Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 659

— Como assim, você vai para o exterior? Nunca comentou nada disso antes! — Exclamou Letícia, surpresa.

Eduardo também a encarava. Sua proposta acabara de ser recusada, mas, no fundo, ele já imaginava: com o jeito de Beatriz, ela jamais aceitaria tão facilmente.

— Mas por que pedir demissão? Você não estava feliz na Aurora? E por que tem de ser no exterior? — acrescentou Daniel logo em seguida.

— Não é isso. Eu era feliz na Aurora. Mas quero mudar de ambiente, respirar outros ares. — Respondeu Beatriz. — Não contei antes porque queria esperar até resolver toda a questão do visto.

Ao ouvir aquilo, Letícia franziu a testa:

— Então é por causa do Gabriel? Por ele te perseguir tanto, você decidiu sair do país?

Mas hoje o senhor Henrique disse que vai colocar gente para vigiá-lo! Então, Bia, fica aqui. Lá fora você vai estar sozinha, sem ninguém conhecido. Aqui você ainda tem a nós.

Beatriz balançou a cabeça.

— Minha decisão está tomada. Mas mesmo fora, vou continuar em contato com vocês.

O tom firme mostrava que não havia espaço para discussão.

Daniel e Letícia entenderam que seria impossível convencê-la. Conheciam Beatriz, quando ela decidia algo, ninguém a fazia mudar de ideia.

E, afinal, ela sempre soubera esconder suas escolhas, tinha se casado com Gabriel e ficado dois anos ao lado dele sem que nenhum deles desconfiasse.

— Para qual país você pensa em ir? — Perguntou Eduardo.

— Talvez algum do norte da Europa. — Respondeu ela.

— O norte da Europa? Mas o inverno lá é gelado, úmido! Bia, escolhe um lugar mais quente, assim eu posso te visitar e aproveitar com você! — Letícia tentou brincar, disfarçando a preocupação.

— O ambiente e a cultura de lá são muito bons. Além disso, é fácil encontrar trabalho. — Disse Beatriz.

No entanto, ela sabia que talvez o emprego tivesse de esperar.

Eduardo a observou, sem saber ao certo o que sentir naquele momento.

Beatriz também era órfã, não era? Talvez fosse por nunca ter tido pais ou uma família de apoio que se formou assim: autossuficiente, mas, ao mesmo tempo, incapaz de criar vínculos totalmente íntimos com alguém.

Na sociedade, para sobreviver, era preciso lutar por recursos, agarrar oportunidades.

Mas Beatriz… Até aquilo que vinha de bandeja ela recusava.

Chamavam de força e independência, mas, no fundo, talvez fosse apenas frieza, um distanciamento natural de todos.

Enquanto eles a acompanhavam, na mesma ala do hospital, em outro quarto, a cena era bem diferente.

Sr. Henrique, apoiado no cajado, sentado ao lado da cama, falava em tom paciente, quase suplicante, para o neto:

— Gabriel, deixe Beatriz em paz. Olhe só o estado em que você a colocou… Vai continuar assim até destruí-la por completo?