Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 703

Evaristo, por mais desatento que fosse, percebeu que o corpo de Karina estava diferente de antes.

No entanto, eu não podia me dar ao luxo de explicar. Agarrei o colarinho dele e fiz um gesto.

Felizmente, ele era esperto: "Você quer que eu o siga?"

Assenti com a cabeça.

Janaína também deixou de lado a refeição e nos acompanhou. Entrei no carro de Evaristo.

Pelo menos, eu não chamaria atenção estando com ele.

Desde que conheci Nilton, ele sempre foi calmo, taciturno e impiedoso.

Mas nesta noite, ele estava fora de si.

Eu conseguia compreendê-lo completamente. Estivera envolvido em um engano por tantos anos.

Isso era o de menos. O mais importante era que ele não conseguia aceitar a possibilidade de Simone ser sua mãe.

Isso significava que ele também tinha laços de sangue com a família Monteiro, os mesmos que assassinaram minha vida anterior.

Quanto mais ele me amava, mais difícil era aceitar essa realidade.

Claro, por enquanto, tudo não passava de uma suposição, e até vermos um teste de DNA, tudo poderia mudar.

Em meu íntimo, mesmo se ele fosse realmente filho de Simone, eu não o culparia.

Temia apenas que ele mesmo não conseguisse aceitar, que sentisse a pressão.

Tive um trabalho árduo para voltar ao lado dele, e realmente temia que algo pudesse acontecer.

Janaína, sem entender completamente, vendo-me naquele estado, também se tornou séria, apertando minha mão: "Não tenha medo. Eu estou aqui. Aconteça o que acontecer, estarei ao seu lado."

Na minha vida passada, eu não tinha muitos amigos, e mesmo aqueles que tinha, perdemos contato após a formatura.

Jamais imaginei que Janaína se tornaria alguém tão importante para mim.

Embora o rosto de Karina não lembrasse mais o de Janaína, eu me lembrei de como ela parecia naquela época, com seu vestido preto, rosto pálido e sem vida, como uma flor murcha.

Senti meus olhos umedecerem.

Felizmente, eu não estava mais sozinha.

Apertei a mão dela de volta e acenei com a cabeça.

Desejava fervorosamente que César realmente gostasse de mim, como ele dizia.

Mas temia que seu amor pudesse ser destrutivo.

Se ele contasse a Simone que eu ainda estava viva, ela se prepararia contra Nilton.

"Boom!"

O céu explodiu em trovões e relâmpagos, e cada vez que um relâmpago cortava o céu, meu coração parecia ser apertado por uma mão invisível, repleta de tensão e medo.

Janaína acariciava minhas costas, silenciosamente me confortando: "Está tudo bem, está tudo bem."

Eu não ousava piscar, fixando meu olhar do outro lado da rua.

Nilton iria confrontá-los diretamente?

O que ele pretendia dizer?

Embora eu soubesse que Simone não o machucaria, temia que ele pudesse ser aprisionado ou desaparecer para sempre da minha vida após o confronto.

Meus pensamentos estavam um caos, e não sei quanto tempo se passou até que vi Nilton surgir na chuva, sem um guarda-chuva.