Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 522

Ele não achava que havia dito algo errado. Tampouco se arrependia do que dissera. Tudo era verdade. Verdades que, há muito, ele engolia e, por várias vezes, quase deixara escapar.

Sempre quis demais o poder. Tinha o desejo cego de tirar a família de André de vez do registro da família Pereira. Mas agora…

Agora isso parecia não importar tanto assim.

Na ânsia por controle, acabou perdendo tudo no amor. A relação confusa e mal resolvida com Vitória chegou ao fim. E com Beatriz… Tudo começou com ódio, mágoa e vingança.

Mas ele acabou se apaixonando por Beatriz. De verdade. De forma irreversível. Nunca imaginou que isso pudesse acontecer.

Ele odiava André, e ainda odiava. Mas, no fim das contas, tinha se tornado tão desprezível quanto ele. Trazia o mesmo sangue podre nas veias.

Apegado demais ao poder, foi obrigado a se casar. Depois de casado, traiu. Superou até mesmo o mestre nesse jogo sujo.

Se tivesse tido coragem de se rebelar desde o início… Ou simplesmente fugido de casa… O avô teria conseguido impedi-lo de verdade?

No quesito traição, pelo menos, André saíra ganhando. Ele ainda estava com Tatiane. Tiveram até um filho.

Mas ele e Beatriz…

Agora estavam oficialmente divorciados. E tudo no mundo parecia trabalhar contra qualquer chance de reconciliação.

A noite havia caído, e o horário de pico tomava conta das ruas. Pessoas por todos os lados, em meio ao burburinho animado da cidade.

Como o julgamento pela manhã havia terminado com vitória, Daniel resolveu comemorar à noite com um jantar para Beatriz.

E, claro, chamou Letícia também. Sabia que Beatriz sozinha jamais aceitaria sair.

Nada de restaurante chique. Em vez disso, escolheram um churrasco ao ar livre, estilo camping noturno, com cerveja gelada, melancia fresca e aquela vibe descontraída e cheia de vida.

Letícia sabia muito bem que estava ali como acompanhante estratégica, mas não se incomodava nem um pouco. Comida grátis? Ela topava fácil. E ainda achava que Daniel é quem deveria agradecer por sua presença.

Enquanto Daniel colocava carne fresca, de boi e cordeiro, na grelha, as duas mulheres brindavam com copos na mão.

Aquela pedra no peito finalmente havia caído. Não haveria mais sobressaltos no meio da noite. A partir dali, ela era só dela mesma, uma andorinha solta no céu, livre para voar para onde quisesse.

O bom humor, o alívio e a presença das amigas deixaram Beatriz tão à vontade que, sem perceber, ela foi bebendo uma dose atrás da outra, mesmo sem intenção de exagerar.

Cerveja até que era tranquila, mas Letícia logo apareceu com algo mais criativo: uma mistura de vodca com suco e água com gás. O álcool estava diluído, mas ainda estava lá.

Na margem do rio, um homem encostado numa árvore observava fixamente o grupo reunido em volta do churrasco.

A zona estava cheia de gente. Cheia demais.

“Merda… Ninguém se afasta nunca?”

Já fazia dois dias que ele os seguia, esperando uma oportunidade. E nada. Nenhuma chance de agir. Nenhum momento a sós.

Às vezes, o impulso era tão forte que ele mal se segurava. Tinha vontade de puxar a arma e resolver tudo ali mesmo, com um único tiro.