Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 933

No corredor, do lado de fora do quarto.

Letícia caminhou de propósito alguns passos a mais antes de parar. Só então soltou a manga da camisa de Renato.

— Como eu disse agora há pouco, foi tudo um acidente. Ninguém podia prever. Agora que a Vitória já foi presa, melhor virar a página e esquecer isso. — Falou, encarando Renato, mas evitando fixar os olhos nos dele.

Na voz firme e tranquila, havia ainda um traço inconfundível de constrangimento.

— Além disso, os pais das duas famílias já chegaram a um acordo. Eu, sinceramente, acho que nem precisava de indenização nenhuma. A culpada de tudo foi a Vitória. — Acrescentou. — E hoje em dia não é mais como nos tempos antigos. Você não precisa se preocupar. No fim das contas, não aconteceu nada de fato.

Renato observava a garota à sua frente. Ela continuava a mesma: franca, espontânea, assumindo sozinha o peso da situação, sem querer que ele carregasse qualquer responsabilidade.

— Mesmo assim, preciso me desculpar. Perdão por ter passado dos limites com você. — Disse ele, inclinando-se levemente numa reverência solene.

— Ontem à noite fui eu quem entrou primeiro no seu quarto, não foi você que veio atrás de mim. Eu devia ter te falado logo que percebi algo estranho, em vez de sair investigando sozinha. — Respondeu Letícia, desconfortável.

No fundo, a vítima era ela mesma. E a verdadeira culpada era a própria mãe.

Se não fosse ela ter arrumado o quarto de Letícia bem ao lado do de Renato, como é que teria ouvido o barulho da porta se fechando?

“Se eu não tivesse ouvido nada, jamais teria ido ao quarto de Renato. E nada daquilo teria acontecido.”

— Pronto, o assunto termina aqui. Ninguém mais fala disso. — Disse Letícia, erguendo o rosto para encarar o homem alto à sua frente.

Renato assentiu em silêncio.

Letícia se virou para voltar ao quarto, mas após dar alguns passos, hesitou e parou.

Depois de muito pensar, decidiu abrir o jogo. Caso contrário, ficaria com aquilo preso no peito.

Lá dentro, Letícia permanecia de pé, um braço cruzado contra o peito, a outra mão sustentando o queixo, com o dedo indicador roçando nos lábios.

Estava ligeiramente distraída. E, por dentro, seus sentimentos eram bem diferentes daquela calma e despreocupação que mostrara há pouco.

Como poderia não ligar? Afinal, fora o seu primeiro beijo...

Jamais pensara que aconteceria assim: roubado, em meio ao caos.

A cena vinha à mente sem pedir licença. A respiração sendo tomada, os lábios e a ponta da língua ardiam, doridos e dormentes. E ela, impotente, incapaz de afastar Renato...

Não era um beijo. Fora bruto, feroz, quase selvagem.

Mais parecia ter sido devorada viva.