Ficar ou correr? romance Capítulo 232

"Não!", falei, balançando a minha cabeça, discordando.

Ele sorriu, mas permaneceu em silêncio. Pela primeira vez, percebi que Marcelo gostava de conversar, visto que ele falou à tarde toda. Como o assunto relacionado ao projeto de IA foi resolvido, eu também não estava com pressa de ir embora. Então, o ouvi atentamente, com o queixo apoiado na palma da minha mão.

“Letti, estive pensando, durante todos esses anos, qual é o meu lugar no mundo, e você foi sempre a única pessoa a vir à minha mente. Por isso acredito que jamais conseguirei deixá-la ir."

Apenas olhei para ele, sem saber o que dizer. “É só dar um passo de cada vez”. Por fim, respondi de forma concisa.

Não podia fazer promessas vazias quanto ao seu futuro, quando a minha própria vida chegara a um beco sem saída. Se não fosse pelo ódio que me alimentava, eu não estaria viva. Por isso, nunca prometia nada a ninguém. Tornei-me um ser egoísta, não queria lhe dar nem mesmo um pingo de esperança.

“Você está cansada? Quer que eu te leve para casa agora?", ele perguntou, notando a minha exaustão. Assenti, aceitando sua oferta, e saí do restaurante com ele.

Ao longo do caminho, comecei a me sentir sonolenta. Ele parou de falar e colocou uma música suave para me ajudar a cochilar. Encostada no banco, fechei os olhos e tentei dormir. No entanto, provou ser algo impossível. Na maioria das vezes, ficava deitada na cama, acordada, então adormecer no carro estava fora de questão. Por mais que eu estivesse com sono, eu simplesmente não conseguia cair no sono. Quando o carro parou, instintivamente abri meus olhos, apenas para ver Marcelo saindo com um olhar escuro em seu rosto. A figura imponente de Pedro estava parada na frente do carro. Ele parecia um pouco abatido e parecia ter esperado na entrada do residencial por um longo tempo.

Marcelo tinha muita raiva reprimida, então, assim que saiu do carro ele ergueu o punho e socou Pedro sem qualquer cerimônia. Apesar disso, Pedro não revidou, permitindo que Marcelo batesse nele o quanto quisesse. Não pretendia interferir. Apenas permaneci no carro, meu coração tão duro quanto uma pedra e meu rosto completamente desprovido de emoção. Depois de algum tempo, Marcelo caiu no chão ao lado de Pedro, provavelmente por exaustão. Mesmo assim, sua raiva ainda não havia diminuído quando ele rugiu furiosamente:

"Nunca conheci um filho da mão pior do que você, Pedro de Carvalho!"

Pedro permaneceu em silêncio e lentamente se levantou. Embora ele tivesse sido espancado, ainda transmitia um ar de realeza. Enquanto ele se levantava e ficava em frente ao carro, ele olhou para mim com os olhos escuros. Quando nossos olhos se encontraram, não senti amor, apenas a pressão de memórias amargas que ameaçavam me dominar. Nós nos encaramos por um longo tempo antes de eu ceder e sair do carro. Andei em direção a ele e disse em um tom cortado:

“Por favor, afaste-se. Precisamos passar!” Ele estava bloqueando a entrada, e não poderia fazer com que o carro voasse sobre ele.

Ele agarrou minha mão com a força, a força com que ele me segurava aumentando gradualmente, fazendo com que a dor que eu começava a sentir se espalhasse. Depois de olhar para mim por um longo tempo, mágoa brilhando em seus olhos quando ele forçou as palavras:

“Scarlett, esta não é sua casa”.

Comecei a tremer, mas não por causa dele. Provavelmente era devido ao frio. Senti vontade de rir, mas minha voz estava presa na garganta. Meus olhos ardiam, com lágrimas iminentes se acumulando em meus olhos, me desvencilhei dele com todas as minhas forças, mantendo minhas emoções sob controle antes de falar: "Claro. Você pode ficar aí se quiser morrer!” Em seguida, entrei no carro. Marcelo deixou as chaves na ignição, então liguei o motor e olhei para o homem parado, imóvel, na frente do carro. "Saia da frente!", gritei.

Seus olhos vazios brilharam ligeiramente quando ele disse:

"Ainda não é tarde demais para sair da frente!" Parei, estreitando meus olhos uma fração antes de continuar: "Porque eu vou te atropelar."

Estou sendo imprudente? Não, eu sei o que estou fazendo. Semicerrando os olhos, levantei o pé e pisei o acelerador. O amor era realmente aterrorizante e estúpido ao mesmo tempo. Estúpido porque logo antes do carro atingi Pedro, virei o volante para o lado e bati no canteiro de flores na beira da estrada. Esse ato suicida fez minha cabeça zumbir. Senti uma dor aguda no meu peito antes que algo quente surgisse na minha garganta. Cuspi um bocado de sangue e caí fracamente no volante, perdendo gradualmente a consciência. Tudo aconteceu tão rápido, e podia ouvir vagamente dois gritos ansiosos.

As vozes de Pedro e Marcelo soaram em uníssono. Quando acordei, estava no hospital. Meu corpo inteiro doía. Olhando para o teto, comecei a me odiar porque não consegui matar a pessoa que mais desprezava. Que inútil. Virando-me para olhar para a pessoa de pé ao lado da minha cama, eu disse arrependida:

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