Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 803

A secretária ficou atônita por um segundo. Depois, pegou o celular do chefe e, obediente, começou a digitar.

Nunca teria imaginado uma coisa dessas. Fora do patrão, quem mais trataria aquela moça como uma criança a ser mimada?

As exigências da senhorita Letícia eram, no mínimo, absurdas e sem sentido. Mas, certamente, Renato levava em consideração a influência da família Martins e, por isso, não se dava ao trabalho de reagir com dureza.

Bastava lembrar do último sábado, quando a senhorita Letícia praticamente torturou o chefe o dia inteiro... E ele ainda assim aguentou firme, acompanhando-a do início ao fim.

Justiça seja feita: a coragem dela era impressionante. A secretária realmente a admirava. No lugar de qualquer outra pessoa, dificilmente teria sobrevivido para ver o nascer do sol.

Depois de enviar a mensagem, devolveu o celular ao dono.

Naquele momento, Renato já havia terminado de ler as cinco páginas de informações e colocou os documentos sobre a mesa.

Seu olhar se fixou na imagem da garota. Ali estavam registrados os dados desde o ensino fundamental até a universidade: notas, conquistas e prêmios recebidos.

Resumindo em uma palavra: excelente.

Beatriz sempre se destacara. No ensino fundamental, mantinha-se em primeiro lugar da turma; no ensino médio, entre os três melhores da escola.

Sem depender de bônus ou cotas, conseguiu, apenas com suas notas brilhantes, uma vaga na mais prestigiada universidade do país, a A.

Quanto aos prêmios e honrarias pessoais, eram tantos que mal cabiam na lista. Diante daqueles registros, Renato quase podia ver a figura de uma jovem de origens humildes que, à força do próprio esforço, irradiava luz.

O olhar dele se deteve na foto acadêmica. No fundamental, Beatriz ainda tinha o rosto arredondado, traços de infância, com um leve ar de fofura.

E, de certa forma... Lembrava ainda mais alguém.

— Por que não há fotos do ensino primário aqui? — Perguntou Renato.

— Na época, o sistema eletrônico de registros ainda não estava em vigor. Só começaram a arquivar fotos a partir do ensino médio. — Explicou a secretária.

Renato pensou em mandar que buscassem as fotos da escola primária dela. Pelo menos uma foto de formatura deveria existir. Mas, refletindo melhor, decidiu que seria mais direto recorrer aos arquivos do orfanato.

— Amanhã cedo, vá até o orfanato e consiga o dossiê completo de Beatriz. — Ordenou Renato, impassível.

Ao reparar nas últimas palavras, não pôde evitar um riso descrente. Afinal, ela havia exigido também que acrescentasse “que sua reputação fosse destruída”. E por que não escreveu isso?

Estaria escondendo algo?

Letícia sabia que, na prática, aquilo era apenas uma forma de autoengano. Um assassino de elite poderia chorar diante de um tribunal jurando que nunca esmagara nem uma formiga.

Portanto, aquela promessa não tinha qualquer valor real. Se uma simples frase pudesse restringir alguém, a lei não precisaria existir.

O que ela queria, na verdade, era dar a Beatriz algum conforto. Pelo menos permitir que a amiga dormisse em paz.

Assim, tirou um print da conversa e encaminhou para Beatriz. Mas já era tarde; a outra provavelmente estava dormindo e não respondeu. Letícia então apagou a luz e se deitou.

Na manhã seguinte, o despertador acordou Beatriz. Ela se levantou, lavou o rosto e se arrumou.

Enquanto esperava Letícia chegar, seus olhos caíram na imagem que havia recebido na noite anterior. Por um instante, apertou levemente os lábios.