minhas pernas tremiam.

"Quer que eu te carregue?"

Tremendo, subi no banco do passageiro, e ao fechar a porta, vi pelo espelho retrovisor a figura esguia.

Nilton, ele estava logo atrás de mim.

Se eu me virasse e corresse para ele agora, ele poderia me tirar daqui!

Minha mão estava na maçaneta da porta, os dedos tremendo incontrolavelmente.