Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 839

Os aros dos óculos dele reluziam friamente sob a luz, enquanto seus olhos, escondidos atrás das lentes, eram profundos e impenetráveis.

Quando nossos olhares se cruzaram, percebi que todas as minhas máscaras eram inúteis diante dele.

Ele me conhecia bem.

"Você me enganou."

"Pensei que fôssemos amigos."

Ele me encarou e, finalmente, uma expressão quase decepcionada surgiu em seu rosto. "Nestes últimos seis meses, você não entrou em contato comigo nem uma vez."

Olhei para a porta e percebi que ele já a havia fechado.

"Quando foi que você descobriu?"

"Marlene, fui seu terapeuta por anos, você achou que poderia me enganar? Por que eu concordaria em desmascarar Mirella como uma falsa M? Você acha que estou tão desocupado a ponto de não ter nada melhor para fazer?"

"Então por que fingiu não me conhecer?"

"Para ser sincero, no começo eu também achei improvável. Como poderia existir algo tão absurdo? Naquela época, eu apenas sentia que você se parecia muito com Marlene, mas não tinha certeza. Nos últimos seis meses, viajei a muitos lugares, fiz uma pesquisa detalhada. O fenômeno de uma alma habitar outro corpo não é exclusivo ao seu caso."

Ri internamente, pensando em como ele, com toda sua dedicação acadêmica, poderia ter até criado um PowerPoint para apresentar sua análise detalhada.

"Investiguei o histórico de Janaína, e combinando com suas reações emocionais durante as competições, posso afirmar que a alma dentro desse corpo mudou. O que me decepciona é, Marlene, se não fosse pela necessidade de tratamento do seu amigo, você teria me procurado de novo?"

"Bem..."

Eu não sabia como explicar. Durante aquela época em que fui atormentada pela família Barbosa e por Nelson, ele realmente me ajudou a sobreviver e me incentivou a pintar, razão pela qual tantas das minhas obras estavam em suas mãos.

Instintivamente, abracei a almofada com mais força. "Realmente estava um pouco ocupada, além disso, você sabe o quão trágica foi minha morte. Se descobrirem que estou viva, posso morrer de novo."

Ele me olhou intensamente, tentando discernir a verdade em meu rosto.

Sobre isso, eu não estava mentindo. A expressão sombria dele desapareceu, retornando à sua forma habitual.

"Marlene, ainda somos amigos?"

"Claro que sim, nunca esqueci a ajuda que você me deu. Foram anos em que você me deu motivos para viver."

Seus olhos mostraram um toque de culpa. "Mas, no fim, não consegui salvá-la. Desculpe."

"Não, Dr. Neves, isso não tem nada a ver com você, não precisa se culpar assim."