Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 633

Ao ouvir aquelas palavras, o olhar de Renato tornou-se ainda mais gélido. Ele simplesmente a encarava em silêncio, mas com uma intensidade que fazia o ar pesar.

Letícia sustentou o olhar, mas, por dentro, sentiu o coração vacilar.

Que coisa estranha... Desde pequena, nunca tivera medo de ninguém. Mas havia algo nos olhos daquele homem que a fazia gelar por dentro, como se uma sombra fria lhe percorresse a espinha.

Do outro lado, escondida atrás de Renato, Vitória permanecia calada. Sob a meia face protegida, porém, os cantos de sua boca se erguiam num sorriso silencioso.

Finalmente chegara o momento que tanto aguardara.

A chance perfeita de se vingar de Letícia.

Que a confusão se intensificasse, que as palavras fossem cada vez mais cruéis... Quanto maior fosse o mal-entendido agora, mais espetacular seria a reviravolta depois.

Vitória estava ansiosa pelo desenrolar do espetáculo. Renato não tomaria a iniciativa de se vingar por ela? Pois bem, ela mesma conduziria a situação até o clímax. Afinal, o objetivo de vir até aqui não era exatamente esse?

Mas, ao contrário do que imaginava, gritos, insultos ainda mais pesados, talvez até uma briga física, nada disso aconteceu.

A porta atrás deles se abriu, e quem surgiu foi Eduardo.

Ao vê-lo, Vitória mordeu os dentes de raiva.

Que sujeito inoportuno! Precisava aparecer justamente agora, quando a cena ainda nem tinha atingido o ponto mais intenso?

— Ouvi uma confusão aqui fora... O que está acontecendo? — Perguntou Eduardo, fingindo-se de desentendido.

Naquele instante, ao abrir a porta, já havia captado a situação: Renato encarando sua irmã com ferocidade, Vitória escondida atrás dele. Não foi difícil compreender o que se passava.

Como irmão, instintivamente se posicionou diante de Letícia, protegendo-a daquele homem de semblante ameaçador.

— Sr. Eduardo, essa pergunta deve ser feita à sua irmã. — Respondeu Renato, a voz sem emoção, mas o tom já menos agressivo.

Em seguida, voltou-se para Letícia e lançou a pergunta, cortante como lâmina:

— O que você disse há pouco pode ter soado inapropriado. Se foi o caso, peça desculpas.

Da outra vez, no episódio do sequestro, Vitória tinha errado primeiro, por isso não houve necessidade de Eduardo se retratar. Mas agora, se Letícia tinha se excedido nas palavras, seria preciso pelo menos um pedido formal, ainda que fosse apenas para manter as aparências diante dos pais.

Letícia ouviu com má vontade e arrastou os pés para a frente. Nesse instante, Vitória avançou também, posicionando-se ao lado de Renato, o queixo erguido, olhando-a com aquele ar de superioridade.

Ao ver aquela expressão de triunfo barato, Letícia se lembrou de como, instantes atrás, Vitória tinha permanecido em silêncio, sem se defender, apenas se fazendo de vítima frágil e injustiçada.

Então era isso! Tudo não passava de uma armadilha, esperando que ela reagisse.

Que cobra fingida, uma falsa santa de primeira categoria!

Espumando por dentro, Letícia apertou os punhos e voltou a encarar Renato de frente.

— Primeiro, eu admito que interpretei mal a sua relação com a Vitória e acabei falando sem pensar. Peço desculpas por isso. — Declarou, a coluna ereta e a voz firme, carregada de dignidade.