Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 843

Henrique estendeu a mão para ele, "Sr. Lopes, é um prazer finalmente conhecê-lo."

Ambos tinham estaturas imponentes; Nilton exalava uma autoridade natural, enquanto Henrique emanava uma presença igualmente forte.

Era apenas um simples cumprimento, mas parecia que os dois eram líderes de nações prestes a se enfrentar em uma cúpula, como se uma guerra mundial pudesse eclodir a qualquer momento.

Após o breve aperto de mãos, Henrique percebeu que Nilton não exibia o típico comportamento bajulador dos outros.

"Tenho algumas questões a resolver, Sr. Lopes, fique à vontade."

Apesar de seu temperamento reservado, sempre que eu ia visitá-lo, ele me recebia pessoalmente, preparando lanchinhos, frutas e bebidas para mim.

Sendo amigos há tanto tempo, era evidente que ele tratava meu marido com uma frieza notável, a ponto de nem se preocupar em manter as aparências.

Eu tentei amenizar o desconforto, dizendo: "Nilton, não se preocupe, o Dr. Neves é naturalmente reservado."

Nilton não comentou muito, mas seu olhar carregava um significado profundo.

Quando o tratamento de Cátia terminou, fui até o escritório dele para me despedir, mas encontrei Henrique com uma toalhinha úmida nas mãos, limpando-as repetidamente.

"Bem... estou indo."

Ele jogou calmamente a toalhinha no lixo e respondeu de forma indiferente: "Está bem."

Ao sair, repeti para mim mesma que ele provavelmente tinha mania de limpeza, e não era uma questão de antipatia por Nilton.

No carro, o ambiente estava um pouco tenso até que Cátia quebrou o silêncio: "Irmã, a academia está organizando um evento em breve."

"Que tipo de evento?"

"Um intercâmbio para alunos destacados."

Troquei um olhar com Nilton. Esse tipo de evento acontecia várias vezes ao ano, com a promessa de ampliar contatos e oportunidades de trabalho, mas alguns alunos simplesmente não retornavam do exterior.

Após investigações de Nilton, descobrimos que alguns se tornaram clandestinos envolvidos em fraudes financeiras.

Fiquei surpresa, não esperava por essa razão, "Sério?"

"Irmã, sou uma mulher, e às vezes basta um olhar para entender os sentimentos. Ele é do grupo, deve me conhecer, mesmo que eu tenha esquecido essas memórias, ele não esqueceu e tem tentado reavivá-las."

Ela tinha razão, da mesma forma que eu percebia os sentimentos diferentes de Henrique por mim, e por isso rapidamente estabeleci limites claros, indicando que não acompanharia mais Cátia.

"Mas Cátia, mesmo que Matias goste de você, não me sinto segura em deixar você embarcar nesse navio. Está claro que ele quer levá-la de forma legítima, e uma vez em águas internacionais, não conseguiríamos encontrá-la!"

Segurei sua mão e disse: "Ficamos separadas por vinte anos, e finalmente a encontrei. Pode me chamar de egoísta, mas não vou deixá-la partir novamente. Para mim, a vida de Antonio não se compara à sua."

"Irmã..."

"Não há mais o que discutir. Você ficará na família Lopes nos próximos dias, não deixarei que saia de perto de nós. Tenho certeza que Antonio pensa da mesma forma e não quer que eu a entregue a Matias."

Pela primeira vez, assumi o papel de irmã mais velha de forma assertiva.

Eu tinha apenas ela como parente de sangue, e não podia suportar mais nenhum contratempo.