Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 653

— E daí? Ela é, afinal, a filha legítima da família Cardoso. Mais cedo ou mais tarde, acabaria voltando para o lar de origem. — Disse o senhor Henrique, com expressão inalterada. — Se Renato não a tivesse reconhecido tão rápido, e Vitória tivesse acabado presa por causa deste caso, para só depois a família Cardoso encontrá-la… Temo que eles teriam nutrido um profundo rancor contra a família Pereira. No fim, tudo é destino. Ter sido encontrada antes também pode ser considerado uma sorte, embora Vitória já tenha cometido inúmeras atrocidades. A única injustiçada aqui é Beatriz, que sofreu provações demais.

E ainda por cima teria de se contentar apenas com uma compensação em dinheiro, sem jamais ver a culpada receber a punição que merecia.

O senhor Henrique suspirou. Nos assuntos humanos, muitas vezes não havia alternativa.

Além do mais, ele próprio também tinha parcela de culpa no sofrimento de Beatriz.

Se não tivesse decidido, dois anos antes, casá-la com Gabriel, como Vitória chegaria a odiá-la tanto a ponto de buscar vingança? Como teria alimentado aquele desejo cruel de destruí-la?

— Quando Beatriz receber alta, mande reforçar a proteção em segredo. Desta vez, só não aconteceu uma tragédia porque havia seguranças a acompanhando. Caso contrário, não ouso sequer imaginar as consequências. — Disse Henrique.

— Sim, senhor. — Respondeu o mordomo.

Henrique apoiou-se na bengala e começou a caminhar para fora, acompanhado pelo mordomo que o ajudava a seguir até o quarto de Beatriz, localizado no mesmo andar.

Mal saíram, viraram o corredor e, de longe, avistaram alguém espiando pela porta do quarto.

O sujeito ainda se erguia nas pontas dos pés, tentando espiar para dentro, em uma postura torpe e indiscreta. Quem poderia ser, senão Gabriel?

Henrique ficou sem palavras. Onde estava a elegância de outrora? Aquele comportamento não se diferenciava em nada do de um ladrão qualquer.

Ao perceber os passos atrás de si, Gabriel virou a cabeça e deparou-se com o avô se aproximando.

— Senhor Gabriel, por que não entra? O que está fazendo aí fora? — Perguntou o mordomo.

O rosto de Gabriel endureceu. Não era que ele não quisesse entrar.

O problema era que Beatriz não queria vê-lo. Ele não tinha escolha a não ser permanecer do lado de fora.

E, para piorar, aqueles malditos do Eduardo e do Daniel ainda faziam questão de bloquear sua visão de propósito, deixando-o furioso a ponto de ranger os dentes.

— Eu… Eu fico aqui fora mesmo, não quero incomodar a Beatriz. — Murmurou Gabriel.

O senhor Henrique soltou um resmungo e, sem piedade, o expôs:

— O que acontece é que você não tem coragem de encarar ninguém lá dentro, não é?

Ao vê-la tão abatida, Henrique suspirou em silêncio, e sua expressão se encheu de dor e culpa.

— Descanse bastante. Você passou por muito sofrimento. — Disse ele, com pesar.

Beatriz assentiu levemente antes de falar:

— Ainda não lhe agradeci pelo que fez. No momento do ataque… E depois, com aquele antídoto especial. A Letícia me contou que foi o senhor quem me salvou.

— Isso não foi nada. O importante é que você esteja bem. — Respondeu Henrique.

Ela lhe agradecia por salvá-la, mas, no fundo, se não fosse por causa dele, nunca teria passado por tamanho perigo.

Essa menina era bondosa demais… Mesmo sendo a vítima, ainda encontrava forças para agradecer.

Henrique, já com o peso dos anos e da consciência, sentiu a culpa se aprofundar. Só lhe restava compensá-la de outra forma. Então disse:

— Mais tarde, pedirei que transfiram para você cinco por cento das ações que possuo.