Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 853

Renato ouviu aquelas palavras e virou o rosto para a janela, observando a silhueta frágil dentro do quarto.

Será que aquilo poderia mesmo ser chamado de desfecho perfeito? Será que Beatriz um dia os perdoaria por tudo o que haviam feito contra ela?

Os dedos de Renato se contraíram, a culpa e a dor o consumindo por dentro.

A própria irmã tinha sofrido tantas tragédias, e ele… Ele ainda a havia protegido pouco e, pior, encoberto quem a feriu.

Ele tinha medo. Medo de que Beatriz jamais pudesse perdoá-los.

Renato baixou um pouco a cabeça, cerrando os punhos com tanta força que as juntas ficaram brancas. O coração disparava, tomado por inquietação e angústia.

Eduardo, por sua vez, se aproximou da janela e também olhou para a figura de Beatriz.

A cena lhe era dolorosamente familiar: pouco tempo atrás, ele já tinha estado naquela mesma posição, olhando por aquele mesmo ângulo, vendo-a tão frágil deitada ali.

Mas, desta vez, era ainda mais grave. Se antes Beatriz parecia uma boneca quebrada, prestes a se despedaçar…

Agora, era como um fantoche sem vida, respirando por um fio, à beira da morte.

Eduardo franziu o cenho, os olhos fixos nela, a mente tomada por uma mistura de emoções.

Sentia-se sufocado, o peito pesado, uma ansiedade amarga e um nervosismo inexplicável.

Ele se perguntou: “Se Beatriz era apenas amiga de Letícia, por que os meus sentimentos estavam tão confusos, tão intensos?

Não deveria ser apenas uma preocupação simples, uma solidariedade comum?”

Por que, então, ele se sentia esmagado, como se algo o prendesse, como se o coração estivesse sendo espremido até doer?

Nunca tinha sentido nada parecido antes.

E mais… Não era algo que surgira apenas hoje.

Desde o momento em que a vira ferida da outra vez, aquela inquietação já se enraizara dentro dele.

Eduardo refletia, analisando-se em silêncio, quando de repente o toque do celular quebrou seus pensamentos.

— Quando minha filha despertar, iremos pessoalmente à família Martins para agradecê-los devidamente, com toda a gratidão que merecem. — Completou Lorena.

— A senhora exagera, Sra. Lorena. — Disse Eduardo. — Mesmo que Beatriz não tivesse nenhum vínculo de sangue com vocês, apenas por ser amiga da minha irmã, já seria motivo suficiente para eu ajudá-la com todas as minhas forças.

Ele não havia estendido a mão por causa da identidade de Beatriz, muito menos buscando algum retorno. O fato de ela ser, agora, revelada como filha legítima da família Cardoso era apenas uma coincidência.

Renato acompanhou Eduardo até o elevador, enquanto Lorena, ficando para trás, segurava a mão de Letícia, agradecendo-lhe com lágrimas e soluços, de forma tão insistente que Letícia chegou a se sentir um pouco sem jeito.

Como não podia entrar no quarto, Letícia permaneceu por ali, sentando-se com os demais nos bancos do corredor.

Os pais da família Cardoso lhe pediram para contar mais sobre Beatriz. E Letícia, um a um, narrou os momentos vividos, desde o início de sua amizade até os dias de hoje.

Renato, de pé ao lado, ouviu tudo em silêncio. Ainda que tivesse em mãos todos os registros sobre a irmã, as palavras de Letícia lhe revelavam uma Beatriz completamente nova, uma Beatriz que ele desconhecia.

Excelente nos estudos, dedicada e esforçada, de coração bondoso e coragem firme, sempre pronta para intervir diante de uma injustiça.

— Tudo isso foi o que vivemos ao longo dos anos. — Concluiu Letícia, emocionada. — Ela é a única amiga que tenho fora do nosso círculo social, a única com quem me relacionei sem qualquer interesse, apenas pela pureza da amizade.