Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 146

— O senhor quer tirar um cochilo? Eu venho te chamar às duas em ponto. — Sugeriu Rafael, com cautela.

— Não vou dormir. Me manda agora o PPT da reunião da tarde. — Respondeu Gabriel, sem levantar os olhos.

— A reunião é só às cinco, ainda dá tempo... O senhor poderia... — Rafael começou a falar, mas ao cruzar o olhar com o do Sr. Gabriel, calou-se na hora. Obediente, enviou o arquivo.

Ele observava o chefe e sentia que algo não estava certo. A energia dele parecia... Estranha.

E, o mais curioso: até agora, não mencionara nada sobre a Sra. Beatriz. Sendo que, no sábado, Gabriel tinha descoberto onde ela trabalhava, não tinha?

Pensando bem... Na semana anterior ele estava como um louco. Chamou a polícia, contratou um hacker pra encontrar o endereço... E agora, depois de um fim de semana, simplesmente parou de se importar?

Rafael lembrou que, na sexta-feira à noite, não acompanhou o chefe.

Será que aconteceu alguma coisa?

E por que, afinal, o Sr. Henrique mandara os seguranças ficarem de olho no Gabriel? Ele não explicara os motivos.

Cheio de suspeitas, Rafael preferiu ficar calado.

Continuou sua investigação sobre a empresa Aurora Tecnologia.

Quase no fim do expediente, aproveitou um momento livre para trazer o que havia descoberto ao longo do dia:

— A Sra. Beatriz está no departamento de design da Aurora Tecnologia. Ela ocupa o cargo de líder de equipe temporária. A empresa, aliás, tem crescido bem nos últimos dois anos. É uma startup promissora. — Informou, com tom neutro.

Ao ouvir isso, Gabriel parou de escrever.

Departamento de design...

Então ela não era secretária pessoal...

Por algum motivo, aquela informação trouxe a ele um leve alívio.

Ao menos, Beatriz não estava colada no outro homem o tempo todo.

— Hmm... E o que mais? — Murmurou ele.

— Descobri uns comentários... Uns boatos. — Rafael hesitou, como quem pisa em ovos.

— Fala logo. — Disse Gabriel, direto.

— Mas, por favor, não fique irritado... — Avisou, tentando se precaver.

Gabriel fechou a cara. Já tinha até imaginado.

— É sobre um possível relacionamento da Beatriz com aquele tal de Daniel?

— Sim. Há quem diga que a Sra. Beatriz é esposa dele. Outros falam que ela é amante. Comentam até que ele teria dado uma ajudinha, abrindo portas pra ela na empresa, oferecendo recursos e tudo mais...

Gabriel cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

Seu olhar parecia o de um animal prestes a atacar, feroz, faminto, fora de controle.

Rafael percebeu na hora: o chefe tinha fingido o dia inteiro.

Aquela aparente indiferença não passava de encenação.

Bastou ouvir o nome da Sra. Beatriz... E ele perdeu o controle.

— Ah... Agora que me lembro. — Disse Rafael, meio hesitante. — Na semana passada, quando fui buscar seu almoço, vi o Sr. Daniel. E acho que quem estava com ele era a própria Sra. Beatriz. Reconheci a voz. Era familiar demais pra ser coincidência... Só que, antes que eu pudesse confirmar, ela já tinha ido embora. Ele disse que era apenas uma amiga. Nunca imaginei que fosse mesmo a Sra. Beatriz... — Suspirou, lamentando. — Uma grande oportunidade perdida.

Pra Rafael, era apenas um comentário casual. Um detalhe a mais.

Mas para Gabriel... Soou como uma sentença.

“Os dois almoçam juntos.

Devia estar contando os dias pra se livrar de mim, não é?”

O divórcio nem estava finalizado ainda, e ela já se jogava num novo romance.

Com tanto entusiasmo, tanta paixão... Que o coração de Gabriel se contorcia de ódio.

No fim de semana, ele se trancou no quarto.

Passou dois dias entre soluços e insônia, sem comer, sem dormir, num estado deplorável.

Enquanto isso...

Beatriz estava na cama de outro homem.

Compartilhando noites e sorrisos com ele, como se nada mais importasse.

Gabriel se sentia como um palhaço.

Um figurante.

Um NPC inútil na história de amor dos protagonistas.

Ele?

Presidente do poderoso Grupo Pereira?

Aceitar isso?

Engolir em seco e deixar passar?

Jamais.