Ficar ou correr? romance Capítulo 136

"Você não entende!", ele falou num tom de deboche, com uma dor visível no rosto. Mas eu entendia. Mesmo que o sol brilhasse, alguém que trazia escuridão e solidão em seu coração, jamais conseguiria se agarrar à sua luz. Ele não conseguia me deixar ir, não porque me amava, mas porque ele sentia que eu seria igual a vovó. Nós nunca o expulsamos, não importa o quão desprezível ele fosse. A casa em Passo Largo seria para sempre sua casa. Ele não se sentia aceito, e era por isso que se sentia só.

Sentindo que alguém me olhava, me virei e vi Pedro olhando para nós dois da entrada. Puxei minha mão e me afastei de Marcelo. Foi instintivo; eu sabia que não havia razão para fazer aquilo, já que talvez Marcelo nem se importasse No entanto, era um hábito do qual não conseguia me livrar. Olhando para Marcelo murmurei:

“Vá embora. Enterrei a vovó no Cemitério Parque dos Girassóis. Se você está com saudade dela, vá visitá-la.” Então, notei seu rosto sem expressão, a não ser pela solidão que transparecia em seus olhos. “Marcelo, tudo o que passou só pode ficar no passado. Não podemos voltar no tempo. Só podemos seguir em frente. Se continuarmos nos apegando às nossas memórias, causaremos a nossa própria tristeza e não teremos força para mais nada.”

Depois que a vovó faleceu, nunca mais voltei para a casa em Passo Largo. Naquele momento eu sou que estava sozinha neste mundo. Eu era como uma folha no vento. Não importava o quanto eu lutasse, no final do dia, alguém me levantava só para me derrubar de novo. Então, sem olhar para trás, entrei na mansão.

Fiquei quinze dias fora, mas nada havia mudado. A única diferença eram as flores frescas, elas deixavam a casa um pouco mais animada. A Sra. Espíndola parecia estar muito mais cansada do que da última vez em que a vi. Ao me ver, ela rapidamente olhou par Pedro atrás de mim antes de sorrir.

"Vocês ficaram fora por tanto tempo. Quinze dias! Estava começando a pensar que esta não era mais a casa de vocês." Depois de uma pausa, ela suspirou: "Estou feliz que vocês dois estejam de volta."

Era uma tarde quente, e o calor me deixou inquieta. Não tinha nada para dizer, para começar, e agora, estava até começando a me sentir cansada. Depois de uma breve conversa, fui para o quarto. Pedro me seguiu, mas não falei com ele. Tudo o que fiz foi subir na cama e fechar os olhos, me preparado para dormir. Pensei que ele diria alguma coisa ou que até mesmo perderia a paciência, mas ele não disse uma única palavra. O quarto estava num silêncio absoluto. Depois de um momento, senti o lado da cama afundar. No segundo seguinte, fui puxada para os braços dele. Logo, ouvi o som da sua respiração regular, e adormeci.

Precisava apenas de um cochilo, então acordei cerca de uma hora depois. Quando abri os olhos, vi Pedro olhando diretamente para mim. Fiquei quieta, observando-o silenciosamente.

Por quanto tempo tenho olhado para ele assim?

De repente, ele acordou e nossos olhos se encontraram, enquanto eu prendia a respiração.

"Você está acordada." ele disse. Como ele tinha acabado de despertar, sua voz ainda estava rouca. Ele ergueu a mão e puxou as mechas soltas para trás da minha orelha, antes de continuar a olhar para mim. Depois de um tempo, comecei a me sentir desconfortável com seu olhar silencioso, então pigarreei. Apoiando-me no cotovelo, estava prestes a sair da cama quando ele me segurou. Ele ergueu a sobrancelha e perguntou: "Onde você está indo?"

"Eu vou sair da cama." Tentei me levantar mais uma vez, mas ele me puxou para de volta para a cama novamente. Fechando a cara, eu bufei: “Pedro, me solta!"

No entanto, ele pareceu não me ouvir. Ele me segurou na cama e sua mão deslizou pela minha barriga. Estava grávida de cinco meses agora, e começava a sentir os movimentos do bebê dentro de mim. Sentindo o bebê se mexer, um sorriso radiante surgiu em seu rosto. Ele exclamou:

"O bebê está se mexendo!"

Ele parecia uma criança, e eu não pude deixar de rir: “Sim. Eu quero sair da cama.” Com seu humor revigorado, ele se sentou e me ajudou a sentar enquanto me recostava na cabeceira da cama. Pedindo com as mãos para que eu não me movesse, ele então colocou a orelha no meu estômago.

Depois de alguns segundos, ele sorriu e olhou para mim. "Dói quando o bebê se mexe?

Fiquei boquiaberta. Será que os homens têm um cérebro?

“Se você realmente está curioso, pode ler alguns livros sobre gravidez. Talvez possa aprender algo com isso e possa usar seu conhecimento no futuro.” Então, me preparei para sair da cama novamente.

Naquele momento, ele me abraçou por trás. "Fica mais um pouco." Eu agarrei seus braços, puxando-os, e franzi a testa quando notei as marcas em sua pele. Pareciam arranhões. As feridas tinham cicatrizado, mas ainda estavam um pouco vermelhas. Percebendo meu corpo enrijecido, ele seguiu meu olhar até seus braços. Puxando os braços para longe, ele disse: "O que você quer comer mais tarde?"

Fiquei em silêncio. Aparentemente preocupado que eu pensasse demais sobre aquilo, ele se sentou ao meu lado e segurou minha mão. Ele segurava minha mão com carinho, apertando-a levemente enquanto a acariciava em silêncio.

"Isso foi para proteger Rebeca?" Talvez fosse uma pergunta muito direta, mas não conseguia pensar em outra maneira de abordar o assunto. Ele ficou tenso por um momento. Ao sentir a sua hesitação, puxei minha mãe e suspirei: “Vou tomar um banho."

Talvez o silêncio fosse a melhor resposta, qualquer coisa seria melhor do que ele me contar que todos os seus ferimentos eram por causa de Rebeca. Preferia não saber de nada.

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