Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 874

Os dois estavam em prantos, chorando de forma dilacerante. A tristeza era tamanha que Beatriz, mesmo confusa, não pôde deixar de achar aqueles rostos familiares.

E, de repente, ligou-os às duas silhuetas que havia vislumbrado em seu sonho anterior.

— Bia, Bia... Minha filha... — A mulher caiu sobre a beira da cama, soluçando com a voz despedaçada. — A culpa é nossa, nós não conseguimos te encontrar a tempo... Deixamos que você sofresse tanto, que passasse por tantas dores...

Beatriz ouvia cada palavra daquela mulher com clareza, tão vívida e intensa que parecia impossível ser apenas uma ilusão.

Em seu íntimo, pensava que talvez fosse a compaixão do céu: “Após uma vida tão marcada pelo sofrimento, a morte me recompensa com um reencontro perfeito, concedendo-me a chance de rever meus pais. Para mim, isso já seria mais do que suficiente.”

Mas, no instante seguinte, escutou a voz do homem, embargada pelo choro:

— Bia... Você voltou para nos procurar, não foi? Voltou ao parque? Nós não sabíamos... Não sabíamos que você ainda estava lá, esperando por nós... Naquele tempo, nós seguimos a trilha dos traficantes de crianças até a cidade vizinha, tentando encontrar seu rastro. Nunca nos passou pela cabeça que você tivesse conseguido escapar sozinha... E menos ainda que voltaria ao lugar de antes, para nos procurar...

Beatriz o encarou, atônita. Ao ouvir aquelas palavras, sentiu como se uma pedra gigantesca fosse lançada em um lago até então sereno, levantando ondas violentas dentro dela.

“Como podia ser?

Se aquilo fosse apenas uma ilusão, como poderiam eles narrar a história de forma tão contínua, tão coerente? E como saberiam de tudo o que acontecera no passado?

Seria possível que tudo isso fosse apenas fruto de sua própria mente?”

A dúvida e a confusão tomaram conta de Beatriz, mas logo a voz da mulher voltou a soar, impregnada de rancor:

— A culpa de tudo é daquela desgraçada da Vitória! Aquela víbora de coração venenoso! Ela tomou o seu lugar, roubou o colar que demos a você quando criança, levou até o seu cabelo... E com isso se apresentou para nós como se fosse nossa filha. E nós... Cegos e tolos, não desconfiamos de nada, não vimos a verdade! Só depois que ela tentou mandar te matar repetidas vezes, causando feridas irreversíveis, foi que descobrimos... Que você é a nossa verdadeira filha...

Beatriz escutava aquelas palavras em estado de choque, a mente completamente em branco.

O quê...?

Sim... Ela já os tinha visto antes, mesmo que de relance.

Recordava-se claramente: fora no aniversário de Letícia, quando apareceram de braços dados com Vitória, um de cada lado.

Então, seria isso? Seu ódio por Vitória era tão profundo, sua impotência tão grande, que sua mente criara um sonho para se vingar?

Um devaneio em que tomava os pais de Vitória para si, ocupando o lugar dela?

Beatriz jamais pensara que fosse capaz de nutrir tal fantasia.

Era verdade que odiava Vitória, que desejava vingança, que sonhava em vê-la atrás das grades.

Mas daquela forma... Disso, Beatriz podia afirmar de peito aberto: nunca, em momento algum, havia cogitado.